A intempérie

Henrique Custódio

Há um sarilho à volta de Paulo de Macedo, presidente da CGD desde que o Primeiro-Ministro António Costa o escolheu e nomeou, em 2017. E não é só pela má gestão do banco. A notícia vem no Público e resume-se assim.

O Banco Comercial Português (BCP) realizou uma auditoria interna onde também abrangeu os anos de 2008 e 2009, altura em que Paulo Macedo detinha o pelouro dos Recursos Humanos da instituição (mais exactamente, entre Setembro de 2008 e Maio de 2009).

Essa auditoria interna concluiu que Paulo Macedo estará na origem da contratação alegadamente fictícia de João Conceição, na altura assessor do então ministro Manuel Pinho, titular da Economia no Executivo de José Sócrates.

O relatório desta auditoria foi remetida para o Banco de Portugal, o que parece ter sofrido de atrasos desmesurados, em relação ao envio para o Departamento de Investigação e Acção Penal (DCIAP), que seguiu de imediato. Após mais de mês e meio sobre o envio ao DCIAP, o actual presidente do BCP, Manuel Maya, deu finalmente a conhecê-lo ao Banco de Portugal a semana passada.

Desenrolando o novelo destas andanças das (sempre «presumíveis») corrupções em altos cargos da banca ou da política: o relatório da auditoria do BCP é «explosivo» pois tem no centro Paulo Macedo, actual presidente da CGD, envolvido na possível contratação irregular de João Conceição, a quem o BCP terá pagado, ao longo de nove meses, um total de 153 mil euros por um trabalho que nunca exerceu, por estar ocupado a assessorar o ministro da Economia, Manuel Pinho (que terá recebido do BES cerca de um milhão de euros, parte quando era ministro).

Novamente se cruzam nomes com envolvidos em processos judiciais, como é o caso de Manuel Pinho ou do BES. Manuel Pinho, como ministro da Energia, tinha responsabilidades directas na EDP, onde o Estado era accionista. Por outro lado a EDP era accionista do BCP, tendo inclusive assento no conselho de administração do banco, enquanto o BES também era accionista da EDP…

Se resumirmos a trajectória pública de Paulo Macedo, concluiremos que se tornou mestre em passar entre os pingos da chuva, desde auferir 24 mil euros/mês para pôr o Fisco na afinação da cobrança, até esmifrar o SNS com a sua passagem pelo Ministério da Saúde.

António Costa escolheu este homem para a CGD por causa dos pingos da chuva? Agora arrisca-se a uma intempérie...




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