Na hotelaria do Algarve greve foi duplo aviso
LUTA A greve regional de dia 1, na hotelaria do distrito de Faro, comprovou que há descontentamento e que os trabalhadores compreendem a importância da acção colectiva e em unidade.
A greve fez-se sentir um pouco por todo o sector na região
O Sindicato da Hotelaria do Algarve, com a convocação da greve a nível regional – uma forma de luta sem antecedentes há muitos anos –, quis alertar os trabalhadores para a necessidade de mostrarem o seu descontentamento numa luta convergente.
Por outro lado, como também explicou ao Avante! o coordenador do sindicato, Tiago Jacinto, a boa adesão à greve constitui um aviso aos dirigentes patronais, que será confirmado nos próximos tempos, através do desenvolvimento da acção e da luta nos locais de trabalho, designadamente para defesa de cadernos reivindicativos.
«Sabíamos há muito tempo que há descontentamento e notamos que tem vindo a aumentar, não há um sítio onde o sindicato vá que os trabalhadores não se queixem», relatou o dirigente. Admitindo que «o patamar de partida era baixo», tendo em conta o contexto regional, reconheceu que a adesão à greve «superou as expectativas».
Logo no dia 1, o sindicato destacou que o Inatel, em Albufeira, ficou «praticamente parado devido à adesão quase total»; nos serviços de alimentação dos hospitais de Faro e de Portimão, concessionados ao SUCH, a adesão situou-se entre 60 e 70 por cento; na manutenção do Golfe Quinta do Lago foi de cerca de 50 por cento.
Durante a concentração que teve lugar na tarde dessa quinta-feira, junto à sede do sindicato, no Jardim da Alagoa, em Faro, e na qual também interveio o Secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos, foram ainda referidos aos jornalistas alguns exemplos de níveis de adesão «menos expressivos, mas com impacto nos serviços»: os hotéis Faro, D. Filipa, Alvor Praia e Delfim (estes dois do Grupo Pestana), o serviço de catering do Aeroporto (Restflight). Nessa ocasião, Tiago Jacinto salientou que «um pouco por toda a região se sentiu a greve».
Ao Avante! o coordenador do sindicato referiu com mais detalhe a luta no Amendoeira Golf Resort (Alcantarilha, Silves), realçando que a adesão foi total entre os caddies (carregadores de tacos que acompanham os jogadores), chegou a 90 por cento na manutenção e foi forte também noutras secções.
Tiago Jacinto confirmou-nos que ocorreram «algumas coisas mais pequenas, outras até espontâneas e envolvendo trabalhadores não sindicalizados», como sucedeu com a paralisação dos empregados de mesa no resort Vila Lara (Porches, Lagoa), pelo que «terá havido certamente lutas de que não temos ainda conhecimento».
Reforçada com esta jornada de luta, a acção sindical vai prosseguir em duas direcções, adiantou o dirigente: «Vamos pedir novas reuniões às associações patronais AIHSA e AHETA», procurando que evoluam nas suas posições, e «vamos continuar a intervenção nos locais de trabalho, para a apresentação de cadernos reivindicativos».
Para os próximos dias já estão decididas greves nos hotéis do Grupo MGM (Muthu), em Albufeira (este fim-de-semana, 10 e 11) e no Inatel (greve nacional a 16 de Agosto).
Na tarde de 1 de Agosto, a greve ganhou mais visibilidade com a concentração realizada em Faro, onde uma delegação do PCP, com Tiago Raposo, 1.º candidato da CDU no Algarve, expressou solidariedade à luta
Resultados excelentes...
«Não podemos aceitar que os trabalhadores, que são quem cria a riqueza, sejam os únicos a não beneficiar dos excelentes resultados dos últimos anos da actividade turística» e também da baixa do IVA na restauração, protestou a Fesaht.
A federação da CGTP-IN neste sector reagiu assim, no final de Junho, ao facto de a associação patronal AIHSA, na revisão do contrato colectivo, ter apresentado uma proposta «miserável» de 1,5 por cento de actualização salarial e querer retirar direitos, como o pagamento do trabalho em dias feriados, depois de ter recusado aumentos salariais de 2010 a 2017.
Na mesma altura, na negociação de um novo contrato colectivo, a AHETA respondeu à proposta sindical com uma tabela salarial que preconiza retirada do pagamento do trabalho nocturno, «flexibilização» dos horários para fugir ao pagamento de trabalho suplementar, aumento do período experimental, retirada da terça-feira de Carnaval e do feriado municipal.
Ambas as associações patronais apresentaram tabelas salariais com valores inferiores ao salário mínimo nacional, o que colocaria a maioria dos trabalhadores em níveis remuneratórios pouco acima de 600 euros, insistiu o sindicato, ao confirmar a convocação da greve para a data em que muitos começariam as suas férias anuais no Algarve.
Como foi salientado na concentração de 1 de Agosto, há trabalhadores cujos salários não aumentam há mais de 10 anos, os horários de trabalho estão desregulados, as jornadas são longas e os ritmos de trabalho são intensos, enquanto metade do pessoal está sujeito a vínculos laborais precários.
Foi para esta realidade que as estruturas da CGTP-IN quiseram chamar a atenção, no dia 1, exigindo que seja reconhecido e valorizado o trabalho de quem «dá a cara» pelo Algarve e faz florescer o turismo.