Faleceu na segunda-feira, 29 de Julho, aos 85 anos, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Manuel Louzã Henriques, abnegado resistente antifascista e militante comunista, como referiu a Direcção da Organização Regional de Coimbra do PCP, numa nota de pesar emitida nesse dia.

Nascido a 6 de Setembro de 1933 no Coentral (Serra da Lousã, concelho de Castanheira de Pêra), Louzã Henriques foi viver para Coimbra em meados da década de 1940. Em 1954, entrou para a Faculdade de Medicina.

Participou activamente em diversas lutas estudantis, como a luta da Academia, em 1957, contra o «decreto 40 900», e foi vice-presidente do TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra).

Membro activo do MUD Juvenil, filiou-se no PCP em 1958. Integrou a comissão de apoio à candidatura de Arlindo Vicente e, nessa qualidade, integrou o apoio à candidatura de Humberto Delgado.

Concluiu Medicina em 1959 e a especialidade de Psiquiatria em 1961.

Preso pela PIDE, esteve no Aljube, em Caxias e Peniche, de 1962 a 1965. Depois, na clandestinidade, desempenhou tarefas na organização do Partido e na construção de unidade antifascista. Em 1962, foi candidato da Oposição democrática. Foi candidato do PCP à Assembleia Constituinte, em 1975, e integrou as listas da APU e da CDU em vários actos eleitorais posteriores.

Dedicou grande parte da sua vida à cultura popular. Tocou guitarra de Coimbra em formações musicais estudantis. Tocava concertina e cultivou um gosto especial pelos concertineiros da Serra da Lousã. Participou em encontros de cultura popular oral, deu apoio ao Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) e à Brigada Victor Jara. Desde 1978, foi palestrante nos primeiros «Seminários de Fado de Coimbra», cuja evolução acompanhou de perto.

Na década de 1960 começou a coleccionar instrumentos musicais populares e alfaias agrícolas, em contraponto ao discurso oficial fascista da «felicidade do povo». Os artefactos rurais, cedidos à Câmara Municipal da Lousã, foram incorporados no Museu Etnográfico Dr. Louzã Henriques. Os instrumentos musicais, cedidos ao Museu Municipal de Coimbra, estiveram expostos na cidade, entre 2004 e 2013, no antigo posto de turismo (Largo da Portagem), e na Festa do Avante! (Espaço Central) em 2017.

Louzã Henriques possuía um importante espólio de máquinas de escrever, instrumentos médicos e máquinas de reprodução sonora (expostas em 2014 no Museu Nacional Machado de Castro). Acompanhava a exposição regular dos seus objectos com palestras de relevante valor cultural.