Caravanas de doentes rumam ao Canadá

António Santos

En­grossam, a cada se­mana, as ca­ra­vanas au­to­mó­veis de do­entes es­tado-uni­denses que, sem que qual­quer muro lhes trave o passo, atra­vessam a fron­teira com o Ca­nadá para com­prar me­di­ca­mentos. Um frasco de in­su­lina de que de­pendem os di­a­bé­ticos, re­velou o Washington Post esta se­mana, custa agora 1000 dó­lares nos EUA e 10 dó­lares do outro lado da fron­teira, mas dis­pa­ri­dades aná­logas es­tendem-se a cada vez mais me­di­ca­mentos: al­guns dos fár­macos es­sen­ciais para a so­bre­vi­vência de pes­soas com SIDA custam cin­quenta vezes mais em terras de Trump do que nos do­mí­nios ame­ri­canos de Isabel II, en­quanto os me­di­ca­mentos que fre­quen­te­mente acom­pa­nham a qui­mi­o­te­rapia custam o dobro em ter­ri­tório ianque. Para mi­lhares de ci­da­dãos dos EUA que se juntam para atra­vessar a fron­teira e para com­prar me­di­ca­mentos, estas di­fe­renças de preços são a di­fe­rença entre a vida e a morte.

A ten­dência é alar­mante: nos EUA, entre 2012 e 2016, só a tí­tulo de exemplo, du­pli­caram os preços de todos os me­di­ca­mentos para a di­a­betes tipo 1. À mercê de um sis­tema de saúde pri­vado que deixa os do­entes por sua pró­pria conta e risco, mi­lhares de di­a­bé­ticos des­locam-se, vindos de todos os Es­tados, em longas ca­ra­vanas para cru­zarem juntos a fron­teira ca­na­diana e se abas­te­cerem de me­di­ca­mentos. Mas por que estão os preços de me­di­ca­mentos tão an­tigos como a in­su­lina, cujo se­gredo está des­ven­dado há um sé­culo, a dis­parar?

A culpa não está em quais­quer san­ções eco­nó­micas como as que, im­postas estes dias pela UE, im­pedem hos­pi­tais ve­ne­zu­e­lanos de se abas­te­cerem. Nem se trata tam­pouco de um blo­queio como aquele que, as­fi­xi­ando Cuba, im­pede a ilha so­ci­a­lista de aceder di­rec­ta­mente aos prin­ci­pais la­bo­ra­tó­rios far­ma­cêu­ticos do mundo. Nem se­quer se deve a uma guerra, como a que, in­fli­gida à Síria, des­ta­bi­lizou toda a rede de saúde e far­má­cias. Não, a crise hu­ma­ni­tária dos di­a­bé­ticos es­tado-uni­denses é o re­sul­tado pre­visto do ca­pi­ta­lismo a fun­ci­onar em con­di­ções ideais, dentro da le­ga­li­dade e da nor­ma­li­dade.

Quando a bolha es­pe­cu­la­tiva dos novos ne­gó­cios da In­ternet co­meçou a apre­sentar fis­suras, os abu­tres da fi­nança lan­çaram-se na pro­cura de uma nova car­caça. Entre os ne­gó­cios mais su­cu­lentos para estes ne­cró­fagos de «ca­pital morto», como um dia es­creveu Marx, per­fi­laram-se, entre ou­tros, os in­ves­ti­mentos em dí­vida, no mer­cado da ali­men­tação e nos me­di­ca­mentos. Estes dois úl­timos per­mitem criar for­mi­dá­veis novas bo­lhas es­pe­cu­la­tivas com duas ca­rac­te­rís­ticas eco­nó­micas cu­ri­osas: a pro­cura sub­mete-se ri­gi­da­mente ao preço da oferta porque se trata de uma mer­ca­doria de pri­meira ne­ces­si­dade sem a qual o con­su­midor (leia-se «o pro­le­ta­riado») não so­bre­vive e, em se­gundo lugar, se al­guma coisa correr mal quem não so­bre­vive é, lá está, o con­su­midor.



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