JCP reforça a luta dos jovens trabalhadores
JUVENTUDE Sob o lema «Pelo trabalho estável e com direitos: mais organização, mais luta!», no sábado, 19 de Janeiro, em Lisboa, teve lugar o Encontro Nacional da Juventude Trabalhadora, promovido pela JCP.Largas dezenas de jovens, muitos comunistas,trouxeram à discussão a realidade vivida nos locais de trabalho.
O Governo PS quer legalizar a precariedade
O som e a vibração do passar das composições davam conta do local onde decorria a acção: no Clube Ferroviário. Na ordem de trabalhos o ponto era único: «A situação dos jovens trabalhadores. Problemas, aspirações, reivindicações. Acção, organização e luta!».
Durante todo o dia, estiveram em debate temas como o desemprego, a precariedade, os baixos salários, os ataques às liberdades democráticas nas empresas e locais de trabalho, entre outras ameaças e desigualdades com que os trabalhadores, particularmente os mais jovens, são confrontados diariamente.
Avanços e recuos
A intervenção de abertura coube a Carolina Parreira, da Direcção Nacional (DN) da JCP. No quadro de preparação do Encontro, «chegámos a dezenas de empresas, recrutámos, sindicalizámos e contactámos com milhares de trabalhadores», procurando «contribuir para o reforço da luta, não só nos locais de trabalho, mas também na rua», recordou.
Sobre a nova fase da vida política nacional, destacou que «da luta dos trabalhadores, do povo e da intervenção decisiva do PCP» resultou um conjunto de avanços, nomeadamente o aumento do Salário Mínimo Nacional de 485 para 600 euros (aquém do que o Partido propõe); a reposição integral dos salários, reposição das 35 horas e avanços no combate à precariedade na Administração Pública e no Sector Empresarial do Estado; a redução do IRS para os rendimentos mais baixos; a reposição integral dos feriados roubados; o pagamento por inteiro dos subsídios de Natal e de férias.
«A prática mostra-nos que não se vai mais longe devido às opções de classe do PS e do seu governo minoritário, que encontra no PSD e no CDS a conivência para não avançar mais na reposição e conquista de direitos», acusou Carolina Parreira.
Para ilustrar o agravamento da exploração de que os jovens trabalhadores são vítimas, a comunista referiu a proposta do PS de alteração da legislação laboral, que tem como objectivo aumentar para 180 dias o período experimental, «aprofundando ainda mais a precariedade entre a juventude».
Por outro lado, acrescentou, «são muitas as empresas e locais de trabalho onde a democracia não entra, atacando-se o direito à sindicalização, impedindo-se os trabalhadores de participar em plenários, bem como o direito à greve». «A única forma de combater todos esses ataques é através da luta», apelou.
Ano de trabalho
Quase a terminar, Vasco Almeida, do Secretariado da DN da JCP, alertou para os «tempos duros que se avizinham» e apelou à sindicalização dos jovens trabalhadores nos sindicatos de classe da CGTP-IN.
Aliado ao reforço do movimento sindical unitário e da luta, «temos de traçar linhas concretas de intervenção, contacto com trabalhadores e recrutamento para a JCP e para o Partido», apelou, frisando: «Se é certo que a JCP reforça a luta dos trabalhadores, mais certo é que a luta reforça a JCP e o Partido».
Abordando as batalhas que se avizinham, nomeadamente eleitorais – eleições para o Parlamento Europeu (26 de Maio), Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira (22 de Setembro) e Assembleia da República (6 de Outubro) –, o jovem comunista antecipou «um ano de muito trabalho», mas também de grandes potencialidades para o desenvolvimento da luta. «Devemos ir ao contacto com os jovens trabalhadores e a juventude afirmando o papel crucial que o PCP e o PEV tiveram nestes últimos três anos e nos avanços que se alcançaram», apelou.
Em «marcha» está, igualmente, o Dia Nacional da Juventude, no dia 28 de Março, para celebrar «a resistência e a luta da juventude contra o fascismo», bem como o Dia Internacional da Mulher (8 de Março), que este ano terá como momento alto uma manifestação nacional em Lisboa no dia 9 de Março, o 25 de Abril e o 1.º de Maio.
«O ofensiva ideológica começa no berço»
Interpretando cada uma das mais de 30 intervenções que foram proferidas durante os trabalhos, João Frazão, da Comissão Política do Comité Central do PCP, começou por afirmar que a «exploração» é a «base da concentração da riqueza no capitalismo. Pegando na expressão «Na Sonae somos números», o dirigente acrescentou que para algumas empresas os trabalhadores «valem, quase sempre, menos que os restantes meios de produção». Para ilustrar a situação, relatou os casos da Bosch (Braga), da Mephisto (Viana do Castelo) ou da Coindu (Famalicão), onde os trabalhadores «torram com calor no Verão» e «morrem de frio no Inverno», enquanto «meia dúzia de máquinas estão separadas com ar condicionado». «Hoje a exploração é maior do que há cem anos», referiu.
Neste quadro, ganha actualidade as manobras de divisão dos trabalhadores que estão em curso no nosso País, no quadro da ofensiva global do capitalismo. «A ofensiva ideológica começa no berço», alertou João Frazão, lembrando que o capital «utiliza todos os meios e instrumentos que tem ao seu alcance» para «assegurar que a exploração prossiga e aumente». Referia-se, por exemplo, à «divisão» entre trabalhadores da administração pública e dos sectores privados; entre os novos e os mais velhos; entre aqueles que têm o vínculo precário e os que têm vínculo efectivo.
A este propósito, falou da manobra de divisão dos trabalhadores, a que chamam de «greve feminista», no dia Internacional da Mulher, que procura «colocar as mulheres contra os homens e afastar a luta do combate à exploração». «É uma manobra que está em grande desenvolvimento» e que «procura pôr em causa a noção de greve», alertou o dirigente comunista.
Neste «ano de grandes decisões», com «três importantes batalhas eleitorais pela frente», João Frazão falou da importância de reforçar o PCP e a CDU para «reforçar a capacidade de intervenção e defesa dos trabalhadores e do povo». Dai a importância da campanha nacional que os comunistas têm em curso para contactar cinco mil trabalhadores e lhes apresentar as razões que justificam a adesão e reforço do PCP. «Vamos à luta camaradas», apelou no final.
Vitórias conquistadas a pulso
Num documento de apoio, aprovado por unanimidade pelos jovens comunistas, lembra-se que desde o último encontro, em 2015, foram desenvolvidas «milhares de acções» concretas, «com concentrações, paralisações, greves e outras acções, em defesa e luta pelos cadernos reivindicativos, por aumentos salariais, contra a precariedade, pela redução dos horários de trabalho, em defesa dos serviços públicos e das funções sociais do Estado».
Entre outras empresas, refere-se o «envolvimento» e «acção» de milhares de jovens trabalhadores em empresas e sectores como a EMEF; a CP; a IP; a Autoeuropa; a Visteon; a Honon; os CTT; os centros de contacto da PT/MEO, da NOS, da EDP, da Teleperformance e da Reditus; a EMEL; a Administração Pública e Local; os professores; os enfermeiros; os médicos; os investigadores; as superfícies comerciais; os guardas florestais; a Grunding; a Portway; a Bosh; a GroundForce; a Saint Gobain; a Inapal Plásticos; a OGMA; a Iberlin; a TAP; os hotéis MGM; a Mitsubishi, as minas da Somincor e da Panasqueira; da Panrico e da Bimbo; a Carris; o Metro de Lisboa; a STCP; a Celcat; a Thyssenkrupp; a EXIDE; a FNAC; o Dia/Minipreço; a Jerónimo Martins e a Sonae.
Valorizada foi, também, a luta das trabalhadoras da Triumph, que «resistiram durante semanas à porta da empresa até ao último segundo contra o encerramento da fábrica, num grande exemplo de determinação e coragem».
Os jovens comunistas destacam, ainda, a fixação do salário mínimo de entrada na Mitsubishi nos 800 euros (2016); os aumentos, entre 180 e 260 euros, conseguidos na ArLiquido, em Sines (2016); os 30 euros de aumento na EXIDE (2018). Em 2017, 51 trabalhadores passaram a efectivos na Petrogal, 77 passaram aos quadros na DHL, seis no El Cort Inglés, 32 na Tabaqueira e 35 na General Electric. Foram ainda repostas as 35 horas para a Administração Pública (2016), assinado o Acordo de Empresa na EMEL (2017) e fixado, em inúmeras empresas, o salário mínimo de entrada nos 600 euros (em 2017 e 2018).
Relatos na primeira pessoa
«Apesar do abafamento e a calúnia das estruturas representativas dos trabalhadores, 500 jovens trabalhadores tiveram a coragem e deram o passo de sindicalização em 2018». Luís Ventura
«É essencial que os jovens trabalhadores se organizem na Interjovem/CGTP-IN». Luís Lourenço
«Na Sonae somos números e não somos tratados como pessoas». Iuri Pinto
«Precisamos de medidas concretas de valorização da nossa profissão (bombeiros voluntários)». Ana Ganchinho
«É importante termos em conta a organização dos jovens desempregados». Ana Valente
«As propostas do PCP e da CGTP-IN para um salário mínimo nacional de 650 euros em 2019 são inteiramente realizáveis». João Jerónimo
«O voto na CDU é, pois, um voto na política de defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo». Jorge Pinto
«A taxa de precariedade na região de Setúbal é de cerca de 40 por cento, superior à média nacional». João Serra
«O Barreiro praticamente não produz. Décadas de política de direita reduziram a cinzas um dos maiores focos de produção e riqueza nacional». Frederico Ribeiro
«A ofensiva está lá, mas, como antes, a JCP também está, ao lado dos trabalhadores e da juventude». Beatriz Tadeu
«O tecido industrial (do distrito de Braga) é dominado por pequenas e médias empresas, caracterizadas por uma enorme dispersão e precariedade (58 por cento são jovens). As remunerações são inferiores em 20 por cento à média do continente». Alexandra Pinto
«Só com o PCP mais forte e com mais luta revogaremos a caducidade da contratação colectiva e a eliminação do principio do tratamento mais favorável ao trabalhador». Filipe Machado
«É de extrema importância combater a desregulação do horário de trabalho». Sara Ramos
«A nossa intervenção nas empresas fortalece no imediato a organização e acrescenta informação para a discussão colectiva». Rui Baião
«São muitas as tentativas para quebrar a unidade e infiltrar dúvidas e divisões que atrasem, não só as conquistas, mas o desenvolvimento da consciência de classe e política». Inês Branco
«Os trabalhadores da Hermar, com confiança no seu sindicato, batem-se, não só, por aumentos salariais, mas também pela reposição, pelo menos, de sete anos de subsídio de turno que ficaram nos bolsos dos patrões». Filipe Machado
«Cabe aos comunistas chegar à fala com cada um dos trabalhadores para lhes explicar a condição da sua classe, a importância da luta e os seus direitos». Filipe Silva
«Há mais de 10 anos que os ferroviários não são aumentados». Tiago Matos
«O desenvolvimento de lutas concretas deve ser o objectivo constante de qualquer colectivo em que participe um comunista». Diogo Silva
«Urge reforçar a organização e a intervenção junto da juventude para transformar o descontentamento e o sofrimento em luta». Tiago Figueiró
«A organização e a luta são fundamentais para o nosso futuro e para a conquista de novos direitos». Paulo Nunes
«Tenho 22 anos. Comecei a trabalhar aos 15 por necessidade. Ilegalidade foi uma palavra que sempre acompanhou a minha vida profissional». Nadine Santos
«A situação na região de Coimbra é marcada pelos baixos salários, precariedade e desregulamentação dos horários de trabalho». Francisco Baião
«Comecei a trabalhar a recibos verdes na Administração Pública, realizando tarefas especializadas e num posto de trabalho permanente». Ana Celina
«No Rio Sul Shopping (Seixal) a situação dos jovens trabalhadores é de horários desregulados, baixos salários, falta de condições de higiene e segurança no local de trabalho e de intimidação por parte das entidades patronais». Ana Inácio
«Nos últimos anos aumentou significativamente o número de farmácias com horário alargado, muitas delas abertas 24 horas, o que tem contribuído para uma crescente desregulação dos horários». Joana Botas
«Também em Santarém, o part-time está na moda. As empresas, raramente, contratam de maneira efectiva. Toda esta incerteza laboral causa estagnação social». Carlos Ferreira