EUA ameaçam intervir no Congo
Em Kinshasa, um forte dispositivo militar concentrou-se na terça-feira, 8, à volta da sede da Comissão Eleitoral Nacional Independente, onde à noite se reuniu esse organismo.
Esperava-se para as horas seguintes o anúncio dos resultados provisórios da eleição presidencial de 30 de Dezembro na República Democrática do Congo.
Estavam inscritos cerca de 40 milhões de eleitores, que escolheram também deputados nacionais e provinciais, tendo sido registada uma taxa de participação elevada, à volta de 70 por cento.
A votação, marcada antes para o dia 23 do mês passado, decorreu em geral de forma pacífica, apesar de diversos problemas técnicos nas 75 mil assembleias de voto e do adiamento do escrutínio em três zonas, justificado por questões de segurança e pelo risco do ébola.
Entre os 21 candidatos presidenciais, a imprensa congolesa tem apontado como favoritos Emmanuel Shadary, apoiado pela Frente Comum do Congo e pelo presidente cessante, Joseph Kabila, e os opositores Felix Tshisekedi, à frente da coligação Rumo à Mudança, e Martin Fayulu, do movimento Lamuka (Desperta, na língua nacional lingali).
Estes candidatos comprometeram-se a aceitar os resultados saídos das urnas e apelaram aos seus apoiantes para manter a calma. Os serviços de Internet foram suspensos pelas autoridades até ao anúncio oficial do vencedor.
A União Africana exortou os políticos congoleses a respeitar a vontade popular expressa pela votação. A missão de observadores da organização pan-africana, chefiada pelo maliano Dioncounda Traoré, realçou o ambiente positivo em que decorreram as eleições presidenciais, legislativas e provinciais. «As ingerências, os desafios de organização, os problemas políticos e de segurança não se sobrepuseram ao clima de paz», avaliou.
A missão de observadores da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), dirigida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Zâmbia, Joseph Malanji, considerou que apesar das dificuldades logísticas o processo eleitoral foi «relativamente bem gerido», o que permitiu à grande maioria dos congoleses exercerem o seu direito de voto.
Pior esteve a Conferência Episcopal Nacional do Congo, cujo porta-voz anunciou que «os dados à disposição extraídos das actas das assembleias eleitorais consagram a eleição de um candidato como presidente da República», cujo nome, no entanto, não adiantou.
As declarações do representante da Igreja Católica congolesa, classificadas de «irresponsáveis» pelo governo congolês, fizeram crescer as tensões no país, submetido a pressões externas, sobretudo dos Estados Unidos, da Bélgica e da França.
Contribuindo para o clima de tensão, os EUA enviaram para o Gabão um grupo de intervenção, composto por 80 militares apoiados por aviões de combate, prevendo «a possibilidade de manifestações violentas» após a divulgação dos resultados.
Segundo uma carta do presidente Donald Trump aos líderes do Congresso, as tropas estado-unidenses colocadas em Libreville – onde existe uma base militar francesa – «ficam em posição de apoiar a segurança do pessoal e das instalações diplomáticas em Kinshasa». Poderão, «se necessário», ser enviadas mais tropas para o Gabão, a República do Congo ou a República Democrática do Congo, acrescentou o presidente na missiva.