Muitas razões a uma só voz na Avenida e nas próximas batalhas

MANIFESTAÇÃO Em letras brancas sobre pano vermelho, o lema «Avançar nos direitos, valorizar os trabalhadores» abarcava toda a largura da avenida, na faixa transportada por dirigentes da CGTP-IN.

A uma só voz, as razões do trabalho ganharam mais força

A cabeça da manifestação nacional de 15 de Novembro desceu a Avenida da Liberdade umas dezenas de metros atrás do Grupo de Bombos «Os Amigos d'Areia» (da freguesia de Darque, Viana do Castelo) e do primeiro carro de som.

Na ordenação do desfile, iniciado pouco depois das 15h30, predominou a organização por distritos, com as respectivas uniões e seus sindicatos. O grupo da Interjovem, reclamando vínculo efectivo para todos os postos de trabalho permanentes, foi uma primeira excepção a esta norma. Também desfilaram autonomamente grupos de professores, de profissionais das forças de segurança (destacando-se os da PSP e da GNR) e de funcionários judiciais, todos com lutas próprias, incluindo greves, a decorrerem nestes dias.

Em faixas, cartazes e camisolas, foram marcadas as exigências específicas e que, em quase todos os casos, estão na base de lutas sectoriais e em empresas.

Entre os corticeiros de Aveiro, atrás de uma faixa «contra a tortura psicológica», vinha também a trabalhadora que ganhou a luta pelo posto de trabalho e resistiu à brutal pressão patronal para que desistisse de o ocupar.

No distrito de Setúbal, alinharam-se trabalhadores da Washclean, que mantêm vigília no Barreiro, em defesa do património que poderá pagar aquilo que os patrões estão a negar.

De Bragança aos Açores, em todos os distritos marcaram presença trabalhadores das autarquias locais e de vários sectores da Função Pública (administração central). Trabalhadores do sector da hotelaria e turismo, do Norte, do Centro, do Algarve, de Lisboa e Setúbal, mostraram na Avenida o que, desde manhã, tinham já ido exigir a duas associações patronais.

Nos espaços de várias regiões vieram identificados trabalhadores de supermercados e hipermercados (Pingo Doce, Continente, El Corte Inglés, Lidl e Minipreço), mas também mineiros, enfermeiros, trabalhadores ferroviários e rodoviários, bancários (Novo Banco e CGD).

Passaram trabalhadores de empresas industriais no Porto e em Braga, primeiros distritos no desfile, e igualmente em Lisboa, Setúbal, Santarém, Leiria, Aveiro, com nomes como Amarsul, Bosch, Cabelte, Caetanobus, Carnes Nobre, CelCat, Cerealis, EDP (Randstad), Efacec, Fico Cables, FIMA Olá, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Inapal Metal, OGMA, Petrogal, Renault Cacia, Sakthi, Simarsul, Tegopi.

Em vários casos, prevaleceu a identificação dos sectores, como alguns que já referimos e ainda a indústria vidreira, as indústrias têxteis, a cerâmica e cimentos.

Exigências de melhores pensões, em muitos casos identificadas com a Inter-Reformados, também surgiram em vários momentos da manifestação.

Igualmente marcaram presença as lutas contra o encerramento de estações dos CTT, contra as portagens na A23 e na A25, pela modernização da linha ferroviária do Oeste.

Um grupo de agricultores desfilou com a faixa que encabeçara, uma semana antes, a manifestação da CNA em Lisboa. Pescadores de Peniche reclamaram o aumento da quota da sardinha.

Energia no regresso

Terminadas as intervenções no palco, quem estava mais perto dos Restauradores começou a subir a avenida, dirigindo-se aos mais de cem autocarros, enfileirados desde as proximidades do Cinema São Jorge até à Rotunda.
Por momentos, foi como se tivesse começado outra manifestação, enquanto milhares de pessoas ainda faziam o percurso descendente. Mais alguns minutos passados, e a «manifestação a subir» passou a ser uma só. Também nesta marcaram o passo os bombos dos «Amigos d’Areia», que se mantiveram a tocar até muito perto do Marquês.
O ritmo e a energia da manifestação animaram a viagem de regresso e vão dar força às batalhas de todos os dias.

 

Motivos justos para continuar a lutar

«Os trabalhadores têm intervindo e vão continuar a intervir, lutando como hoje estão fazendo as dezenas de milhares que participam nesta grande manifestação nacional e os muitos outros milhares que, fazendo greve, não estão aqui connosco», afirma-se na resolução aprovada na Praça dos Restauradores.

Ao traçar o quadro em que se desenvolve esta luta, a CGTP-IN defende «uma política alternativa que: assegure a justa distribuição da riqueza e valorize o trabalho e os trabalhadores; invista na produção nacional, na reindustrialização e na modernização do aparelho produtivo, para reduzir as importações; reconstitua um forte sector público empresarial; impulsione o crescimento económico e o desenvolvimento social; promova e valorize o interior, avance com a regionalização e acabe com o embuste da transferência de competências para as autarquias; assegure a preservação do meio ambiente e da natureza; melhore os serviços públicos e as funções sociais do Estado, áreas determinantes para um Portugal desenvolvido e soberano».

Por estes objectivos, «vamos continuar a lutar, dando particular atenção ao reforço da sindicalização e da organização sindical de base», e «vamos também intensificar a acção e a luta reivindicativa nos locais de trabalho, empresas e serviços e perspectivar jornadas de convergência e luta sectoriais, tendo como objectivo a satisfação das reivindicações dos trabalhadores».

Entre outras reivindicações, na resolução são referidas:

– O aumento geral dos salários em 2019, em pelo menos quatro por cento, com acréscimo não inferior a 40 euros por mês, e para todos os trabalhadores, incluindo os da Administração Pública, e contemplando a fixação do salário mínimo nacional em 650 euros a partir de 1 de Janeiro;

– A revogação das normas gravosas da legislação laboral, como a caducidade das convenções colectivas de trabalho, e a rejeição das graves alterações inscritas na proposta de lei do Governo;

– O fim da precariedade, aplicando a regra de que um posto de trabalho permanente corresponde a um vínculo laboral efectivo;

– O combate à desregulação dos horários de trabalho, reduzindo para 35 horas semanais a duração normal para todos os trabalhadores;

– A reposição e melhoria da retribuição do trabalho em dia feriado, por turnos e nocturno;

– A garantia de dois dias consecutivos de descanso semanal, em geral ao sábado e domingo, e de 25 dias úteis de férias, no mínimo;

– O combate a todo o tipo de discriminações e a efectivação dos direitos individuais e colectivos;

– O aumento das pensões de reforma e a alteração das regras de acesso, revogando o factor de sustentabilidade e fixando o acesso à pensão de velhice, sem penalização, a todos os trabalhadores com, pelo menos, 40 anos de descontos.

 



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