Reforma sem penalizações para quem muito trabalhou

Adelaide Pereira Alves

DIREITOS O PCP de há muito que se bate pela concretização do direito à reforma antecipada sem penalizações para os trabalhadores com 40 ou mais anos de descontos para a Segurança Social. Um compromisso que tem sido assumido com firmeza e que objectivamente tem determinado os passos que foram possíveis concretizar, nomeadamente os que constam no OE para 2019.

Destaca-se, assim, que entre Outubro de 2017 e Outubro de 2018 foram aprovadas leis que permitiram que mais de 16 mil trabalhadores com muito longas carreiras contributivas tenham muito justamente acedido à reforma, sem qualquer penalização, com uma pensão média atribuída de 789,4 euros e idade média de acesso de 61 anos e 6 meses. Em Outubro de 2017 foram abrangidos, apenas, os trabalhadores com pelo menos 60 anos de idade e carreiras contributivas iguais ou superiores a 48 anos; ou 46 anos de carreira contributiva desde que tivessem iniciado a actividade profissional com 14 anos ou menos. Em Outubro de 2018 este regime foi alargado aos trabalhadores com pelo menos 60 anos de idade e 40 anos de descontos que iniciaram a carreira contributiva com 16 anos ou menos.

A partir de 1 de Janeiro de 2019, os trabalhadores com 63 ou mais anos de idade que reúnam a condição de, aos 60 anos, terem, pelo menos, 40 anos de carreira contributiva, podem aceder à reforma antecipada sem a penalização do factor de sustentabilidade, hoje de 14,5%. A partir de 1 de Outubro poderão aceder a ela todos os trabalhadores com 60 ou mais anos de idade e 40 anos de carreira contributiva cujas pensões tenham tido início a partir daquela data.

Estas medidas representam um importante avanço embora, contra a proposta do PCP, mantenham a penalização de 0,5% por cada mês de antecipação em relação à idade legal da reforma, que em 2019 será de 66 anos e 5 meses.

PCP contra retrocessos
e por mais avanços

Para o PCP estas alterações terão que ser aplicadas com as devidas adaptações aos subscritores da Caixa Geral de Aposentações (CGA). O respeito para com os trabalhadores exige uma clarificação adequada por parte do Governo. Também as declarações do ministro do Trabalho e Segurança Social (MTSS) sobre a intenção de limitar o acesso às reformas antecipadas aos trabalhadores que aos 60 anos não tenham 40 de carreira contributiva, tal como fez o governo PSD/CDS, são preocupantes. Para o PCP esta é uma situação inaceitável, porque profundamente injusta, que visa retirar um direito conquistado que é o direito à reforma antecipada, mesmo que com as penalizações que a lei determine.

O caminho que está a ser feito não pode ocultar que é necessário ir mais longe na garantia do direito à reforma antecipada sem penalizações e, por isso, o PCP não abdica das suas propostas que visam assegurar:

• direito à pensão sem penalizações e independentemente da idade aos trabalhadores que completem 40 anos de descontos;

• eliminação da aplicação do factor de sustentabilidade às pensões por desemprego involuntário de longa duração, bem como a determinação que a estas são aplicáveis as regras mínimas de cálculo do valor em função da carreira contributiva;

• eliminação do factor de sustentabilidade para os pensionistas que foram forçados nos últimos anos a antecipar a sua pensão;

• o alargamento ao conjunto dos trabalhadores das minas (fundo da mina e lavaria) e das pedreiras (extracção e transformação) do reconhecimento do desgaste daquelas profissões, não apenas na idade de acesso à reforma mas também nas condições em que a ela podem aceder, garantindo que não lhes é aplicável o factor de sustentabilidade;

• garantia de que o novo regime abranja os trabalhadores que descontaram para a Caixa Geral de Aposentações.

Valorizar o trabalho e os trabalhadores

São muitos os artigos na comunicação social que, a propósito das reformas antecipadas, enfatizam os impactos financeiros na Segurança Social resultantes do envelhecimento demográfico, ocultando deliberadamente os impactos da injusta distribuição do rendimento entre capital e trabalho e do elevado volume de divida à Segurança Social. São retomados velhos argumentos assentes na promoção dos fundos privados de pensões, nas «poupanças complementares para a reforma» e no «aumento efectivo da idade da reforma», entre outras.

Trata-se de uma instrumentalização dos indicadores para justificar a alteração do actual sistema, visando substituí-lo para ampliar os lucros do capital financeiro através dos fundos de pensões, banca e seguradoras e reduzir direitos de Segurança Social.

Pelo contrário, o PCP não ignora nem subestima os factores económicos e demográficos na Segurança Social, mas avalia as suas causas e responsáveis e luta pela adopção de medidas assentes no combate ao desemprego, criação de mais emprego e valorização dos salários e do salário mínimo nacional. Elas são decisivas para promover o reforço financeiro do regime previdencial.

A confirmá-lo está a a evolução registada nas receitas correntes da Segurança Social, que em 2016 cresceram 5%, em 2017 4% e no 1.º semestre de 2018 registaram um excedente de 1846 milhões de euros. Destaca-se ainda que em 2018 deixou de ser feita a transferência extraordinária do Orçamento do Estado, ao contrário do verificado entre 2012 e 2017. Esta evolução poderia ter ido mais longe se fosse feito um combate eficaz à evasão e dívida à Segurança Social – que em 2017 ascendia já a mais de 11 milhões de euros – e se fossem diversificadas as fontes de financiamento do regime previdencial, nomeadamente com a criação de uma nova contribuição em função da riqueza produzida pelas empresas, como o PCP propôs e PS, PSD e CDS rejeitaram.

O direito à reforma antecipada sem penalizações para os trabalhadores com longas carreiras contributivas é parte integrante do direito a mais e melhor Segurança Social pública para todos. Um combate de que o PCP não abdica e que integra a política patriótica e de esquerda baseada na Constituição da República Portuguesa.




Mais artigos de: Temas

Papiniano Carlos: escritor insubmisso e actuante

EVOCAÇÃO Raras serão as bibliotecas escolares do País que não possuem exemplares do que, ao longo de várias gerações, se tornaria um dos livros com maior número de leitores da nossa literatura para a infância: A Menina Gotinha de Água, poema narrativo que Papiniano Carlos (1918-2012) publicou em 1963, ilustrado por João da Câmara Leme.