- Nº 2339 (2018/09/27)

Aliança unida na África do Sul

Internacional

É importante que a tripla aliança progressista que apoia a governação da África do Sul há 24 anos concorra unida às eleições gerais do próximo ano. Este o apelo do presidente da República da África do Sul e do ANC, Cyril Ramaphosa, na sessão de abertura do 13.º Congresso dos Sindicatos Sul-africanos (COSATU), que decorreu de 17 a 20 deste mês, em Joanesburgo.

Evidenciando a importância do encontro, Ramaphosa assistiu à inauguração dos trabalhos à frente de uma delegação de mais de 20 dirigentes do Congresso Nacional Africano (ANC), entre os quais o vice-presidente David Mabusa, o coordenador nacional Gwede Mantashe, o tesoureiro Paul Mashatile, o secretário-geral Ace Magashule e a vice-secretária-geral Jessie Duarte.

O presidente, segundo a Prensa Latina, advertiu o seu próprio movimento, o ANC, e os seus aliados da COSATU e do Partido Comunista Sul-Africano, que uma participação separada dessas organizações nas eleições de 2019 poderia dividir o país. «Neste momento, devemos concentrar os nossos esforços nas eleições», afirmou.

A COSATU, criada ainda durante a luta contra o apartheid, conta com mais de dois milhões de membros, pertencentes a 33 sindicatos. Esta sua reunião magna decorreu sob o lema «Aprofundar o regresso à campanha básica, Consolidar a Revolução Democrática Nacional e Avançar na luta pelo socialismo». No final, Zingiswa Losi foi eleita presidente, tornando-se a primeira mulher a dirigir a poderosa central sindical.

Na declaração final, o Congresso exigiu ao poder a concretização de um programa de acção radical que permita satisfazer as legítimas exigências dos trabalhadores e conquistar o apoio das comunidades a esses esforços. Programa baseado em quatro pontos: abolição do «apartheid nas estruturas salariais» de modo a que os trabalhadores consigam rendimentos que lhes permitam viver; transformações sociais e económicas que assegurem a partilha das riquezas do país com o povo; fortalecimento dos sindicatos, «a menos que os trabalhadores queiram morrer de fome»; e avanço da segunda fase da revolução democrática nacional.

O documento assinala que o Congresso teve lugar num momento de dificuldades económicas globais e de grandes desafios nacionais que agravaram os três desafios maiores da África do Sul: pobreza, desemprego e desigualdade. Insiste que os trabalhadores estão cansados das promessas incumpridas e exigem mudanças nas suas condições sócio-económicas e a construção de um Estado que intervenha decisivamente nos sectores estratégicos. E pede a abolição das estruturas de salários, a criação de fortes instituições colectivas para negociar em todos os sectores e a protecção social integral para os desempregados.

Os trabalhadores sul-africanos, acentuou o Congresso da COSATU, clamam pela criação de condições de vida decentes, tanto nas áreas rurais como urbanas, por passos urgentes para enfrentar a crise do sistema público de saúde e para solucionar a crise da educação, em particular a disfuncionalidade da maioria das escolas nas áreas pobres. Pedem também transporte acessível, eficiente e de preços exequíveis, bem como habitação perto dos locais de trabalho para pôr fim ao desenvolvimento espacial desenhado pelo apartheid, que separava em bairros periféricos a população negra e mestiça.


Carlos Lopes Pereira