Há pessoas que têm a extraordinária capacidade de encontrar sempre, aconteça o que acontecer, qualquer coisinha para atacar o PCP.
Daremos dois espantosos exemplos, de Adolfo Mesquita Nunes, no DN, e de Clara Ferreira Alves, no Expresso. Ambos escrevem partindo do princípio que a coerência não existe e que o caso do vereador do BE em Lisboa prova que os partidos e os políticos são mesmo todos iguais. Escrevem-no de forma distinta: Mesquita Nunes, mais metafísico: «a afirmação da coerência, a sua exibição enquanto virtude, assemelha-se à afirmação da santidade, porque uma e outra (...) participam da condição de um outro mundo, de uma realidade inatingível, espécie de modelo proposto à adoração e admiração (…) a coerência é das mais aclamadas e esperadas virtudes em política, no que é um convite à exibição dessa superioridade, dessa arrogância, de certa forma transformando a coerência em automatismo, cinismo e já não tanto em virtude ou verdade»; Ferreira Alves, mais determinista: «é a nossa natureza, inscrita no cromossoma durante milhões de anos (…) que manda que, entre o interesse individual e egoísta e o interesse colectivo e altruísta, e dado o famoso instinto de preservação da espécie, o interesse individual prevaleça».
Está bom de ver que estas farpazinhas sobre a coerência têm um destinatário: o PCP. Um Partido que honra a palavra dada, que tem compromissos claros com os trabalhadores e o povo, que tem uma única orientação geral e uma única direcção central que lhe permitem defender o mesmo na Assembleia da República ou na mais recôndita localidade, que tem por princípio estatutário e ético o de os seus militantes não serem prejudicados nem beneficiados no exercício de cargos públicos. Um Partido para quem a prática é mesmo o critério da verdade. Mas isto de citar Lenine deve ser demais para tanta angústia metafísica, fatalidade biológica e interesses de classe.