Tenderá a ser

Henrique Custódio

Santana Lopes desfiliou-se do PSD e anunciou à direcção que iria «fundar um novo partido». Ao longo dos anos o homem não se calou com a ameaça de abrir um novo estabelecimento partidário. Pelos vistos é agora, ficando o País sem o único militante do «pêpêdêpêéssedê».

«Instável» é o termo (amistoso) usado na comunicação social para quantificar Santana que, do ponto de vista público e do Google, já fez de tudo: presidente de câmara em Figueira da Foz e em Lisboa, presidente do Sporting e da Santa Casa da Misericórdia, comprador e liquidatário de jornais (o pobre Diário Popular), deputado, secretário de Estado e até Primeiro-Ministro! no que viria a ser a mais burlesca legislatura do País.

Os seus actos públicos como chefe de Governo davam um entremez, a começar pela cerimónia da tomada de posse, onde houve dois pontos altos - Santana a perder-se no discurso trocando as folhas e Paulo Portas a arregalar os olhos de surpresa, quando se ouviu nomeado para (também) ministro do Mar.

Na curta duração do seu Governo é claro que fez das suas, nomeadamente os «conselhos de Ministros descentralizados» (sete ao todo), ficando na memória a reunião no navio-escola Sagres, com Paulo Portas a exibir com garbo e boné uma farda-marinheira que encomendara para a ocasião. E não esquecemos a secretaria de Estado inaugurada na Chamusca para concretizar «a descentralização», com a corte do Governo a passear-se de charrete pelas ruas da vila, arregalada de espanto com o espectáculo.

O que há de relevo nas suas incursões pelos governos de Cavaco foi ter negociado em 1990 o malfadado Acordo Ortográfico, que veio desestruturar a Língua e que ninguém o usa, a não ser Portugal. Além disso, também inventou os concertos de violino de Chopin em secretário de Estado, além de apresentar «cumprimentos pessoais», como presidente da câmara de Lisboa, ao escritor brasileiro Machado de Assis, na oferta de uma reedição.

O verdadeiro mistério de Santana é perceber como é que este homem - que nunca foi acometido por uma ideia a sério, que tem um percurso público eriçado de ignorância, improviso, contradições e incoerências e se movimenta, sempre, num pêndulo de irresponsabilidade farsola – consegue ter a cobertura mediática maciça que o tem mantido, permanentemente, «por aí»...

Esta conversa à volta de Santana é para anotar que quer um partido novo. Se o formar, há que vigiá-lo de raiz, pois tenderá a ser o almejado partido populista da extrema-direita.



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