Consagrados ou em início de carreira os artistas visitam a Festa do Avante!

CONFRATERNIZAÇÃO Junto do Palco 25 de Abril, na Quinta da Atalaia, realizou-se no passado dia 25 de Julho um encontro de amigos: artistas, técnicos, construtores da Festa do Avante!, militantes e simpatizantes do PCP.

O Palco 25 de Abril viveu e continuará a viver momentos inesquecíveis

Em 2018, passados 42 anos da primeira Festa do Avante!, que teve lugar na antiga Feira Internacional de Lisboa (FIL) em 1976, a implantação e construção do recintoaproxima-se do que será certamente mais uma grande edição da Festa, que se realiza nos dias 7, 8 e 9 de Setembro.

Para a realização do convívio teve-se em especial atenção o encontro dos que, para Ruben de Carvalho (membro do Comité Central eda direcção da Festa do Avante!), são os «dois grupos mais fundamentais para a concretização da Festa»: a célula permanente e os construtores da Festa que a reerguem todos os anos e, por outro lado, «os técnicos e artistas que com a sua música também fazem da Festa algo seu».

Muitos e diversificados foram os artistas que compareceram no convívio, o que serviu também como espelho daqueles que são os critérios que continuam a guiar as escolhas da programação das sucessivas edições da Festa: a primazia à música portuguesa; o equilíbrio entre os nomes mais «consagrados» e os artistas mais jovens e emergentes; e a presença do maior número de tendências e géneros musicais possíveis.

Junto do palco 25 de Abril, no passado dia 25, foi possível encontrar artistas que acompanham a Festa desde a sua primeira edição, como João Gil ou José Barros, e outros que reconhecem a Festa do Avante! como um dos principais eventos políticos e culturais do País, apesar de nunca terem aí actuado, como são os casos dos D'Alva ou os Mundo Cão. Ali estiveram músicos que se apresentam com um reportório que rodeia a música tradicional portuguesa, como Janita Salomé – que explora incessantemente as ligações entre a música mediterrânea e o cante alentejano –, ou os Buraka Som Sistema, que se debruçavam essencialmente sobre o Kuduro.

Memória e futuro
Assim têm sido,
desde há 41 anos, as sucessivas edições da Festa do Avante!: em 1976, estreava-se a primeira edição, na FIL; nos dois anos que se seguiram foi a vez do Jamor a acolher; de 1979 a 1986 seguiram-se oito anos em que a Festa se instalou no Alto da Ajuda, também em Lisboa.

Depois de superado o problema que não permitiu a realização da Festa em 1987, esta teve lugar em Loures nos dois anos posteriores, 1988 e 1989. Desde a aquisição da Quinta da Atalaia, em 1990, e posteriormente da Quinta do Cabo, em 2016, que a Festa do Avante! conhece a sua localização permanente na margem Sul do Tejo.

São, ao todo, 42 anos de Festa, reconhecida no País pela qualidade e relevância que ocupa no panorama cultural nacional.

Os participantes no convívio puderam verificar o processo de remodelação e renovação do Palco 25 de Abril, já iniciado, e foram convidados a guardar um velho parafuso do palco que permanecia intacto desde 1991. O mesmo convite será feito aos visitantes que passarem pela Festa do Avante! nos dias 7, 8 e 9 de Setembro.

A Festa vista do palco

Ricardo Mendonça – R.A.M.P.
Ricardo Mendonça
,guitarrista dos R.A.M.P., banda de Heavy e Trash Metal criada em 1988, recorda sobretudo a actuação do grupo na Festa do Avante! em 1999, a segunda, pios também tocaram quatro anos antes: «O público, que se calhar não seria o público dos R.A.M.P., veio e aderiu à festa. Foi diferente. As pessoas não estavam só para nos ver, estavam para ver bandas de outros géneros diferentes e mesmo assim aderiram.»

Janita Salomé
Presença regular na
Festa do Avante!, Janita Salomé, cujo reportório se dedica à música tradicional portuguesa reinventada, falou dos momentos que mais o marcaram na Festa: «A primeira vez que toquei na Festa foi na Ajuda, se não estou em erro, e era ainda músico do Zeca [Afonso]. Daí para cá tenho vindo com alguma frequência à Festa do Avante! e ao Palco 25 de Abril.» O momento que com mais carinho guarda, conta, foi quando se encontrou e cantou com o seu irmão, Vitorino Salomé. Acrescentou ainda que a Festa do Avante! «é um espaço de liberdade que não se vive fora daqui, é um outro mundo cá dentro, uma zona libertada. O modo de estar aqui é diferente do de lá de fora».

João Gil
João Gil, u
m dos fundadores de Trovante e Ala dos Namorados, recorda a sua primeira actuação, em 1976, com os Trovante: «Actuei logo na primeira Festa, na FIL. Lembro-me de estarmos brancos e assustados. Mas foi uma noite mágica e um dia fantástico, a constatação do quanto a Festa foi importante para todos os músicos e para a música portuguesa e de ter sido o primeiro grande festival (). Este Partido conseguiu ser inovador naquele tempo e atrair muita gente para a Festa, independentemente das suas convicções. Isso é um grande mérito.»

Eldemiro Faria
Um dos organizadores do Tributo às Independências, Eldemiro Faria, recua até aos seus tempos de juventude: «Eu sou um fervoroso admirador da Festa do Avante!. Desde que me lembro, portanto desde a Ajuda, que comecei a vir à Festa, com os meus irmãos e com amigos e assisti de facto a espectáculos memoráveis». Em seguida, deixou um elogio: «Quando a gente vem aqui, parece que estamos num paraíso, num mundo diferente, também com este lado de encontro de culturas que a Festa promove (). A Festa do Avante! celebra todos os anos uma união de pessoas que partilham a mesma língua, que podem até ter diferentes culturas, mas que têm histórias comuns».

Rui Júnior – Toca a Rufar
Dirigente do grupo Tocá Rufar, Rui Júnior relembrou os seus primeiros passos na Festa: «Lembro-me de estar aqui nesta Festa, ainda com o Álvaro Cunhal e o Octávio Pato, todos mais velhos que eu
(). Foi todo um percurso de camaradagem e de saber o que é a solidariedade». Salientou, em seguida, algumas das qualidades que atribui à Festa: «Às vezes podemos reparar só no palco e nas luzes, mas a questão do saneamento, das casas de banho, do acesso à água e da mobilidade de pessoas com deficiência, são tudo questões que têm evoluído e que eu admiro imenso (). Aqui temos atenção às pessoas. A Festa do Avante! é feita por pessoas para pessoas».

Manecas Costa
Manecas Costa, um dos mais célebres músicos da Guiné-Bissau e já experiente com o público português, salientou o papel da Festa do Avante! na promoção da interculturalidade: «A Festa do Avante! acaba por ser um dos eventos mais marcantes deste país. É um evento com carácter internacional porque mobiliza várias comunidades. Todos os estrangeiros que moram cá em Portugal acabam por se sentir em casa aqui neste espaço magnífico. As pessoas ficam todas a sorrir, estão alegres, estão seguras, estão contentes, querem ouvir boa música, querem estar em família e em paz.»

José Barros – Navegante
Fundador dos Navegante, José Barros é também um dos músicos com maior reportório ligado à música tradicional. Desde o seu início que este acompanha a Festa do Avante!: «Eu acompanhei a Festa do Avante! de uma forma incrível. Em 1976 estive na FIL, tinha 15 anos
(). Depois acompanhei a mudança para o Jamor. Não pude actuar, era demasiado inexperiente. Mas estive no palco dois anos e isso já era uma coisa realmente única. Também acompanhei a mudança para a Ajuda e a partir de 1983 comecei a tocar sempre na Festa do Avante!». Acrescentou ainda, a terminar, que «esta é a Festa mais importante que Portugal tem há 42 anos. São muitos anos de grande Festa».

Luanda Cozetti e Norton Daiello – Couple Coffee
Luanda (que fez parte de vários projectos musicais) e Norton integram ambos o grupo Couple Coffee. Filha de Alípio de Freitas, Luanda associa em parte a Festa aos esforços dos seus pais: «Esta Festa junta em três dias toda a simbologia, todas as coisas pelas quais meus pais deram tantos anos das suas vidas. É bom ver tanta gente ainda comemorando e acreditando num Homem Novo e na possibilidade da construção de uma sociedade mais justa, tantos anos depois (). A primeira vez que estive em cima desse palco com as bandeiras todas, trouxe a minha filha pequenina para ver. A verdade era só isso, um mar livre de bandeiras vermelhas. No fundo todo o mundo quer só isso, ser feliz com as bandeiras que quiser.»

Alex D'Alva Teixeira e Ben Monteiro – D'Alva
Os D'Alva não tiveram ainda a sua efectiva oportunidade de actuar na Festa, mas Alex, que já participou em jornadas de trabalho, afirma que foi «interessante ver a união das pessoas a trabalhar todas para construir algo que outras pessoas iriam desfrutar uns dias depois». Ben, por outro lado, nunca tinha entrado na Quinta da Atalaia, mas reconheceu o valor da Festa no panorama nacional: «Todas as pessoas que conheço que vieram à Festa do Avante! dizem que o espírito de cá é muito particular. É o tipo de festival onde pessoas vêm independentemente do tipo de bandas que estão actuar e recebem-nas com uma abertura pouco comum noutros sítios.»

Canoche – Mundo Cão
Canoche
é um dos membros dos Mundo Cão, banda de rock criada em 2001, que nunca actuou na Festa do Avante!. Porém, já por lá passou como visitante em mais do que uma ocasião e reconhece que a «maior parte das pessoas que aqui estão não são comunistas mas vêm pela celebração da própria Festa e isso é que é fundamental».

DJ Riot – Buraka Som Sistema
Os Buraka Som Sistema estão em hiato desde 2016.
No entanto, e tal como DJ Riot recordou, ainda actuaram na Festa: «A Festa do Avante! tem sempre um impacto diferente. É uma festa com muitos anos e quando se vem pela primeira vez, não se sabe o que esperar. Com os Buraka, também não sabíamos o que esperar, mas quando entrámos no palco vimos um mar de pessoas todas a curtir o nosso som. Foi mesmo maravilhoso.»

 



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