Concurso de bandas da JCP concretiza direito à criação cultural

JUVENTUDE Pelo 21.º ano consecutivo, a Juventude Comunista Portuguesa promoveu em todo o País o concurso de bandas para o Palco Novos Valores da Festa do Avante!, um dos mais antigos do País e seguramente o mais democrático e inclusivo.

Cerca de 80 bandas inscreveram-se este ano no concurso da JCP

Quando a JCP lançou, na segunda metade da década de 90 do século passado, o Concurso de Bandas para o Palco Novos Valores, ele era um dos únicos espaços de âmbito nacional de promoção de novos artistas e projectos musicais em Portugal. Hoje, a realidade alterou-se: são já vários os concursos existentes, com meios técnicos e financeiros muito superiores e projecção mediática considerável. Contudo, o concurso da JCP não só se mantém como apresenta um impressionante fôlego e vitalidade. Simão Calixto, responsável pela iniciativa, explica porquê.

Para o jovem comunista, o segredo está no carácter inclusivo do concurso, expresso desde logo no próprio regulamento: tendo como objectivos a «divulgação e promoção dos jovens músicos e da música moderna portuguesa», é aberto a músicos e bandas profissionais ou amadoras, sendo «aceites e respeitadas de igual forma todas as correntes musicais em temas originais». A única grande condicionante é a idade, não devendo a média etária das bandas ser superior a 30 anos.

Além disso, acrescenta, no concurso da JCP todas as bandas que se inscrevem têm oportunidade de actuar ao vivo pelo menos uma vez, nas eliminatórias. Outros concursos há em que existe uma selecção prévia baseada nas maquetas enviadas, o que na opinião de Simão Calixto pode excluir bandas pelo simples facto de, comparativamente com outras, não possuírem condições para gravar decentemente as suas canções e não tanto pela qualidade musical de cada uma. Essa é sobretudo no palco que se revela.

Outros motivos para que o Concurso de Bandas do Palco Novos Valores resista e se amplie são a sua expressão nacional, com eliminatórias em praticamente todos os distritos do País, e o seu próprio percurso: ao longo dos anos passaram por este concurso artistas e bandas que hoje são nomes consagrados no panorama musical português, como Yellow W Van, Chullage, Da Weasel ou Linda Martini. Se isto não é um valioso cartão de visita o que será?

Um concurso de âmbito nacional

Este ano, conta Simão Calixto, inscreveram-se no concurso perto de 80 bandas e músicos, oriundos de todo o País. Quanto aos estilos, eram dos mais variados: do rock clássico ou indie, do punk ao hip-hop. Especial presença teve este último, o que o jovem comunista relaciona não só com a forte presença que ele tem hoje no panorama musical português (e não só) como também com as dificuldades que jovens bandas de outros estilos têm em se constituir, ensaiar e actuar, devido aos custos elevados de instrumentos e salas de ensaio.

A generalização da precariedade entre os jovens trabalhadores leva também a que seja cada vez mais difícil aos vários elementos de uma banda conciliarem horários para ensaios e concertos, revelou. Certo é que, por estas e outras razões, muitas das bandas participantes no concurso do ano passado já não existem. Algumas terão tido no concurso da JCP uma das poucas oportunidades para mostrar ao vivo o seu trabalho.

Voltando ao concurso deste ano, ele fez-se de quase 30 eliminatórias – concelhias, interconcelhias, regionais e inter-regionais. A primeira foi a 16 de Março, em Loures, e a última, a final do Alentejo, realizou-se no passado dia 1, em Évora. Como explicou Simão Calixto, o número de eliminatórias depende do número de bandas inscritas em cada região ou conjunto de regiões. Nos casos de Lisboa, Porto, Setúbal e Braga houve diversas eliminatórias concelhias e interconcelhias. Noutros casos, a final inter-regional seguiu-se às eliminatórias dos distritos, ao passo que noutras foi mesmo a única iniciativa realizada.

O concurso deste ano apurou as seguintes bandas para actuar no Palco Novos Valores da Festa do Avante! nos dias 7, 8 e 9 de Setembro: de Lisboa, Yagmar (Indie Rock); do Porto, Cruzamente (Pop Rock); de Braga, Mustang (Indie Rock); de Setúbal, Pálidos (Surf Rock); do Centro Litoral, Marufa (Indie Rock); do Centro Interior, Harpia (Indie Rock); do Algarve, No Relation (Rock); e do Alentejo, Aquentejo Alatico (Indie Rock). A esta somam-se os grupos e artistas convidados Keso (Hip-Hop), Fugly (Rock-Lobster), Scúru Fitchádu (Punk/Funaná) e Vado Má Ki Ás (Rap Crioulo). Estes são nomes a recordar, pois poderemos estar perante alguma das futuras referências da música contemporânea portuguesa.


Bandas exigem 1 por cento
para a Cultura

Como vem sucedendo desde há vários anos, o concurso de bandas da JCP foi uma vez mais acompanhado por uma campanha política relacionada com o direito constitucional à Cultura. Este ano, a exigência é a consagração de um por cento do Orçamento do Estado para a Cultura, que constitui há muito uma reclamação central dos artistas e restantes trabalhadores do sector. Esta campanha desenvolveu-se através de um «fotoprotesto» nas redes sociais, ao qual aderiram muitas das bandas participantes no concurso.

Na base da reivindicação está a constatação, pela JCP, de que o artigo 78.º da Constituição da República Portuguesa tem sido posto em causa pela política de desinvestimento, desresponsabilização do Estado e elitização do acesso à criação e à fruição culturais. No caso da música, faltam espaços para tocar e ensaiar, tempo livre para o poder fazer e imensas dificuldades no acesso aos instrumentos musicais.

Esta campanha segue-se a outra, desenvolvida nos anos anteriores, pela redução da taxa de IVA dos instrumentos musicais para 6 por cento. Simão Calixto lembra que muito embora a redução alcançada esteja aquém do exigido e necessário, a passagem de taxa de IVA dos instrumentos, neste Orçamento do Estado, para 13 por cento (em vez dos 23 por cento anteriores) constituiu uma vitória da luta, para a qual muito contribuiu a acção da JCP.


Fruição e criação cultural

1. Todos têm direito à fruição e criação cultural, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património cultural.

2. Incumbe ao Estado, em colaboração com todos os agentes culturais:

a) Incentivar e assegurar o acesso de todos os cidadãos aos meios e instrumentos de acção cultural, bem como corrigir as assimetrias existentes no país em tal domínio;

b) Apoiar as iniciativas que estimulem a criação individual e colectiva, nas suas múltiplas formas e expressões, e uma maior circulação das obras e dos bens culturais de qualidade;

c) Promover a salvaguarda e a valorização do património cultural, tornando-o elemento vivificador da identidade cultural comum;

d) Desenvolver as relações culturais com todos os povos, especialmente os de língua portuguesa, e assegurar a defesa e a promoção da cultura portuguesa no estrangeiro;

e) Articular a política cultural e as demais políticas sectoriais.

In Constituição da República Portuguesa, artigo 78.º