1980 – A primeira mulher na Academia Francesa

Marguerite Yourcenar, pseudónimo de Marguerite Cleenewerck de Crayencour (Yourcenar é um anagrama de Crayencour), foi a primeira mulher eleita à Academia Francesa de Letras, o que à época foi considerado quase como um «acto subversivo». Com um percurso literário iniciado em 1929, a escritora tornara-se internacionalmente conhecida com a magistral obra Mémoires d´Hadrien (Memórias de Adriano), de 1951, e consolidara o seu reconhecimento como escritora de excepção com L'Œuvre au Noir (A Obra ao Negro, 1968), pela qual foi distinguida com o prémio Femina. A proposta de Jean d'Ormesson (escritor, cronista e filósofo francês, ocupante da cadeira 12 da Academia Francesa) para que Yourcenar integrasse o selecto grupo dos «imortais» tradicionalmente reservado ao universo masculino gerou acesa polémica, mas o conservadorismo da Academia acabou vencido. Como diria Ormesson, reconhecendo que a eleição de Yourcenar teria sido mais rápida e mais fácil se ela fosse um homem, «Ser mulher não basta para estar sob a Cúpula, mas ser mulher também não basta para ser impedido de aí ter lugar». «Foi uma vitória da literatura (…) Distinguindo Marguerite Yourcenar, a Academia honra-se a si própria». Embora tardio, foi o reconhecimento de que não é possível fazer história sem as mulheres.