Governo não quis evitar paralisação no Grupo IP
NEGOCIAÇÃO A proposta de 31 de Março, apesar de insuficiente, poderia ter sido assinada pelos sindicatos, mas o Ministério do Planeamento e Infra-estruturas recusou pôr no papel o que fora discutido.
Para negócios privados o Governo encontra sempre milhões
Ao início da tarde de segunda-feira, dia 2, as doze organizações sindicais que promoveram a greve de 24 horas nas empresas do universo Infra-estruturas de Portugal (IP Engenharia, IP Telecom e IP Património) saudaram os trabalhadores «pela determinação e participação» na luta. Esta, como se afirma na saudação publicada pela Fectrans/CGTP-IN, teve uma adesão igual e, nalguns locais, superior à registada na greve de 12 de Março.
Os sindicatos, com apoio da Comissão de Trabalhadores, citaram dados das empresas que operam na circulação ferroviária, sobre as consequências da paralisação no grupo que resultou da fusão da Refer (Rede Ferroviária Nacional) com a Estradas de Portugal, assinalando «uma enorme supressão dos comboios de passageiros (mais de 63 por cento) e dos comboios de mercadorias (praticamente 100 por cento)».
Na área das Estradas a adesão foi «enorme, com centros distritais encerrados», como sucedeu em Faro, Beja, Évora, Braga, Vila Real e Bragança.
Na saudação, foi retomada a denúncia da «montagem de um esquema anti-greve», assente na substituição de trabalhadores grevistas por quadros superiores e intermédios que normalmente não exercem tais actividades. Esta violação da lei da greve «será oportunamente tratada junto da ACT», afirmam os sindicatos.
Mentiras e milhões
No dia 29 de Março, durante a manhã, um grupo de dirigentes dos sindicatos deslocou-se à residência oficial do primeiro-ministro, procurando desbloquear uma solução que fosse ao encontro da reivindicação de aumentos salariais intercalares e evitasse a concretização da greve. Na mesma altura, uma delegação de representantes dos trabalhadores participava numa reunião com a tutela, que se prolongou para a tarde.
O exemplo da CP, onde tal solução foi encontrada, foi mantido na ordem do dia pelos sindicatos, que esperavam um sinal positivo da administração e do Governo.
No sábado, entre as 9 e as 18 horas, no Ministério, decorreu uma reunião de representantes do Governo, da administração e dos trabalhadores da IP. A evolução de posições foi relatada num comunicado, ainda nesse dia 31, dando conta de que, quanto a valores, a diferença ficou, a dada altura, em apenas dois meses de remuneração (pagamento de 25 euros em 12 ou 14 meses). Os sindicatos declararam a sua anuência à posição final do Governo e da administração, procurando uma compensação não financeira daquela diferença.
No entanto, «ao passar ao papel a discussão que estava efectuada, fomos confrontados com propostas de redacção pouco claras», onde importantes compromissos não eram assumidos expressamente e até a compensação pela diferença se traduzia numa dispensa com perda de remuneração.
«Para este Governo, quando é para responder a negócios privados com dinheiros públicos, é aos milhões, mas para “investir” nos trabalhadores é aos tostões», concluíram os sindicatos.
No dia seguinte, 1 de Abril, num novo comunicado conjunto em que foram deixados esclarecimentos em resposta à «campanha que a empresa está a desenvolver contra os trabalhadores», foi sublinhado que «a proposta da administração, de 10 de Março, era injusta, e a do dia 31, feita no Ministério, apesar de insuficiente, poderia ter sido assinada, se o Governo não fugisse a colocar no papel tudo aquilo que foi discutido em dois dias e nos termos dessa discussão».
Outros detalhes foram referidos na saudação, dia 2:
– foi acertado um aumento de 20 euros, nos primeiros 11 meses, e de 25 euros, em Dezembro, valor que em Janeiro de 2019 integraria a tabela salarial; mas «não poderia ficar escrito com esta clareza»;
– foi aceite que os trabalhadores com vínculo público seriam abrangidos pelo futuro ACT, mas no texto proposto isto ainda seria «para estudar».
Era ainda proposta uma cláusula de sigilo, para que os sindicatos não divulgassem os termos do acordo.
«Não é uma negociação séria», entendem os sindicatos, que repudiaram o facto de a administração ter lançada para a comunicação social «uma mentira», referindo 11 milhões de euros como o valor da sua proposta. «No momento em que recebermos um documento oficial da administração com uma proposta deste valor, assinamos logo», pois «deixaríamos de estar a discutir aumentos de 20 euros por mês, para passarmos a discutir um aumento de 160 euros».
Para ontem à tarde estava convocada uma reunião das treze estruturas (sindicatos e CT), para decidir novas acções.