A fundação da URSS
A Rússia czarista ficou conhecida como «prisão dos povos»
Na antiga Rússia czarista viviam mais de 100 povos e nacionalidades, que se diferenciavam não só pela nacionalidade mas também pelo nível de desenvolvimento político, económico, social e cultural. Nalguns imperavam relações patriarcais, feudais e até mesmo de clã.
Numerosos ramos da indústria estavam nas mãos do capital estrangeiro, sobretudo francês, belga, inglês, alemão e norte-americano, e na maior parte das regiões periféricas encontravam-se num estádio embrionário. Os operários trabalhavam, regra geral, 17 a 18 horas por dia, em troca de um salário miserável. A esta situação juntava-se a ausência de direitos políticos e um grande atraso cultural. No Tadjiquestão, por exemplo, antes da Revolução apenas um em cada 2000 habitantes sabia ler e escrever. Em todo Uzbequistão, apenas duas pessoas possuíam um diploma do Ensino Superior. Mais de 40 nacionalidades não possuíam escrita própria.
Os povos das regiões periféricas nacionais da Rússia viviam em condições muito difíceis. Além da fome, do frio, do trabalho esgotante eram constantemente dizimados por doenças infecciosas como a peste, a cólera, a varíola, o tifo e outras. A situação de exploração e opressão dos povos era tal que a Rússia czarista ficou conhecida como «prisão dos povos».
Desde os primeiros dias da formação do partido bolchevique, os comunistas russos concederam uma importância primordial à teoria revolucionária e elaboraram um programa marxista sobre a questão nacional. Lénine elaborou o programa do «partido proletário de novo tipo» colocando em primeiro plano a necessidade de uma completa igualdade de direitos entre todas as nações, independentemente do número dos seus habitantes, do seu nível de desenvolvimento, da sua etnia, religião, etc.
Além dos Decretos sobre a Paz e sobre a Terra, um dos primeiros e mais importantes documentos do poder soviético foi a «Declaração dos Direitos dos Povos da Rússia» que proclamou a liquidação da antiga política de feroz exploração e de incitamento dos povos uns contra os outros e a sua substituição por uma política de «união voluntária e honesta dos povos da Rússia». A Declaração proclamava:
«1. A igualdade e a soberania dos povos da Rússia.
2. O direito dos povos da Rússia à autodeterminação, incluindo o direito à separação e formação de um Estado independente.
3. A abolição de todos os privilégios e restrições nacionais e religiosas.
4. O livre desenvolvimento das minorias nacionais e dos grupos étnicos que habitam o território da Rússia.»
Em Janeiro de 1918, o III Congresso dos Sovietes de toda a Rússia adoptava a «Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado»: «A República Soviética da Rússia é fundada na base da livre união das nações livres, como Federação de Repúblicas Soviéticas Nacionais». O mesmo Congresso proclamou a criação da República Socialista Federativa Soviética da Rússia (RSFSR) que a 10 de Julho de 1918 veria aprovada pelo V Congresso de Sovietes de toda a Rússia a sua Constituição.
Pela primeira vez na história da humanidade uma Revolução proclamava e aplicava a autodeterminação dos povos, a igualdade de direitos e a liberdade das nações.
Em Dezembro de 1922, era criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Em Janeiro de 1924, o II Congresso de Sovietes da URSS adoptou a sua Constituição.
A formação da URSS foi um acontecimento histórico de importância e impacto mundial. Abriu perspectivas de desenvolvimento harmonioso de todos os povos unidos no seio de um Estado Federal e à formação e desenvolvimento multilateral de nações socialistas e determinou avanços extraordinários – nos planos político, económico, social e cultural.
O desaparecimento da URSS em 1991 não desvaloriza a primeira experiência de uma sociedade livre da exploração e da opressão, não apaga a realidade das grandes realizações e conquistas do povo soviético e a decisiva influência da URSS no desenvolvimento mundial, nem altera a natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora do capitalismo. O socialismo afirma-se como exigência da actualidade e do futuro.