Investir no transporte fluvial pela mobilidade e a segurança
INVESTIMENTO Jerónimo de Sousa apanhou o barco do Seixal para Lisboa, anteontem de manhã, numa acção que visou alertar para a degradação do transporte fluvial entre as duas margens do Tejo e reafirmar a urgência de investimento público na Transtejo e Soflusa.
Mais transporte público representa menos carros nas estradas
Ainda não eram oito da manhã quando o Secretário-geral do PCP chegou ao terminal fluvial do Seixal. À sua espera estavam, entre outros, os deputados comunistas Bruno Dias e Paula Santos, o presidente e o vice-presidente da Câmara Municipal do Seixal, Joaquim Santos e Jorge Gonçalves, o membro dos organismos executivos do Comité Central José Capucho e outros militantes do Partido no concelho.
Vários deles ali estavam desde antes das 7h30 a distribuir aos passageiros um folheto intitulado «Pelo direito ao transporte público – Basta de cortes na Transtejo/Soflusa», contendo as principais reivindicações do Partido para as empresas: modernização da frota; implementação de um plano de manutenção que garanta de modo efectivo e permanente a fiabilidade e segurança do serviço; reconstituição dos serviços próprios de manutenção; fim da destruição de postos de trabalho e da precarização das relações laborais, admissão de novos trabalhadores para os quadros das empresas; e a concretização de um plano de formação permanente.
Desse documento constam ainda reivindicações mais gerais para o sector dos transportes colectivos da Área Metropolitana de Lisboa, designadamente a reposição e aumento da oferta de transporte público, em número de circulações e amplitude horária; o alargamento do passe social intermodal a todos os operadores e concelhos da região; e o retorno à posse pública de empresas e serviços privatizados e concessionados, como a Fertagus, o Metro Sul do Tejo e os TST.
Evitar novas tragédias
Após ter cumprimentado, conversado e tirado fotografias com passageiros e tripulantes durante os cerca de 20 minutos que durou a travessia, Jerónimo de Sousa falou aos jornalistas já no Cais do Sodré, em Lisboa. Aí realçou a «situação caótica» que se vive nas duas empresas que asseguram a travessia fluvial do Tejo, Transtejo e Soflusa, patente na supressão de carreiras, na falta de pessoal e nas avarias sistemáticas das embarcações.
Para além de transformar num inferno a vida dos passageiros (na sua imensa maioria pessoas que trabalham ou estudam em Lisboa), acrescentou o dirigente comunista, esta situação coloca em risco a própria segurança dos milhares de pessoas que diariamente atravessam o rio de barco, e só entre o Seixal e Lisboa são cerca de cinco mil a fazê-lo. O evidente abandono das infra-estruturas e da manutenção e reparação da frota deve-se à «quase total falta de investimento» nas duas empresas, garantiu Jerónimo de Sousa, para quem é agindo e investindo «que se evita novas tragédias, novos Pedrógãos».
Da parte do PCP, revelou o Secretário-geral, foi proposto em sede de debate de especialidade do Orçamento do Estado o reforço de 10 milhões de euros na Transtejo/Soflusa. Questionado sobre as possibilidades de acolhimento deste investimento por parte do Governo do PS, Jerónimo de Sousa sublinhou que a situação da travessia fluvial do Tejo se está a tornar «insustentável, caótica», o que se resolve «não com boas vontades, mas com investimento público». Cabe agora ao PS tomar as suas opções, sendo certo que o PCP também não desistirá desta bandeira.
Inverter a tendência de degradação
A degradação do serviço prestado pela Transtejo e Soflusa, que asseguram a ligação fluvial entre as duas margens do Tejo (Lisboa/Cacilhas, Trafaria, Porto Brandão, Seixal, Barreiro e Montijo) não é de hoje, mas atingiu nos últimos meses um ponto particularmente agudo. Como contou ao Avante! Orlando Gomes, membro da recém-criada Comissão de Utentes dos Transportes do Seixal, entre Setembro e Outubro deste ano instalou-se o caos, com várias carreiras suprimidas e milhares de passageiros em terra. Em várias ocasiões a confusão foi de tal ordem que a Polícia Marítima foi chamada a intervir.
Dando a conhecer um conjunto de informações recolhidas em reuniões mantidas entre a Comissão de Utentes e a autarquia, as organizações representativas dos trabalhadores da Transtejo/Soflusa e, sobretudo, o Conselho de Administração, Orlando Gomes adiantou alguns aspectos reveladores do abandono a que sucessivos governos e administrações, em particular os anteriores, votaram estas empresas.
A anterior administração, informou, «não cumpriu cabalmente os planos de manutenção traçados», o que conduziu à actual situação de haver barcos em condições críticas, com certificados de navegabilidade prestes a caducar e a serem prorrogados por alguns meses, o que deixa antever novos graves problemas num futuro próximo. Actualmente há navios no estaleiro, em manutenção, enquanto outros têm problemas precisamente graças à deficiente manutenção que receberam.
Também a inexistência de um plano de renovação da frota antecipa dificuldades, garante Orlando Gomes, lembrando que, com os trâmites legais necessários, ela só estará concretizada, no mínimo, daqui a quatro anos.
É para que a Assembleia da República discuta em plenário a situação das empresas e o carácter estratégico do transporte fluvial no Tejo (que ocupa o quarto lugar, a nível mundial, em número de passageiros diários, 75 mil) que a Comissão de Utentes lançou uma petição, que já ultrapassou as quatro mil assinaturas.
Particularmente activa na exigência de investimento público na Transtejo/Soflusa e em mais e melhores transportes públicos para o concelho do Seixal e a Área Metropolitana tem estado a Câmara Municipal do Seixal, cujo presidente integrou a comitiva que, na terça-feira de manhã, cruzou o rio em direcção a Lisboa. Em declarações aos jornalistas, o presidente Joaquim Santos lembrou a redução de carreiras verificada em 2011 e 2012, com a consequente redução do número de passageiros, e exigiu a inversão desta tendência, o que implica desde logo um significativo aumento do investimento público.
Para além da travessia entre margens do Tejo, o autarca defendeu uma vez mais a criação de ligações fluviais entre os concelhos ribeirinhos da Margem Sul – Almada, Seixal, Barreiro e Montijo.