A luta pelo socialismo prossegue com o exemplo e a força de Outubro

CENTENÁRIO Com a to­mada do poder pelo pro­le­ta­riado russo, sob a di­recção do Par­tido Bol­che­vique e de Le­nine, na ma­dru­gada de 7 de No­vembro de 1917 (25 de Ou­tubro no ca­len­dário ju­liano, que então vi­go­rava na Rússia), ini­ciou-se um novo pe­ríodo da his­tória da hu­ma­ni­dade: a época da pas­sagem do ca­pi­ta­lismo ao so­ci­a­lismo, a nossa época. As ex­tra­or­di­ná­rias re­a­li­za­ções al­can­çadas trans­for­maram pro­funda e in­de­le­vel­mente não só a vasta Rússia como todo o pla­neta. Hoje, é a pró­pria re­a­li­dade a con­firmar a jus­teza do lema do PCP para as suas co­me­mo­ra­ções deste cen­te­nário: «so­ci­a­lismo, exi­gência da ac­tu­a­li­dade e do fu­turo.»

O so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo são ob­jec­tivos su­premos do PCP

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O pro­grama do PCP de co­me­mo­ra­ções do Cen­te­nário da Re­vo­lução de Ou­tubro tem no co­mício da pró­xima terça-feira, 7 de No­vembro, no Co­liseu dos Re­creios, de Lisboa, um mo­mento cen­tral. A de­correr ao longo deste ano, estas co­me­mo­ra­ções con­taram já com im­por­tantes ini­ci­a­tivas de afir­mação e de­bate sobre a ex­pe­ri­ência de edi­fi­cação do so­ci­a­lismo, suas re­a­li­za­ções e im­pactos de al­cance mun­dial e a ac­tu­a­li­dade do ideal e pro­jecto co­mu­nistas, que con­ti­nuam hoje a ser as­su­midos, em Por­tugal, pelo PCP.

Se o pró­prio sur­gi­mento do Par­tido, a 6 de Março de 1921, re­sul­tando da ex­pe­ri­ência e do ama­du­re­ci­mento po­lí­tico e ide­o­ló­gico de im­por­tantes sec­tores do mo­vi­mento ope­rário por­tu­guês, tem também origem nos im­pactos da Re­vo­lução de Ou­tubro, a re­lação entre os co­mu­nistas por­tu­gueses e essa ex­pe­ri­ência pi­o­neira de edi­fi­cação so­ci­a­lista foi cons­tante. O mesmo se pode dizer da re­cí­proca so­li­da­ri­e­dade entre o PCP e os co­mu­nistas so­vié­ticos, tanto nos mo­mentos de exal­tante avanço como nos de mais dura re­sis­tência.

Aquando das dra­má­ticas der­rotas ve­ri­fi­cadas no final do sé­culo pas­sado, o PCP não re­negou o pa­tri­mónio de re­a­li­za­ções e con­quistas da Re­vo­lução de Ou­tubro nem re­negou os seus ob­jec­tivos su­premos e na­tu­reza de classe. Pelo con­trário, re­co­nhe­cendo erros e in­su­fi­ci­ên­cias no pro­cesso de edi­fi­cação so­ci­a­lista na União So­vié­tica e de­mais países do Leste da Eu­ropa, e apren­dendo com eles, re­a­firmou a cer­teza de que não houve «avanço, pro­gresso, es­pe­rança que não tenha con­tado com as ideias, o es­forço, o sangue e a luta dos co­mu­nistas» e que o so­ci­a­lismo con­ti­nuava a ser a razão de ser úl­tima da luta do PCP: «Fomos, somos e se­remos co­mu­nistas», ga­rantiu-se também, em Maio de 1990, no XIII Con­gresso (Ex­tra­or­di­nário).

So­ci­a­lismo em Por­tugal

Ao nível do ca­minho que propõe para a con­cre­ti­zação dos seus ob­jec­tivos su­premos – a cons­trução em Por­tugal do so­ci­a­lismo e do co­mu­nismo –, o PCP aprende com a edi­fi­cação do so­ci­a­lismo nou­tros países e a ex­pe­ri­ência de ou­tros par­tidos e ba­seia-se na re­a­li­dade con­creta por­tu­guesa. Assim se afirma, na prá­tica, o «par­tido le­ni­nista de­fi­nido com a ex­pe­ri­ência pró­pria» de que fa­lava Álvaro Cu­nhal.

O Pro­grama do Par­tido, Uma De­mo­cracia Avan­çada – Os Va­lores de Abril no Fu­turo de Por­tugal, apro­vado no XIX Con­gresso, de­fine a etapa ac­tual da luta pelo so­ci­a­lismo: uma de­mo­cracia si­mul­ta­ne­a­mente po­lí­tica, eco­nó­mica, so­cial e cul­tural, que afirme a so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­o­nais. De con­teúdo de classe an­ti­mo­no­po­lista e anti-im­pe­ri­a­lista, esta etapa cor­res­ponde aos in­te­resses da es­ma­ga­dora mai­oria dos por­tu­gueses e as­senta em re­vo­lu­ci­o­ná­rias trans­for­ma­ções do sis­tema eco­nó­mico e so­cial, sendo por isso pro­fun­da­mente dis­tinta das de­mo­cra­cias bur­guesas do­mi­nadas pelos mo­no­pó­lios. Muitos dos seus ob­jec­tivos são, aliás, ob­jec­tivos da re­vo­lução so­ci­a­lista.

A luta pela de­fesa, re­po­sição e con­quista de di­reitos, contra a po­lí­tica de di­reita e por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda é a se­mente de onde bro­tará esse Por­tugal livre e so­be­rano, de volta ao rumo de Abril, apon­tado ao so­ci­a­lismo.

A Re­vo­lução de Ou­tubro fez da Rússia
do atraso cró­nico a URSS
pi­o­neira da con­quista es­pa­cial

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Novo fu­turo co­meçou há cem anos
numa manhã de Ou­tubro

SO­CI­A­LISMO A Re­vo­lução de Ou­tubro e o pro­cesso de cons­trução do so­ci­a­lismo que se lhe se­guiu tor­naram pos­sí­veis ex­tra­or­di­ná­rias re­a­li­za­ções po­lí­ticas, eco­nó­micas, so­ciais e cul­tu­rais, que hoje, cem anos pas­sados, per­ma­necem uma mi­ragem para a ge­ne­ra­li­dade da po­pu­lação mun­dial.

Às 10 horas da manhã de 25 de Ou­tubro de 1917 (7 de No­vembro no nosso ca­len­dário), o Co­mité Mi­litar Re­vo­lu­ci­o­nário anexo ao So­viete de de­pu­tados ope­rá­rios e sol­dados de Pe­tro­grado emitia um co­mu­ni­cado Aos Ci­da­dãos da Rússia!: «O Go­verno Pro­vi­sório foi de­posto. O poder do Es­tado passou para as mãos do órgão do So­viete de de­pu­tados ope­rá­rios e sol­dados de Pe­tro­grado – o Co­mité Mi­litar Re­vo­lu­ci­o­nário –, que se en­contra à frente do pro­le­ta­riado e da guar­nição de Pe­tro­grado. A causa pela qual o povo lutou – a pro­posta ime­diata de uma paz de­mo­crá­tica, a su­pressão da pro­pri­e­dade la­ti­fun­diária da terra, o con­trolo ope­rário sobre a pro­dução, a cri­ação de um Go­verno So­vié­tico – esta causa está as­se­gu­rada. Viva a re­vo­lução dos ope­rá­rios, sol­dados e cam­po­neses!»

Para além de sim­bo­lizar a con­su­mação da vi­tória re­vo­lu­ci­o­nária, esta pro­cla­mação dei­xava claro não só o ca­rácter de classe do novo poder como as gi­gan­tescas ta­refas que daí por di­ante lhe es­tavam co­lo­cadas. Menos de 24 horas de­pois, os dois pri­meiros de­cretos as­su­midos pelo II Con­gresso dos So­vi­etes de Toda a Rússia (com­posto por 400 de­le­gados eleitos por mais de 20 mi­lhões de elei­tores) – o De­creto sobre a Paz e o De­creto sobre a Terra – con­cre­ti­zavam aquelas que eram as mai­ores as­pi­ra­ções da classe ope­rária e dos cam­po­neses russos na­quele tempo, que Lé­nine e os bol­che­vi­ques tão bem sou­beram iden­ti­ficar: o pri­meiro pro­punha aos países en­vol­vidos na Pri­meira Guerra Mun­dial o início ime­diato de ne­go­ci­a­ções de paz, não uma paz qual­quer, mas uma «paz justa e de­mo­crá­tica», sem ane­xa­ções nem in­dem­ni­za­ções; o se­gundo abolia a pro­pri­e­dade la­ti­fun­diária da terra pas­sando-a, e tudo o que nela se en­con­trava, para as mãos dos co­mités agrá­rios e dos so­vi­etes de cam­po­neses.

Nos dias se­guintes, novas de­ci­sões do Con­selho dos Co­mis­sá­rios do Povo (como era de­sig­nado o go­verno eleito pelo con­gresso e pre­si­dido por Lé­nine), as­su­midas en­quanto em muitas re­giões do vasto país ainda pros­se­guiam os com­bates pela con­so­li­dação do poder pro­le­tário, evi­den­ci­avam a na­tu­reza so­ci­a­lista do novo Es­tado. Ao quarto dia da Re­vo­lução foi ins­tau­rado o di­reito ao tra­balho, a jor­nada la­boral de oito horas, o sa­lário igual para ho­mens e mu­lheres, os se­guros so­ciais es­ta­tais, as fé­rias pagas e as pen­sões por re­forma ou in­va­lidez, o di­reito à ma­ter­ni­dade e à in­ter­rupção da gra­videz. Nas se­manas e meses sub­se­quentes tor­naram-se reais ga­ran­tias como a gra­tui­ti­dade da as­sis­tência mé­dica e da ins­trução, o di­reito à ha­bi­tação e a igual­dade entre ho­mens e mu­lheres em todas as es­feras da vida.

A 15 de No­vembro é pu­bli­cada a De­cla­ração dos Di­reitos dos Povos da Rússia, que aca­bava com a «grande prisão dos povos» que era o im­pério cza­rista, ca­rac­te­rís­tica (mais uma!) que o go­verno bur­guês de Ke­renski man­ti­vera no es­sen­cial: desse dia em di­ante, era re­co­nhe­cida a igual­dade e so­be­rania dos povos da Rússia, assim como o seu livre di­reito à auto-de­ter­mi­nação. Às mi­no­rias na­ci­o­nais e grupos ét­nicos era sal­va­guar­dado e pro­mo­vido o di­reito ao «livre de­sen­vol­vi­mento».

Outro do­cu­mento fun­dador da nova Rússia so­vié­tica veria a luz do dia no início de Ja­neiro de 1918: a De­cla­ração dos Di­reitos do Povo Tra­ba­lhador e Ex­plo­rado con­sa­grava a Rússia como «Re­pú­blica dos So­vi­etes de De­pu­tados Ope­rá­rios, Sol­dados e Cam­po­neses», or­ga­ni­zada em «fe­de­ração de re­pú­blicas na­ci­o­nais e so­vié­ticas» ba­seada no prin­cípio da «união livre de na­ções li­vres».

As­su­mindo os ob­jec­tivos de su­primir a ex­plo­ração do homem pelo homem, abolir com­ple­ta­mente a di­visão da so­ci­e­dade em classes, im­ple­mentar a or­ga­ni­zação so­ci­a­lista da so­ci­e­dade e fazer triunfar o so­ci­a­lismo em todos os países, a De­cla­ração pas­sava para o con­trolo do Es­tado pro­le­tário as terras, as flo­restas, o gado, o sub­solo e os bancos. Como pri­meiro passo para a trans­fe­rência com­pleta das fá­bricas, minas e ca­mi­nhos-de-ferro para o Es­tado so­ci­a­lista, as­se­gu­rava a ad­mi­nis­tração ope­rária dos mesmos.

Epo­peia de edi­fi­cação so­ci­a­lista

A De­cla­ração de­ter­mi­nava ainda que o poder pas­sava a per­tencer «total e ex­clu­si­va­mente» às massas tra­ba­lha­doras e à sua re­pre­sen­tação au­to­ri­zada, o So­viete dos De­pu­tados Ope­rá­rios, Sol­dados e Cam­po­neses. A bur­guesia era afas­tada de todos os ór­gãos de ad­mi­nis­tração do Es­tado. A pri­meira Cons­ti­tuição so­vié­tica, apro­vada em me­ados de 1918, ins­pirou-se neste do­cu­mento e con­sa­grou todos os avanços até então al­can­çados. A nova de­mo­cracia so­vié­tica co­lo­cava ao co­mando dos des­tinos do país a classe ope­rária, os cam­po­neses, os in­te­lec­tuais e ar­tistas, a grande mai­oria do povo, que se de­di­caram com en­tu­si­asmo re­vo­lu­ci­o­nário à exal­tante ta­refa de cons­truir a nova so­ci­e­dade. Mi­lhões de ope­rá­rios e cam­po­neses par­ti­cipam na gestão da vida po­lí­tica, eco­nó­mica e so­cial, da fá­brica e da al­deia à pró­pria União.

Como é evi­dente, as ex­tra­or­di­ná­rias con­quistas da re­vo­lução so­ci­a­lista não se con­su­maram com a sim­ples apro­vação de de­cretos e de­cla­ra­ções. Im­pu­seram-se, sim, graças à te­na­ci­dade e com­ba­ti­vi­dade das massas re­vo­lu­ci­o­ná­rias em mo­vi­mento e à no­tável ca­pa­ci­dade de di­recção do Par­tido Bol­che­vique e do seu mais des­ta­cado di­ri­gente, Lé­nine. Aliás, nada foi fácil para o poder so­vié­tico, con­fron­tado desde o berço com a de­vas­tação pro­vo­cada pela guerra mun­dial im­pe­ri­a­lista, o atraso cró­nico da Rússia, a re­sis­tência en­car­ni­çada de pa­trões e la­ti­fun­diá­rios e, entre 1918 e 1921, com a agressão con­cer­tada da re­acção in­terna e da co­li­gação de po­tên­cias ca­pi­ta­listas, que im­pu­seram à jovem re­pú­blica pro­le­tária a guerra civil. O pouco que a guerra mun­dial pou­para era, então, des­truído.

Quando, ven­cida a guerra, os co­mu­nistas, a classe ope­rária e o povo so­vié­ticos se lançam de­ci­si­va­mente na ta­refa de re­cons­trução e de­sen­vol­vi­mento da sua pá­tria – que era já também a de todos os ope­rá­rios e ex­plo­rados do mundo in­teiro! –, o pa­no­rama que en­con­traram pe­rante si era sim­ples­mente de­so­lador. A obra de Ni­kolai Os­trovski Assim Foi Tem­pe­rado o Aço (pu­bli­cada pelas Edi­ções Avante!) é um pun­gente tes­te­munho do es­forço, ab­ne­gação, cri­a­ti­vi­dade e he­roísmo co­lec­tivos que esta epo­peia mo­tivou. Se­guindo o ca­minho apon­tado por Lé­nine (que aca­baria por fa­lecer em 1924), para quem o co­mu­nismo sig­ni­fi­cava, na Rússia, o «poder dos so­vi­etes e a elec­tri­fi­cação do país», a pá­tria so­ci­a­lista deu um im­pres­si­o­nante salto na cri­ação das con­di­ções ma­te­riais de edi­fi­cação do so­ci­a­lismo.

En­qua­drado pelos Planos Quin­que­nais, o de­sen­vol­vi­mento da União das Re­pú­blicas So­ci­a­listas So­vié­ticas (URSS), fun­dada em fi­nais de 1922, pro­cessa-se a um ritmo alu­ci­nante. São cons­truídas infra-es­tru­turas, cen­trais, bar­ra­gens, fá­bricas, es­tradas, ca­mi­nhos-de-ferro, portos, es­colas, ins­ti­tutos, uni­ver­si­dades, la­bo­ra­tó­rios e casas de ha­bi­tação e des­bra­vadas terras, que passam a ser pro­du­tivas. No pri­meiro Plano Quin­quenal (1928/​32) 1500 novas grandes em­presas en­tram em ac­ti­vi­dade e o cres­ci­mento médio anual re­gis­tado nesse pe­ríodo foi su­pe­rior a 13 por cento. Num mo­mento em que o mundo ca­pi­ta­lista so­fria os dra­má­ticos efeitos da Grande De­pressão, no­me­a­da­mente o de­sem­prego mas­sivo, fi­cava cada vez mais evi­dente a su­pe­ri­o­ri­dade do sis­tema eco­nó­mico e so­cial so­ci­a­lista, que em 1930 punha fim pre­ci­sa­mente ao fla­gelo do de­sem­prego. O se­gundo Plano Quin­quenal deu pri­o­ri­dade à co­lec­ti­vi­zação dos campos e à in­dus­tri­a­li­zação. Em 1937, a URSS era já, pelo vo­lume de pro­dução, o pri­meiro país in­dus­trial da Eu­ropa e o se­gundo a nível mun­dial, de­pois dos Es­tados Unidos.

Ao con­trário das po­tên­cias ca­pi­ta­listas, que devem o seu de­sen­vol­vi­mento, em grande me­dida, à brutal ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores e dos povos e dos re­cursos co­lo­niais, a URSS de­pendeu apenas de si pró­pria, da mo­bi­li­zação das ener­gias re­vo­lu­ci­o­ná­rias do seu povo e do seu sis­tema so­ci­a­lista para se tornar numa grande po­tência in­dus­trial. Também ao con­trário dos países ca­pi­ta­listas, o Es­tado pro­le­tário fez acom­pa­nhar o de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico do pro­gresso so­cial: par­tindo de uma base ex­tre­ma­mente baixa – antes da Re­vo­lução, 76 por cento da po­pu­lação era anal­fa­beta –, mi­lhões de pes­soas foram al­fa­be­ti­zadas nestes anos e muitos fi­lhos de ope­rá­rios e cam­po­neses tor­naram-se en­ge­nheiros, téc­nicos, eco­no­mistas, ci­en­tistas, co­la­bo­rando de­ci­si­va­mente no em­pre­en­di­mento de cons­trução do so­ci­a­lismo. Na mais re­mota al­deia como no centro das grandes ci­dades flo­rescem bi­bli­o­tecas, casas de cul­tura e ins­trução, uni­ver­si­dades po­pu­lares, ins­ti­tutos…

Avanços ex­tra­or­di­ná­rios e pe­renes

A in­vasão da União So­vié­tica pelas forças hi­tle­ri­anas, em Junho de 1941, veio in­ter­romper não só o Ter­ceiro Plano Quin­quenal como o im­pe­tuoso pro­cesso de cons­trução e edi­fi­cação so­ci­a­lista. Em 1945, quando a guerra ter­mina, com a União So­vié­tica a as­sumir o papel de­ter­mi­nante no es­ma­ga­mento do nazi-fas­cismo, o país es­tava no­va­mente ar­ra­sado, com os ní­veis de pro­dução a re­cu­arem dé­cadas. Numa nova gesta he­roica, re­cor­rendo uma vez mais aos seus pró­prios re­cursos e à de­di­cação re­vo­lu­ci­o­nária do seu povo, os so­vié­ticos re­cu­peram o seu país em poucos anos, atin­gindo em 1950 – apenas cinco anos após o final da guerra – os ní­veis de dez anos antes, muito em­bora ti­vesse de ca­na­lizar muitos dos seus es­forços para a de­fesa, questão vital para a sua pró­pria so­bre­vi­vência em anos de te­ne­brosa Guerra Fria.

A URSS co­lo­cava-se então nos pri­meiros lu­gares em vá­rios in­di­ca­dores e a con­quista es­pa­cial era o exemplo mais vi­sível disso mesmo: são so­vié­ticos o pri­meiro sa­té­lite ar­ti­fi­cial da Terra, o Sputnik, lan­çado em 1957; o pri­meiro homem no Cosmos, Iuri Ga­ga­rine; o pri­meiro pas­seio es­pa­cial, de Alexei Le­onov; e a pri­meira mu­lher cos­mo­nauta, Va­len­tina Te­resh­kova; os pri­meiros en­ge­nhos es­pa­ciais que atin­giram a Lua; e ainda os fo­gue­tões que co­lo­caram em ór­bita as pri­meiras es­ta­ções es­pa­ciais.

Mas os al­cances his­tó­ricos do so­ci­a­lismo na União So­vié­tica abar­caram muitos ou­tros do­mí­nios, da li­te­ra­tura à mú­sica e às artes plás­ticas, do te­atro ao ci­nema, pas­sando pela dança e o des­porto. No final da dé­cada de 80 do sé­culo XX, a URSS en­con­trava-se na van­guarda em di­versas tec­no­lo­gias, pos­suía um terço do total de mé­dicos do mundo e a mais baixa taxa de mor­ta­li­dade in­fantil do pla­neta.

Cem anos após a Re­vo­lução de Ou­tubro, nada apaga os seus ideais, va­lores e con­quistas de al­cance his­tó­rico uni­versal. Os seus efeitos sentem-se ainda hoje nas lutas tra­vadas em todo o mundo pelo pro­gresso, a jus­tiça so­cial e a so­be­rania na­ci­onal, te­nham ou não disso cons­ci­ência os seus pro­ta­go­nistas. Da mesma forma, as trans­for­ma­ções re­vo­lu­ci­o­ná­rias do fu­turo terão ine­qui­vo­ca­mente a sua marca.

Sonho trans­for­mado em vida

A Re­vo­lução de Ou­tubro con­cre­tizou o sonho mi­lenar dos ex­plo­rados e opri­midos, após mi­lé­nios de lutas eman­ci­pa­doras e li­ber­ta­doras, dos es­cravos da An­ti­gui­dade aos servos da Idade Média, da Re­vo­lução Fran­cesa às in­sur­rei­ções ope­rá­rias do sé­culo XIX e à Co­muna de Paris de 1871: a cons­trução de uma so­ci­e­dade de seres hu­manos li­vres e iguais, a Terra sem Amos de que fala A In­ter­na­ci­onal.

A vi­tória do pro­le­ta­riado russo con­su­mada a 7 de No­vembro de 1917, ar­du­a­mente de­fen­dida nos meses e anos se­guintes, con­firmou a pers­pec­tiva apon­tada pelos fun­da­dores do so­ci­a­lismo ci­en­tí­fico, Marx e En­gels, ma­gis­tral­mente apli­cada e de­sen­vol­vida por Lé­nine à re­a­li­dade con­creta da Rússia e do im­pe­ri­a­lismo.

Ao con­trário do que in­sistem em afirmar his­to­ri­a­dores bur­gueses, a in­sur­reição vi­to­riosa de 7 de No­vembro não foi um «acaso». Ela ra­dica nas con­di­ções da pró­pria Rússia de 1917: um país pre­do­mi­nan­te­mente agrí­cola, com re­la­ções feu­dais a sub­sistir nos campos, mas com um ca­pi­ta­lismo de­sen­vol­vido nos prin­ci­pais cen­tros ur­banos. O pro­le­ta­riado aí con­cen­trado era al­ta­mente ex­plo­rado e ad­qui­rira já nessa al­tura uma con­si­de­rável ex­pe­ri­ência de luta, con­so­li­dada nas re­vo­lu­ções de 1905 e de Fe­ve­reiro de 1917.

Factor de­ter­mi­nante para a vi­tória de Ou­tubro foi a exis­tência de um forte e ex­pe­ri­men­tado Par­tido Co­mu­nista, so­li­da­mente im­plan­tado no seio do pro­le­ta­riado in­dus­trial, que se re­velou capaz de per­ceber o sentir das massas, or­ga­nizá-las e lançar as pa­la­vras de ordem adap­tadas a cada mo­mento de uma re­a­li­dade em cons­tante e rá­pida trans­for­mação. A con­tri­buição de Lé­nine para a con­cepção, cons­trução, de­sen­vol­vi­mento e con­so­li­dação deste Par­tido é, a todos os ní­veis, no­tável. 
 

O fu­turo não per­tence ao ca­pi­ta­lismo
mas ao so­ci­a­lismo e ao co­mu­nismo


Re­vo­lução, contra-re­vo­lução
e a exi­gência do so­ci­a­lismo


AC­TU­A­LI­DADE A Re­vo­lução de Ou­tubro teve efeitos eman­ci­pa­dores em todo o mundo, que ainda hoje servem de re­fe­rência à luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos. A crise do ca­pi­ta­lismo dá ainda mais força à exi­gência do so­ci­a­lismo.

A Re­vo­lução de Ou­tubro não se li­mitou a trans­formar por com­pleto a velha Rússia. Ela pro­duziu ondas de choque de al­cance pla­ne­tário, dando ânimo à luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos e obri­gando as classes di­ri­gentes de todo o mundo a ce­dên­cias eco­nó­micas e so­ciais.

A vi­tória dos tra­ba­lha­dores russos e a ins­tau­ração do poder pro­le­tário des­per­taram uma po­de­rosa onda de so­li­da­ri­e­dade entre os ope­rá­rios dos países ca­pi­ta­listas, que to­maram as ruas em de­fesa da jovem re­vo­lução, contra a in­ge­rência e a agressão im­pe­ri­a­listas. A con­fir­mação de que era pos­sível à classe ope­rária, aos ex­plo­rados, go­ver­narem os seus pró­prios des­tinos animou a luta dos tra­ba­lha­dores de todo o mundo, que se lan­çaram à con­quista de di­reitos, em vi­brantes jor­nadas de luta que, não raras vezes, as­su­miram uma na­tu­reza in­sur­re­ci­onal. Também para os povos co­lo­ni­zados Ou­tubro cons­ti­tuiu um farol li­ber­tador de com­bates cres­centes pela eman­ci­pação na­ci­onal e so­cial.

Por efeito da vi­to­riosa ex­pe­ri­ência so­vié­tica as cor­rentes re­vo­lu­ci­o­ná­rias do mo­vi­mento ope­rário re­for­çaram-se e cons­ti­tuíram-se em todo o mundo par­tidos co­mu­nistas, ins­pi­rados no mo­delo le­ni­nista. Em 1919 forma-se a In­ter­na­ci­onal Co­mu­nista.

Após 1945, o pres­tígio da URSS e o poder de atracção do so­ci­a­lismo atingem o seu ex­po­ente mais ele­vado, de­vido ao papel de­ter­mi­nante do povo, do exér­cito e do par­tido co­mu­nista so­vié­ticos na vi­tória sobre o nazi-fas­cismo na Se­gunda Guerra Mun­dial: foram so­vié­ticos me­tade dos mortos desse con­flito e foi face aos so­vié­ticos que as forças hi­tle­ri­anas e os seus ali­ados so­freram as mais pe­sadas der­rotas e per­deram a grande mai­oria das suas di­vi­sões. A eclosão de di­versas re­vo­lu­ções vi­to­ri­osas, a cri­ação do campo so­ci­a­lista, a der­ro­cada do sis­tema co­lo­nial, a con­quista de di­reitos iné­ditos pelos tra­ba­lha­dores dos países ca­pi­ta­listas e a sal­va­guarda da paz são feitos in­ti­ma­mente li­gados ao cres­cente pres­tígio do ideal co­mu­nista e às con­quistas do so­ci­a­lismo.

Ca­pi­ta­lismo no banco dos réus

In­ver­sa­mente, o de­sa­pa­re­ci­mento da União So­vié­tica e do campo so­ci­a­lista, no início da úl­tima dé­cada do sé­culo XX, pro­vocou um imenso salto atrás dos di­reitos e con­quistas dos tra­ba­lha­dores e dos povos. Re­ve­lando então, por com­pleto, a sua na­tu­reza ex­plo­ra­dora, opres­sora, agres­siva e pre­da­dora, o ca­pi­ta­lismo de­sen­ca­deia uma vi­o­lenta ofen­siva, com o pro­pó­sito de re­cu­perar po­si­ções per­didas e impor a sua he­ge­monia no plano global, vi­sando ga­ran­tias po­lí­ticas, eco­nó­micas, so­ciais, cul­tu­rais e na­ci­o­nais al­can­çadas por dé­cadas de luta.

O mundo tornou-se mais in­justo, mais de­si­gual e pe­ri­goso. As guerras de agressão contra es­tados so­be­ranos ge­ne­ra­lizam-se, a cor­rida aos ar­ma­mentos e a tensão mi­litar não cessam de se agu­dizar e crescem di­a­ri­a­mente o ataque a li­ber­dades e di­reitos fun­da­men­tais.

Na se­gunda dé­cada do sé­culo XXI, apenas oito grandes ca­pi­ta­listas acu­mulam tanta ri­queza como 3,6 mil mi­lhões de seres hu­manos; os ren­di­mentos de um por cento da po­pu­lação igualam os au­fe­ridos pelos res­tantes 99 por cento; o de­sem­prego atinge 200 mi­lhões de pes­soas, en­quanto 56 por cento dos em­pregos cri­ados entre 1997 e 2013 são pre­cá­rios; 17 por cento da po­pu­lação mun­dial é anal­fa­beta e 795 mi­lhões so­frem de fome cró­nica; 67 mi­lhões de cri­anças não fre­quentam a es­cola e 168 mi­lhões são ví­timas de tra­balho in­fantil. Com­pa­rando estes nú­meros com as con­quistas do so­ci­a­lismo fica clara a su­pe­ri­o­ri­dade deste face ao ca­pi­ta­lismo.

É neste quadro, em cons­tante agra­va­mento, que o so­ci­a­lismo emerge como a mais só­lida pers­pec­tiva de evo­lução so­cial, es­tando nas mãos dos tra­ba­lha­dores e dos povos, com a sua luta e os seus par­tidos, to­marem em mãos a exal­tante ta­refa de re­tomar os ca­mi­nhos eman­ci­pa­dores abertos por Ou­tubro. Porque o pre­sente e o fu­turo da hu­ma­ni­dade re­sidem pre­ci­sa­mente na re­a­li­zação desse sonho mi­lenar de uma so­ci­e­dade sem classes, cuja cons­trução a Re­vo­lução de Ou­tubro en­cetou e mos­trou ser pos­sível.

 
Li­ções que per­ma­necem 

A Re­vo­lução de Ou­tubro e a cons­trução do so­ci­a­lismo na União So­vié­tica – nos seus avanços e vi­tó­rias como nos seus re­cuos, erros e der­rotas – são ricos em ex­pe­ri­ên­cias e en­si­na­mentos, de enorme ac­tu­a­li­dade para todos os co­mu­nistas: a or­ga­ni­zação e na­tu­reza do Par­tido Co­mu­nista, o papel do Par­tido, da classe ope­rária e das massas po­pu­lares na re­vo­lução; as ali­anças po­lí­ticas e so­ciais; as etapas da re­vo­lução; o papel do Es­tado e a questão do poder; a com­bi­nação do geral com o par­ti­cular; a es­tra­tégia e a tác­tica na luta pelo so­ci­a­lismo; a pla­ni­fi­cação eco­nó­mica e a de­mo­cracia so­ci­a­lista são al­gumas das muitas ques­tões teó­ricas re­le­vantes que Ou­tubro ainda hoje sus­cita.

«A questão mais im­por­tante de qual­quer re­vo­lução é sem dú­vida a questão do poder de Es­tado. Nas mãos de que classe está o poder, isto é que de­cide tudo.»

VI Lé­nine, Uma das ques­tões fun­da­men­tais da Re­vo­lução, Se­tembro de 1917

«O go­verno [so­vié­tico] con­si­dera que con­ti­nuar essa guerra pela questão de como par­ti­lhar entre as na­ções fortes e ricas os povos fracos por elas con­quis­tados é o maior crime contra a hu­ma­ni­dade (…).»

De­creto sobre a Paz, 8 de No­vembro de 1917

«Ca­ma­radas tra­ba­lha­dores! Lem­brai-vos que vós pró­prios di­rigis agora o Es­tado. Nin­guém vos aju­dará se vós pró­prios não vos unirdes e não to­mardes nas vossas pró­prias mãos todos os as­suntos do Es­tado. Os vossos so­vi­etes são a partir de agora ór­gãos de poder de Es­tado, ór­gãos ple­ni­po­ten­ciá­rios e de­ci­sivos.»

VI Lé­nine, À po­pu­lação!, 19 de No­vembro de 1917

«A Rússia é pro­cla­mada re­pú­blica dos so­vi­etes de de­pu­tados ope­rá­rios, sol­dados e cam­po­neses. Todo o poder, no centro e lo­cal­mente, per­tence a estes so­vi­etes.»

De­cla­ração dos Di­reitos do Povo Tra­ba­lhador e Ex­plo­rado, 3 de Ja­neiro de 1918

«Em dois anos, o poder so­vié­tico, num dos países mais atra­sados da Eu­ropa, fez pela li­ber­tação da mu­lher, pela sua igual­dade com o sexo “forte” tanto como em 130 anos não fi­zeram no seu con­junto as re­pú­blicas “de­mo­crá­ticas” mais avan­çadas do mundo in­teiro.»

VI Lé­nine, O Poder So­vié­tico e a Si­tu­ação da Mu­lher, 6 de No­vembro de 1919

«Re­mando contra ventos e marés, o PCP afirma que, apren­dendo com as ex­pe­ri­ên­cias po­si­tivas e ne­ga­tivas, é in­tei­ra­mente vá­lido e mo­tivo da sua exis­tência e da sua luta o seu pro­jecto de uma so­ci­e­dade nova, sem ex­plo­ra­dores nem ex­plo­rados, uma so­ci­e­dade de li­ber­dade, igual­dade e jus­tiça so­cial, o seu pro­jecto de uma so­ci­e­dade so­ci­a­lista, o seu ideal co­mu­nista.»

Álvaro Cu­nhal, Março de 1990

«En­ri­que­cidos com a ex­pe­ri­ência da pri­meira re­vo­lução so­ci­a­lista vi­to­riosa e a de­mons­tração prá­tica da su­pe­ri­o­ri­dade da nova so­ci­e­dade, é com pro­funda con­vicção de que o so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo são o fu­turo da hu­ma­ni­dade que con­ti­nu­amos a nossa luta (...)»

Je­ró­nimo de Sousa, Se­mi­nário «So­ci­a­lismo, Exi­gência da Ac­tu­a­li­dade e do Fu­turo», Junho de 2017

«Co­me­morar a Re­vo­lução de Ou­tubro é afirmar que o fu­turo não per­tence ao ca­pi­ta­lismo, per­tence ao so­ci­a­lismo e ao co­mu­nismo.»

Re­so­lução do Co­mité Cen­tral do PCP, 2016

«Passos gi­gan­tescos no pro­cesso de li­ber­tação dos tra­ba­lha­dores e dos povos foram dados pelas re­vo­lu­ções so­ci­a­listas, pela der­rota do nazi-fas­cismo, pelo ruir do co­lo­ni­a­lismo, pela con­quista da in­de­pen­dência por povos se­cu­lar­mente sub­me­tidos ao jugo co­lo­nial, pela con­quista de di­reitos e li­ber­dades fun­da­men­tais pelos tra­ba­lha­dores dos países ca­pi­ta­listas.»

Pro­grama do PCP




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