A despachar...

«Mais um ano, mais uma Festa des­pa­chada». O sus­piro de alívio das di­rec­ções de quase todos os ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial na­ci­o­nais não deve ter an­dado longe disto, no dia 3 à noite, quando muitos mi­lhares dis­seram «adeus, até para o ano!» à Festa do Avante!. Te­le­vi­sões, rá­dios e jor­nais tra­taram da Festa como quem, anu­al­mente, trata da­quele as­sunto que, por mais que a von­tade falte, tem de ser des­pa­chado. É assim que a nossa Festa – do Par­tido para as massas de tra­ba­lha­dores e de povo que por lá passam – é, com hon­rosas ex­cep­ções, en­ca­rada. Ano após ano.

Uma rá­pida pes­quisa aos nú­meros do Avante! que se se­guiram às úl­timas duas festas com­provam-no: em 2015, di­zíamos que uma es­tação de te­le­visão re­servou mais tempo à his­tória do pastel de ba­ca­lhau do que quinze no­ti­ciá­rios (!), em três es­ta­ções, à edição desse ano da Festa; no ano pas­sado, a mesma te­le­visão guardou cinco mi­nutos e nove se­gundos para a pre­sença de Mar­celo Re­belo de Sousa na edição… do ano an­te­rior.

«Mais um ano, mais uma Festa des­pa­chada». O mote as­senta tão bem nas te­le­vi­sões na­ci­o­nais que, talvez sem darem por isso, re­petem as fór­mulas para, fa­lando da Festa, não a mos­trarem. Vejam-se as peças pro­du­zidas no sá­bado, em que, tal como em 2016, mais pa­receu que pela Ata­laia só passou um go­ver­nante, onde se cruzou com meia dúzia de pes­soas.

A Festa pa­rece ser di­fícil de tratar pela nossa im­prensa. Talvez porque muitos não per­cebam – ou não queiram per­ceber… – que os co­mu­nistas não se li­mitam a as­si­nalar o re­gresso das fé­rias no pri­meiro fim-de-se­mana de Se­tembro. Pa­rece custar a com­pre­ender que, en­quanto ou­tros vão a ba­nhos, este Par­tido cons­trua uma ini­ci­a­tiva ímpar no nosso País. Não en­cai­xando na grelha com que tantos olham o mundo, nada resta que mos­trar o mí­nimo e es­conder o má­ximo do que leva tanta gente, todos os anos, à Festa do Avante!.

Com ra­rís­simas ex­cep­ções, como o tra­balho que, de novo, o ser­viço pú­blico fez sobre o pro­grama cul­tural, a Festa não passa nas te­le­vi­sões, nas rá­dios ou nos jor­nais. E dizê-lo não é exa­gero. É que a Festa, como bem sabem os muitos que por lá pas­saram, não se re­sume às in­ter­ven­ções po­lí­ticas do Se­cre­tário-geral. Mesmo essas, surgem tantas vezes nos no­ti­ciá­rios te­le­vi­sivos de forma cir­cuns­tan­cial, a pro­pó­sito de um qual­quer as­sunto la­teral, e en­ta­ladas entre peças re­pe­tidas ou lá para o meio do ali­nha­mento. Nos jor­nais, o fim-de-se­mana passou sem uma re­fe­rência de pri­meira pá­gina.

A Festa, na sua di­mensão e nas suas ex­pres­sões – po­lí­tica, cul­tural, gas­tro­nó­mica, des­por­tiva, po­pular, de so­li­da­ri­e­dade e de luta – impõe-se na­tu­ral­mente a quem custa aceitar que, no nosso País, tenha ha­vido a Re­vo­lução de Abril, com o con­tri­buto de­ter­mi­nante do PCP, e que este man­tenha um papel in­subs­ti­tuível na so­ci­e­dade por­tu­guesa, com uma ca­pa­ci­dade de re­a­li­zação ímpar – como a pró­pria Festa com­prova. Face a isto, não resta senão des­pachá-la da forma mais dis­creta pos­sível.

Mas, ao alívio de mais uma Festa pas­sada, de­certo que se junta uma enorme frus­tração. É que, de novo, os es­forços para a es­conder não che­garam para man­char o brilho da Festa do Por­tugal de Abril.




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