Concelhos consumidos pelo fogo não podem continuar à espera
INCÊNDIOS Jerónimo de Sousa esteve em Pedrógão Grande na quinta-feira, 17, e alertou que a gravidade da situação não comporta adiamentos na implementação de todas as medidas de apoio urgentes aos concelhos e populações afectadas.
A situação é demasiado grave e não comporta adiamentos
Entre Avelar e Pedrógão Grande a paisagem apresenta-se vestida de uma tristeza monocromática. Pelo IC8 penetramos no coração da catástrofe que a 17 de Junho devastou boa parte da mancha florestal e ceifou 64 vidas em Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pêra e Pedrógão Grande. É para este último que nos dirigimos seguindo o Secretário-geral do PCP, que ali se deslocou no dia em que se cumpriram dois meses sobre a tragédia.
Jerónimo de Sousa foi recebido pelo presidente da Câmara Municipal de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, visitou a Unidade de Missão e Valorização do Interior, recolocada naquele concelho depois dos incêndios, inteirou-se do papel e dos propósitos deste organismo público e, em seguida, encontrou-se com o edil na sede do município.
Não há soluções com efeito regenerador imediato, considerou o cabeça-de-lista da CDU à Assembleia Municipal de Pedrogão Grande, Amilcar Campos, com quem falámos depois de o Secretário-geral do Partido ter reunido com a direcção dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande (BVPG), iniciativa que se seguiu à reunião de Jerónimo de Sousa com o presidente da CM de Pedrógão Grande.
Amilcar Campos, que é também o presidente da Mesa da Assembleia Geral dos BVPG, esteve na conversa que Jerónimo de Sousa manteve com membros dos corpos sociais daquela associação humanitária. À saída, o Secretário-geral comunista realçou que questões estruturais que se arrastam há anos, como a desertificação e definhamento económico e social do interior ou a inércia e a inépcia no ordenamento do território, incluindo das florestas, enquadram a catástrofe e as suas consequências.
Mas Jerónimo de Sousa sublinhou, igualmente, que a ajuda de emergência aos concelhos e populações afectadas pelas chamas é todavia insuficiente e não pode esperar. Falta concretizar muitas das medidas urgentes, acrescentou, antes de salientar que, a confirmar-se a declaração do estado de calamidade nalgumas regiões do País por parte do Governo, então consolida-se a possibilidade de aceder aos fundos comunitários destinados para o efeito. Algo que não apenas se justifica como seria uma forma de a UE provar a apregoada solidariedade para com Portugal, aludiu.
Prioridade absoluta
Voltámos ao IC8 para rumar a Soure, no distrito de Coimbra, onde Jerónimo de Sousa concluiu a jornada. De um e do outro lados da estrada permanecem os trabalho de retirada do material lenhoso. Aqui cheira a madeira cortada e ouve-se o som cadenciado de moto-serras. Desviámos para o Nodeirinho.
Nos acessos e em torno da «aldeia mártir» não cheira a resina nem a folhagem, nem a terra nem a frutos. Não se ouve animais, nem galhos a quebrar e a bater nos troncos antes de aterrarem no chão cinzento. O silêncio esmagador só é interrompido por um ruído que faz lembrar o de uma serração. Dos eucaliptos calcinados vai caindo o carvão, desnudando a cor e a textura do «ouro verde», como lhe chamou um ministro dos famigerados governos de Cavaco Silva. Por todo o lado vê-se pilhas de árvores cortadas e é com «cheiro a negócio» que partimos.
Já em Vila Nova de Anços, concelho de Soure, (onde o fogo chegou a ameaçar povoações no dia anterior, quarta-feira, 16), Jerónimo de Sousa foi o primeiro Secretário-geral do PCP a participar num comício ali realizado. Depois de apresentada a lista de candidatos à freguesia, encabeçada por António Contente – que interveio na iniciativa, tal como a primeira candidata do PCP-PEV à Câmara Municipal de Soure, Manuela Santos –, o dirigente do Partido usou da palavra e voltou a advertir para a necessidade de responder no imediato «à angustia de quem perdeu muito, se não tudo».
Pese embora as políticas de fundo que importa debater e concretizar, impõe-se agir com rapidez, implementar propostas aprovadas na Assembleia da República e acelerar o processo daquelas que, tendo já sido discutidas no Parlamento, acabaram por ser proteladas para Setembro por falta de consenso do PS.
A situação é demasiado grave e não comporta adiamentos, daí a urgência de «garantir a indemnização das vítimas e apoios nos domínios da Saúde, da reconstrução das habitações, da atribuição de prestações sociais de carácter excepcional, de restituição das actividades económicas ou de construção de parques de recepção de madeiras», neste caso para assegurar «o preço justo dos salvados, combatendo os abutres que nesta fase tentam ficar com a madeira quase a custo zero», concluiu.