Venezuela patriótica e soberana

Ilda Figueiredo

A escalada golpista é acompanhada por uma agressiva guerra ideológica

Para compreender o que se passa hoje na Venezuela é importante conhecer a sua história, ligada à comemoração do Dia da Independência e à Acta da Declaração de Independência da Venezuela, a primeira na América Latina, em 5 de Julho de 1811. E ela estão ligados vários patriotas, entre os quais Simon Bolivar, que teve um papel fundamental na libertação da Venezuela (da qual chegou a ser presidente), mas igualmente da Bolívia e de outros países da América Latina.

O povo venezuelano sabe que o processo foi difícil e pleno de vicissitudes, mas o seu desejo de liberdade esteve sempre ligado à luta pela independência e soberania, o que viria a ser determinante quando, no final de 1998, Hugo Chavez foi eleito presidente da República. As transformações políticas, económicas, sociais e culturais protagonizadas desde então contaram com o apoio popular dos muitos milhões de venezuelanos vítimas da exploração da oligarquia e das multinacionais norte-americanas. Mais uma vez, a evolução progressista e patriótica da Venezuela teve influências muito positivas na luta emancipadora de outros países da América Latina.

Com a revolução bolivariana e a colocação das riquezas do país, designadamente o petróleo, ao serviço da população, alcançaram-se enormes progressos, sempre com a oposição da oligarquia local, que não se conforma com a perda do seu poder económico e não hesita em pedir a ingerência externa, designadamente dos EUA, para retomar o poder. Tal como tentou com Hugo Chavez, não desiste de utilizar todos os meios para pôr em causa o governo do presidente eleito Nicolás Maduro, multiplicando acções de desestabilização e procurando o apoio do governo norte-americano e seus aliados visando paralisar a actividade do governo, confrontar a Constituição e atacar o processo bolivariano e suas realizações.

A escalada golpista, que se está a intensificar, é sempre acompanhada de uma agressiva campanha ideológica, como assistimos em Portugal, a lembrar outros momentos graves, como o Chile democrático de Salvador Allende e o golpe fascista que se lhe seguiu, ou, mais recentemente, as Honduras, o Paraguai e o Brasil.

Ofensiva e resistência

O CPPC decidiu apelar às forças progressistas e movimentos sociais para uma acção de solidariedade no passado dia 5, junto da estátua de Simon Bolivar em Lisboa: aí saudou-se a disposição do governo venezuelano em deter as tentativas das forças violentas e agressivas que procuram fazer eclodir uma guerra civil no país e manifestou-se toda a solidariedade à luta do povo venezuelano contra a ingerência e o golpe, em defesa da liberdade, do progresso, da soberania e da cooperação entre os estados da América Latina visando o interesse dos trabalhadores e povos.

Como é fácil de entender, não são os interesses do povo venezuelano que estão por detrás do boicote económico, açambarcamento e especulação, nem são os valores democráticos que motivam os actos de violência com que grupos reaccionários e de extrema-direita tentam lançar o caos no país. Conhecemos da história recente da América Latina, a ingerência permanente e a militarização crescente que os EUA continuam a praticar, seja com ameaças e o bloqueio a Cuba, seja de apoio às forças mais reacionárias da direita fascista e antipatriótica, as quais não olham a meios para tomar o poder, ainda que as suas acções custem as vidas de compatriotas, a desestabilização e a entrega de seus países ao domínio estrangeiro. Dada a forte resistência do povo venezuelano, estas forças voltam a recorrer à guerra económica e mediática, às tentativas de golpe de Estado e à violência.

Prestar solidariedade ao povo da Venezuela implica rejeitar a criminosa guerra económica, mediática, política e diplomática (movida contra um país que tantos emigrantes portugueses acolheu) e dar todo o apoio à determinação do povo venezuelano de seguir governando o seu destino, como demonstra a mais recente iniciativa do governo de Nicolás Maduro de convocar para 30 de Julho um processo popular constituinte, chamando o povo a eleger a Assembleia Nacional Constituinte na busca de um processo pacífico e soberano que construa a saída para a crise e possibilite o desenvolvimento social e a paz.

 



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