Medidas que resolvam e respostas que clarifiquem

Rui Fernandes

O actual Governo nada fez para corrigir os retrocessos

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Afirmar que os problemas que afectam os militares e, nalguns casos, a própria Instituição, se arrastam no tempo sem resolução, é um reconhecimento que importa fazer e que em nada choca com o igual reconhecimento do que foi reposto em matéria de direitos, apoios sociais, rendimentos, etc., para importantes sectores dos trabalhadores e da população, depois da política de arrasa do governo PSD/CDS.

Afirmar igualmente que uma maior atenção e humildade por parte do Governo e do MDN, mas também do PR e Comandante Supremo das Forças Armadas, a outras opiniões, desde logo as das associações sócio-profissionais, poderia ter resultado na adopção de medidas positivas, parece ser igualmente um facto.

Tal estilo coexiste com o não resistir à tentação de pôr a rolar do ponto de vista mediático tal ou tal aspecto, por exemplo, o da alteração do regime de contrato prolongando-o até quase aos 40 anos de idade para os que tal aceitem, caso, claro está, tal se concretize. Ou seja, os jovens não aderem ao regime actual e aderirão a estar a contrato até aos 40 anos? Isto, ao mesmo tempo em que há quadros orgânicos não completados. Mais, não é tal situação a exportação de um regime de precariedade para o seio das Forças Armadas? É que não é a mesma coisa um contrato por seis anos ou por 18 anos. E não estará subjacente a essa intenção ter militares mais mal pagos, etc., etc., aliás como o foi com a recriação do posto de furriel? Estes e muitos outros aspectos são dúvidas, questionamentos que se levantam, mas o centro da questão é: não há nada mais urgente a resolver ou o objectivo é pôr «bolas a rolar»? Em nome da verdade, importa referir que o MDN, recentemente (entrevista à Rádio Renascença), até veio referir as questões remuneratórias, de certificação, etc., como aspectos que urgem ter resposta. Há anos, dizemos nós, que urgem ter resposta. Mas o facto é que não têm tido. Mais, não só não têm tido, como alguns aspectos retrocederam. E não retrocederam, nesta matéria sublinhe-se, com o actual Governo, mas com o anterior. Acontece é que o actual nada fez para corrigir esses retrocessos que são, simultaneamente, injustiças.

Nessa mesma entrevista é abordada a questão dos comandos num registo, a nosso ver, enviesado. Dizer que ninguém dos envolvidos nos acontecimentos está a dar formação é uma meia-verdade. O que está a fazer o militar comando que está em Angola? Mais, como se aceita que um militar envolvido nos acontecimentos e, por isso, susceptível de ter de se deslocar aos organismos competentes para aclarar tal ou tal aspecto, seja colocado bem longe? E fique claro que não se está aqui a discutir culpas ou não culpas. Isso é matéria que quem de direito tratará. Haverá bom-senso, para usar a expressão utilizada pelo MDN, nessa decisão? Ou houve bom-senso em terem continuado os cursos sem existir o tal referencial de curso? Quem autorizou que isso sucedesse? Foi adoptada alguma medida disciplinar? Não somos dos que disseram, face ao sucedido: acabe-se com os comandos (!), procurando cavalgar um eventual efeito populista. Não nos movemos, ao contrário de outros, por uma lógica de simpatia dos posicionamentos, mas pela sua justeza a partir da avaliação própria que fazemos. Mas também não somos dos que se contentam com umas quaisquer justificações, ao bom estilo de «o que lá vai, lá vai» ou da velha expressão de que «é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma».




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