PCP denuncia degradação na distribuição dos CTT

Serviço público<br>e direitos sob fogo

O PCP considera que há um ataque ao serviço público postal e aos seus trabalhadores, defendendo por isso ser urgente que haja uma «vontade política» capaz de «enfrentar os interesses dos grandes grupos económicos que hoje controlam os CTT».

Os lucros dos CTT aumentam mas a qualidade do serviço piora

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Múltiplos são os exemplos que comprovam essa linha de degradação e ataque, com reflexos na contínua erosão da qualidade do serviço prestado aos utentes e no agravar dos problemas dos trabalhadores.

«Agora é a própria distribuição do correio que está a ser degradada», alertou na AR, dia 14, o deputado comunista Bruno Dias numa declaração política em que demonstrou o carácter indissociável entre a situação actual e o processo que conduziu à privatização dos CTT.

A testemunhar essa deterioração e o mau serviço prestado às populações (ver caixa) está, por exemplo, o caso de um Centro de Distribuição Postal onde o correio só está a ser distribuído uma vez por semana. Essa é apenas uma situação entre as muitas detectadas em 32 CDP de vários pontos do País, segundo o apuramento feito pelas estruturas representativas dos trabalhadores da empresa, nomeadamente o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT).

O que o País tem vindo a assistir é, pois, a uma degradação deste serviço público essencial, isto depois de terem encerrado 564 estações e postos dos CTT desde 2009, e de as populações – especialmente as do interior – terem perdido centenas e centenas de escolas, tribunais e juntas de freguesia, serviços e instituições com um papel vital no esforço de contrariar o «isolamento e o abandono», como bem sublinhou o deputado do PCP.

Despedimento encapotado

 A sofrer as consequências das orientações que regem a empresa estão igualmente os seus trabalhadores das diversas áreas, os quais estão a ser alvo, segundo Bruno Dias, de uma «verdadeira operação de despedimento colectivo encapotado, por via de cartas para “rescisões por mútuo acordo”».

Uma operação – onde não têm faltado as «pressões, chantagens e assédio moral», segundo relatos dos trabalhadores – a que a administração chama de «processo de optimização de recursos humanos», mas que em rigor tem o propósito de lançar trabalhadores no desemprego, apesar de «faltar pessoal em vários sectores».

Uma realidade, em suma, que vem demonstrar, mais uma vez, que para os detentores do capital a qualidade do serviço postal e os direitos dos trabalhadores são uma coisa menor face à única lei que reconhecem: a maximização do lucro.

Daí Bruno Dias ter posto o acento tónico na necessidade de pôr cobro a esta política de ataque ao serviços público e aos trabalhadores levada a cabo pelos grupos que controlam os CTT, deixando, pela parte do PCP, a garantia de que continuará firme, ao lado das populações, na luta em defesa do serviço público postal e dos CTT, colocando a empresa «verdadeiramente ao serviço do povo e do País».

E foi no quadro dessa luta, aliás, que a bancada comunista confrontou já o Governo com a necessidade de ser dada uma resposta clara à actuação dos CTT e viu aprovado em comissão, no mesmo dia em que levou este assunto a plenário, um requerimento seu no sentido de ouvir na Assembleia da República, sobre os problemas identificados, as organizações representativas dos trabalhadores dos CTT e também a Autoridade Nacional de Comunicações.

Mau serviço e desrespeito

Situações de atraso na entrega dos vales postais com as pensões de reforma que chegam a ser de 15 dias ou mais, eis um retrato bem revelador da perda de qualidade a que chegou o serviço postal. A anomalia não se fica por aqui e em diversas regiões do País o reformado é ainda obrigado a ir de estação em estação até encontrar a que tenha o dinheiro suficiente que permita resgatar o seu vale postal.

Este é um dos vários exemplos que atesta esse grau de degradação em que mergulhou o serviço prestado pelo CTT, confirmando aliás os vários «alertas e denúncias» que têm chegado ao conhecimento da Assembleia da República.

Bruno Dias enumerou na sua intervenção várias outras situações inadmissíveis como é o caso da distribuição postal efectuada com «giro em dobra», ou seja, com recurso a carteiros disponíveis para trabalhar para além do que lhes está atribuído na sua jornada, realidade verificada em 132 casos, em 55 Centros de Distribuição Postal. E por isso «há cartas que ficam vários dias no Centro de Distribuição Postal à espera para serem entregues», denunciou o deputado do PCP, que disse ainda ter relatos de «centenas de giros agenciados», isto é, distribuição de correio subcontratada a indivíduos, a empresas que em cada momento podem ou não garantir o serviço, já que não estão enquadrados na estrutura do CTT nem são por estes substituídos se faltarem.

A descaracterização das estações de correios e mesmo a sua desarticulação naquilo que é a sua vocação e função primordial – assegurar o serviço público postal – foi outro ponto para o qual Bruno Dias chamou a atenção, lamentando que se tenham transformado em «bazares e os trabalhadores do serviço postal em vendedores de livros, discos, materiais de papelaria, etc., etc., etc.»

Medida criticável, do ponto de vista do PCP, é também a introdução de «um banco dentro dos correios», com todas as exigências de serviço e funcionamento inerentes quer para os seus trabalhadores quer para o atendimento aos utentes. «São dezenas de estações dos correios, especificamente apontadas pelos trabalhadores, onde as filas de espera e os tempos de espera se tornam insuportáveis para os utentes enquanto são colocados funcionários pela empresa não no atendimento ao serviço postal... mas no serviço bancário», condenou o deputado comunista, perante um silêncio incomodado das bancadas do PSD e do CDS, que, ficando-se pelos apartes, se demitiram de ir a debate.

Lucros a subir

Só entre Janeiro e Setembro deste ano, os lucros dos CTT ascenderam a 46 milhões de euros. A este valor acresce os 72,1 milhões registados em 2015, os 77,2 milhões em 2014, os 61 milhões em 2013. Dividendos que antes da privatização entravam nos cofres do Estado e que agora vão direitinhos para os grupos económicos a quem o anterior governo vendeu a empresa.

 

 



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