A paz constrói-se e defende-se
O Dia Internacional da Paz foi assinalado em Almada, no dia 21, numa sessão promovida pelo CPPC, o município e o movimento associativo, onde a cultura e a arte assumiram um lugar destacado.
Defender a paz é cada vez mais necessário e urgente
A sessão realizada na sede da Associação das Colectividades do Concelho de Almada, fez ontem uma semana, é resultado do protocolo de colaboração assinado no ano passado entre o CPPC e a Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD), que tem entre os seus pontos a comemoração desta data em iniciativas descentralizadas que envolvam o movimento associativo popular.
Depois de, no ano passado, ter sido assinalado no Porto, este ano coube a Almada comemorar o Dia Internacional da Paz, numa iniciativa promovida pelo CPPC, a Câmara Municipal e o movimento associativo, por intermédio da Confederação e da associação local. Grande parte das dezenas de pessoas presentes eram representantes de associações e colectividades de Almada e de concelhos vizinhos.
Na mesa da sessão, na qual se intercalaram intervenções dos representantes das organizações promotoras com momentos poéticos e musicais – de grande sensibilidade e beleza, há que dizê-lo –, estavam os presidentes da Associação das Colectividades do Concelho de Almada e da Confederação, respectivamente Jorge Rocha e Augusto Flor, o chefe de gabinete do presidente da Câmara de Almada, Alain Pereira, e o dirigente do CPPC Gustavo Carneiro.
A componente cultural constou de poesia, pela voz do actor António Olaio (que declamou magistralmente textos de Bertolt Brecht, Natália Correia, Carlos de Oliveira, Walter da Rosa Borges, Vinícius de Moraes, entre outros), e de música, com as Cantadeiras da Essência Alentejana, a cantora Sandra Costa, acompanhada por João Vieira, José Carita e Rui Freire, e ainda dois elementos da Associação da Gaita de Foles, que emprestaram uma nova sonoridade à Grândola, Vila Morena, que os presentes cantaram. Todos os artistas manifestaram a sua identificação plena com as causas e valores representados na iniciativa.
Valores e causas
Nas intervenções dos membros da mesa, uma ideia central: não basta desejar a paz, é necessário lutar por ela e defendê-la. Das várias expressões que essa construção e essa defesa assumem e podem cada vez mais assumir falaram os representantes das organizações promotoras da sessão, referindo-se cada um deles à sua área de intervenção.
Jorge Rocha, numa breve intervenção inicial, sublinhou o papel do associativismo na defesa da liberdade, da democracia e da paz e valorizou a acção quotidiana dos dirigentes associativos, que de forma generosa e benévola se entregam às múltiplas actividades culturais, desportivas, recreativas e sociais que as suas colectividades garantem às populações.
Augusto Flor, por seu lado, fez um discurso muito original estabelecendo a enorme diferença entre o quotidiano «normal» dos presentes na sessão e o dos refugiados, que se encontram privados das suas casas, das suas terras, das suas associações e, muitos, dos seus familiares, mortos ou desaparecidos. O presidente da CPCCRD realçou a evolução recente do associativismo e a sua capacidade de dar resposta às novas realidades e desafios.
Falando em nome do município, Alain Pereira optou por destacar a intensa actividade da Câmara Municipal de Almada em prol da paz, da inclusão e do conhecimento mútuo entre pessoas de diferentes origens, condições sociais, géneros e idades. O acolhimento da Tocha da Liberdade e da Paz em 2014, o protocolo com o CPPC e as várias iniciativas dele decorrentes e a actividade cultural, desportiva e social da autarquia foram também valorizadas.
O dirigente do CPPC passou em revista as principais ameaças à paz que marcam a actualidade e apelou ao empenho dos presentes e das associações em que participam num combate que, sublinhou, «interessa a todos». Gustavo Carneiro garantiu ainda que «não estamos sós», pois noutras zonas do País e um pouco por todo o mundo cresce e reforça-se a luta pela paz e a solidariedade.
Tempos exigentes
O CPPC assinalou o Dia Internacional da Paz com um documento onde reafirma o seu apelo a «todos quantos sinceramente defendam a paz para que se unam em torno dos princípios proclamados na Carta das Nações Unidas e na Constituição da República Portuguesa». Estes princípios, lembra, têm como valores essenciais a «defesa da soberania e independência nacionais, da não ingerência nos assuntos internos dos estados, da solução pacífica dos conflitos internacionais, da cooperação entre países em prol da emancipação e do progresso da Humanidade».
Para o CPPC, estes são ainda princípios «presentes na aspiração dos povos ao fim de todas as formas de colonialismo e de dominação nacional, ao desarmamento, à dissolução dos blocos político-militares, ao reconhecimento do direito dos povos à autodeterminação», que urge tornar realidade. É, assim, a «recuperação e o exercício destes valores nas relações internacionais que abrirá o caminho à paz», pelo qual os povos e a humanidade anseiam. Da parte do CPPC, é certa a continuação do seu empenhamento em prol destes princípios e valores.
No comunicado, o Conselho traça ainda um panorama das «múltiplas e graves ameaças à paz» com que os povos e a Humanidade estão confrontados: o incremento do militarismo, a corrida aos armamentos, incluindo nucleares, a instalação de novas forças e meios militares um pouco por todo o mundo, as «inúmeras operações de ingerência e desestabilização contra estados soberanos», as múltiplas guerras de agressão e ocupação e o aperto do cerco militar à Rússia e à China por parte dos EUA e da NATO são as principais.