Temer mais isolado
Em dezenas de cidades de 20 estados brasileiros, milhares de pessoas participaram na jornada de luta de dia 22 contra as medidas antipopulares e o governo golpista do Brasil, cada vez mais contestado e isolado.
Manifestações e greves ocorreram sob o lema «nenhum direito a menos»
As manifestações, concentrações e greves convocadas pelas seis principais centrais sindicais do país e por movimentos sociais sob o lema «nenhum direito a menos» realizaram-se no quadro da preparação de uma greve geral cujo objectivo é elevar o patamar de contestação à precarização laboral e social que o executivo liderado por Michel Temer pretende impor. Numa nota divulgada no site de notícias do Partido Comunista do Brasil, a jornada ocorrida faz hoje uma semana é relatada como tendo tido um carácter de massas de Norte a Sul do país.
Nas empresas e locais de trabalho, de acordo com informações divulgadas pelo vermelho.org.br, a Prensa Latina e a Telesur, sobressaem os protestos e paralisações levadas a cabo pelos trabalhadores bancários, cuja adesão rondou os 55 por cento obrigando ao encerramento de mais de 13 mil sucursais e três centros administrativos das maiores entidades financeiras; e pelos metalúrgicos de São Paulo, que segundo apurou o sindicato ABC, paralisaram parcialmente a produção em 22 empresas.
Em Minas Gerais, trabalhadores dos sectores da metalurgia, dos correios e da energia, desfilaram para a sede legislativa local, onde os deputados estaduais discutiam cortes na Saúde e na Educação promovidos pelo governo golpista.
As mobilizações laborais e populares no Brasil não dão sinais de abrandar, antes pelo contrário. Reagindo ao anúncio da venda da rede de gasodutos a um consórcio canadiano, parte de um plano que os trabalhadores dizem ter como propósito desmantelar a estatal petrolífera Petrobras, operários, técnicos e quadros superiores da empresa acusaram o governo de cometer um «crime antipatriótico» e prometem não ficar parados.
Segunda-feira, estudantes da cidade de São Paulo, sobretudo, mas também professores, marcharam contra a chamada reforma educativa no Ensino Secundário, atribuindo ao governo golpista a intenção de criar uma escola para os ricos e outra para os pobres. Em causa está a eliminação das disciplinas de humanidades e educação física, afectando cerca de 85 por cento do total dos jovens que frequentam aquele grau de ensino em estabelecimentos públicos. E ainda que, face ao repúdio para com a medida, Michel Temer tenha aparentemente recuado no processo legislativo, o protesto e a denúncia mantiveram-se.
Campanha
Depois de ter sido confirmado que o processo judicial envolvendo o ex-presidente do Brasil, Lula da Silva, vai mesmo prosseguir, nos últimos dias a judicialização da política protagonizada na «Operação Lava Jato» conheceu um novo episódio: a detenção do ex-ministro da Finanças, Guido Mantega, a pretexto da necessidade de o encarcerar enquanto prosseguiam diligências de obtenção de prova.
A prisão foi repudiada pelo antigo número três na hierarquia do Ministério Público Federal e ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, para quem os procurados da Lava Jato e o seu responsável máximo, Sergio Moro, agem sem freio.
No mesmo sentido pronunciaram-se, sexta-feira, 23, mais de uma centena de académicos, investigadores, jornalistas, intelectuais e artistas, que em manifesto criticaram a «cultura da arbitrariedade», consubstanciada quer na repressão e tentativa de abafamento dos protestos populares antigolpistas, quer nas iniciativas da «Operação Lava Jato», e garantiram a sua disponibilidade na defesa da ordem constitucional e das instituições democráticas.
A presidente reeleita por 54 milhões de brasileiros mas destituída por um punhado de senadores sob falsos argumentos, Dilma Rousseff, também se pronunciou sobre o modo, o motivo e o eco dado à detenção de Guido Mantega, alertando que «tem gente fazendo investigação selectiva e tem gente fazendo notícia selectiva». A iniciativa está relacionada com o sufrágio municipal brasileiro, considerou a ex-presidente, que não se tem coibido de participar em actos de campanha eleitoral onde convergem a contestação ao golpe, a defesa dos direitos sociais e laborais alcançados nos últimos doze anos, e a eleição de pessoas vinculadas com a democracia e o progresso.
Dilma Rousseff participou, a semana passada, por exemplo, em desfiles-comício com milhares de pessoas em apoio às candidatas do PCdoB em Salvador e Rio de Janeiro, Alice Portugal e Jandira Feghali, respectivamente.
O mesmo tem feito Lula da Silva, que como Dilma Rousseff se encontra em périplo pelo Brasil para apoiar candidatos do PCdoB e do PT. No Nordeste, o ex-presidente considerou que talvez o seu crime «tenha sido criar o Bolsa Família ou ter colocado o filho do pobre no banco da universidade».