E se debatessem?
Joseph Stiglitz, norte-americano Prémio Nobel da Economia em 2001 e um teórico de nomeada na ciência económica, deu uma entrevista à Antena 1 que os canais de televisão, parcimoniosamente, difundiram.
Dirigindo-se aos portugueses, afirmou que «chega-se à conclusão de que ficar [na Zona Euro] tem custos mais elevados do que sair». Mais: «Penso que Portugal e outros países em crise devem informar a Zona Euro de que os actuais acordos não funcionam».
Neste ponto, uma voz off da RTP 3 informa que «Stiglitz considera que a Europa não tem condições para fazer as mudanças necessárias. Lembra que a ideia de continuar na Moeda Única tem sido defendida na esperança de que a Alemanha tomará uma posição mais suave sobre a austeridade. Mas diz que ela vai continuar. Assim, o melhor é uma saída ordenada».
«Ao saírem do euro» diz, começa um processo de reestruturação da vossa dívida. E ficam libertos de restrições que vos impedem de crescer. Há uma transição única e difícil, mas ao se libertarem de uma vez dessas restrições, a vossa economia poderá crescer».
E, de novo, na voz off: «com as actuais regras e limitações, países como Portugal e a Grécia terão recessão e depressão económicas sem fim».
Joseph Stiglitz é um economista norte-americano titular e estudado nas principais cátedras universitárias dos EUA, pelo que as televisões não se atreveriam a ignorá-lo. Em nome da «independência» passaram-no, pois claro, em dois ou três noticiários e fizeram-no desaparecer de cena.
A manta da manipulação também é curta, tapa de um lado e destapa no outro.
O lado destapado é a sanha de promover comentários, debates e opiniões expendidos pelos mesmos cortesãos televisivos, seja por uma décima no défice ou uma previsão que pareça desfavorável. Aí, escancara-se a loja, diversificam-se os debates, convocam-se especialistas, «faz-se informação».
O lado oculto é o que mal mostra e, em absoluto, não discute as afirmações de um Prémio Nobel a dizer, aos portugueses, que «ficar na Zona Euro tem custos mais elevados do que sair», que Portugal e outros países em crise «devem informar a Zona Euro de que os actuais acordos não funcionam», que «ao saírem da Zona Euro» e reestruturarem a dívida «ficam libertos de restrições que vos impedem de crescer» e que «há uma transição única e difícil» mas libertadora das restrições e promotora do crescimento.
Afirmações desta envergadura não merecem debate televisivo, discussão de especialistas, «direito ao contraditório», como os plumitivos das hierarquias jornalísticas propagandeiam? Não se deveria confrontar Passos e Cristas com tão assertivas e qualificadas afirmações?
Claro que não. As direcções de todos os canais televisivos jogam noutra equipa, que não a do País.