Lutas nos aeroportos, na hotelaria e na enfermagem

Greves fortes com razões justas

Com uma greve histórica no sector, os trabalhadores da segurança dos aeroportos mostraram ao País as graves condições a que as multinacionais Vinci, Prosegur e Securitas os sujeitam. Nestes últimos dias de Agosto, fizeram greve também enfermeiros e trabalhadores da hotelaria.

Da unidade, da organização e da luta dos trabalhadores depende a derrota da exploração

O Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos saudou «a extraordinária coragem, determinação e força» que os APA (assistentes de portos e aeroportos) demonstraram na greve de 24 horas, realizada no sábado, dia 27, antecedida de greve ao trabalho suplementar, desde quarta-feira, 24.
«Resistindo às ameaças, às chantagens, às ilegalidades, à contra-informação e até à tentativa de impedir o exercício do direito à greve, os APA deram a conhecer ao País e ao mundo as suas condições de trabalho terceiro-mundistas», destacou o Sitava, num comunicado que divulgou esta segunda-feira, 29, e no qual alertou que «não vai ser possível às multinacionais Vinci, Prosegur e Securitas continuarem a ignorar as reivindicações» dos trabalhadores, para aumentarem os lucros intensificando a exploração.
O sindicato da Fectrans/CGTP-IN acusou as empresas de terem desvalorizado a capacidade de luta dos APA. Agora, «o aviso está feito e o Sitava assume claramente que, ou as multinacionais da exploração vêm ao caminho, ou então mais dias “27” se seguirão».
A greve foi convocada a 8 de Agosto, ao fim de nove meses de negociações do novo contrato colectivo de trabalho. A AES (Associação das Empresas de Segurança, presidida pelo advogado Rogério Alves e de cuja direcção fazem parte os patrões da Prosegur e da Securitas) fez depender a actualização salarial da aceitação pelo Sitava do contrato firmado com uma estrutura da UGT.
A resposta foi dada em plenários de trabalhadores, a 5 de Agosto, confirmando a opção pela greve, para exigir o fim da precariedade e dos baixos salários, um contrato colectivo de trabalho sem «flexibilização» dos horários e contemplando medidas, como o fim da «jornada» («banco» de horas encapotado) e a criação de uma carreira profissional, de modo a que haja estabilidade e perspectivas de futuro.
No dia da greve e na concentração que nessa manhã teve lugar no Aeroporto Humberto Delgado, com centenas de trabalhadores, ganhou especial destaque a exigência de medidas urgentes no âmbito da saúde e segurança no trabalho. Dirigentes do sindicato e vários APA, como também o Secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos, referiram a falta de sanitários, vestiários, balneários e refeitórios e mesmo de intervalos no horário para as refeições. Apontaram ainda as escalas com jornadas até 12 horas, sem os dias de descanso legalmente exigidos e que incluem regularmente trabalho extra, o que também é ilegal.

O PCP, num comunicado do sector de Transportes da Organização Regional de Lisboa, saudou os APA e «a sua maior greve de sempre», com níveis de adesão superiores a 70 por cento no aeroporto de Lisboa, assinalando que ela «significou ainda uma poderosa vitória dos valores democráticos e uma derrota daqueles que, a partir do Governo, da multinacional Vinci (ANA) e das multinacionais do sector (Prosegur e Securitas) recorreram a todas as ilegalidades para travar a greve».
Reafirmando que está «activamente solidário» com a luta dos APA (e dando nota das iniciativas do grupo parlamentar na AR, bem como da presença do deputado Bruno Dias na concentração), o Partido exigiu do Governo que «deixe de ser cúmplice com a exploração dos trabalhadores portugueses» por multinacionais que estão «a abusar de concessões públicas».

 

De Albufeira a Guimarães

Os trabalhadores do Centro de Férias de Albufeira da Fundação Inatel fizeram greve no dia 23, terça-feira, contra a degradação dos salários e das condições de trabalho. De manhã, como informou o Sindicato da Hotelaria do Algarve, concentraram-se na entrada principal e percorreram as várias zonas do estabelecimento, gritando palavras de ordem e distribuindo aos clientes um comunicado em três línguas.
O sindicato da Fesaht/CGTP-IN valorizou o facto de os trabalhadores se terem manifestado disponíveis para futuras formas de luta, caso a administração não responda positivamente às reivindicações de reposição da progressão retirada em Fevereiro e do pagamento dos feriados com um acréscimo de 200 por cento, bem como da generalização das 35 horas semanais que vigoram na sede.
À Autoridade para as Condições do Trabalho o sindicato pediu que interviesse, perante a substituição de trabalhadores em greve, mas a ACT limitou-se a telefonar, dizendo que não havia razão para ir ao local.

No dia 24, dezenas de trabalhadores participaram no protesto que teve por objectivo denunciar a repressão patronal no Hotel Crowne Plaza Vilamoura. Uma manifestação percorreu a estrada que liga a marina, o casino e as principais unidades hoteleiras daquele centro turístico do concelho de Loulé, terminando junto ao Crowne Plaza. Aqui, os coordenadores do sindicato e da União dos Sindicatos do Algarve exigiram a imediata retirada dos processos disciplinares com intenção de despedimento.

Uma acção de esclarecimento e sensibilização dos trabalhadores da restauração e hotelaria foi realizada em Fátima, no dia 24. O Sindicato da Hotelaria do Centro salientou que este destino de turismo religioso tem mais alojamento do que todos os distritos da região, estimando que estejam sujeitas a condições ilegais ou com vínculos precários mais de metade das cinco mil pessoas que ali trabalham, desde a semana de 13 de Maio e com maior incidência nos meses de Setembro e Outubro. Anteontem, dia 30, uma iniciativa semelhante decorreu em Espinho, com incidência particular no Casino Solverde.

O «plano nacional de luta» dos enfermeiros, pela aplicação da semana de 35 horas sem discriminação e pela contratação de mais profissionais, de modo a obter melhores condições de trabalho e de prestação do serviço, e também pelo pagamento do trabalho suplementar já realizado (dezenas de milhares de horas acumuladas), prossegue até amanhã, dia 2, nos hospitais de Barcelos e de São João (Porto), com greves e concentrações.

De 22 a 26, de manhã, fizeram greve os enfermeiros do Centro Hospitalar Tondela-Viseu, com concentrações diárias no hospital da capital do distrito. Com índices de adesão muito elevados, fizeram greve também, nos dias 24 e 25, os enfermeiros dos hospitais da Covilhã e do Fundão (Centro Hospitalar Cova da Beira). No dia 26, de manhã, fizeram greve mais de metade dos enfermeiros do Hospital de Santo António (Porto). Com cerca de 90 por cento de adesão, em média, terminou no dia 26 um período de greves de quatro dias no Hospital de Guimarães.