Faleceu Silas Cerqueira
«Membro do Partido Comunista Português desde a década de cinquenta e destacado activista do Movimento da Paz, faleceu segunda-feira, dia 22, aos 86 anos, Silas Coutinho Cerqueira», informou o Secretariado do Comité Central do PCP, que manifestou à família pesar e sentidas condolências.
«Silas Cerqueira foi um incansável combatente anti-fascista, participou no MUD Juvenil e no Movimento da Oposição Democrática», detalha-se na nota.
«Em finais dos anos cinquenta radicou-se em França onde se tornou investigador na área das Ciências Sociais e aí prosseguiu uma diversificada actividade política unitária tendo sempre como principal referência a situação em Portugal. Simultaneamente empenhou-se na solidariedade com outros povos, com destaque para o povo do Vietname, em luta contra a agressão do imperialismo norte-americano, e os povos submetidos ao jugo colonial português e respectivos movimentos de libertação nacional. Participou activamente na luta contra a repressão fascista e pela libertação dos presos políticos portugueses.
«De regresso a Portugal com a Revolução de Abril, Silas Cerqueira (...) dedicou-se com grande empenho ao movimento da paz e da solidariedade, participando no relançamento e institucionalização do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) e no estreitamento das suas relações com o Conselho Mundial da Paz e outras organizações unitárias internacionais, como a Organização de Solidariedade com os Povos de África e Ásia.
«Sob o impulso da Revolução de Abril e com a sua activa contribuição, tiveram lugar em Portugal importantes Conferências Internacionais de Solidariedade como a «Conferência Mundial de Solidariedade com o Povo Árabe e a sua Causa Central: a Palestina, em que participou a OLP como única e legítima representante do povo palestiniano», acrescenta-se.
«Desempenhou um papel de relevo na luta pelo desarmamento, em particular o desarmamento nuclear, em que é de destacar o Movimento ZLAN – Zonas Livres de Armas Nucleares».
«Silas Cerqueira foi membro da Direcção do CPPC durante dezenas de anos e integrava actualmente a sua presidência. Era também membro da Direcção Nacional do Movimento Pelos Direitos do Povo Palestiniano e Pela Paz no Médio Oriente – MPPM, do qual foi um dos fundadores».
CPPC de luto
Reagindo à morte de Silas Cerqueira, o CPPC, por seu lado, lembrou, entre outros aspectos, o intelectual comprometido com o progresso e a emancipação social e nacional dos povos, exemplificando com o facto de, enquanto leccionou nos EUA, ter tomado contacto e combatido «contra a discriminação racial e também com a cruel realidade da Guerra da Coreia, colocando-se, de imediato, ao lado do povo coreano» e «pela independência e reunificação do país».
«Este seu envolvimento na luta pela paz valeu-lhe a prisão, em finais de 1952. (…) Em 1955 seria detido no Porto com mais de uma centena de outros jovens dos quais 52 seriam julgados em 1957, entre eles Silas Cerqueira e sua mulher Antónia Lapa. Voltaria a ser preso várias vezes, designadamente em 1953, 1954 e 1958», lembra o CPPC, que destaca, ainda, o empenho de Silas Cerqueira na «criação do Movimento Português contra o Apartheid», no âmbito do qual «Nelson Mandela participou num conjunto de acções de contacto com o povo português, que tantas vezes expressou a sua solidariedade para com a luta do povo sul-africano».
As cerimónias fúnebres prosseguem hoje, na Casa da Paz (sede do CPPC, em Lisboa, Rua Rodrigo da Fonseca, 56, 2.º), até às 16h00, altura que o corpo de Silas Cerqueira será transportado para o cemitério do Alto de São João, onde chegará às 17h00.