Na crista da submissão
Muita tinta, e não menor dose de conversa, tem rodeado a nomeação da nova administração da Caixa Geral de Depósitos. Mais coisa menos coisa, o que para aí se tem dito vagueia entre considerações curriculares, morosidade do processo ou a arreliadora rectificação da composição do elenco decidido pelo Governo que resultará de um escrutínio feito a partir de Frankfurt. À margem, esclarecedora e compreensivelmente, têm ficado quer aspectos de avaliação sobre os critérios e opções da escolha dos futuros membros, designadamente quanto às garantias de uma gestão ditada pelo interesse público na CGD que seria necessário preencher, quer matérias de natureza remunenatória que estão associadas à solução. E sobretudo, sob um manto de silêncio feito de chumbo, de fora permanece a primeira e mais importante questão: o intolerável facto de a simples decisão de nomeação de administradores do banco público nacional residir não em Portugal e nas suas instituições, mas em Bruxelas e Frankfurt.
À generalizada e acomodada turba dos que não distinguem, por opção e convicção, os limites e fronteiras de soberania juntou-se, de viva voz, a líder do CDS-PP. Fazendo jus a um passado recente, veio à liça dar conta da sua indignação. Não para contestar a decisão do BCE, como um qualquer telespectador menos atento seria levado a concluir da engenhosa construção mediática que um canal de televisão se apressou a ecoar «PCP e BE (a propósito de declarações inseridas na peça) parecem concordar com a oposição (leia-se CDS)». O que indigna Cristas, como se pode concluir das suas afirmações «vergonhosas para o nosso País porque é preciso alguém vir-nos dizer que não estamos a cumprir a lei que nós próprios fizemos», não é a ingerência mas sim o facto do País não cumprir direitinho as regras e imposições da União Europeia e da União Bancária e de ter de ser o BCE a pôr as coisas na ordem. O que ali mora já todos sabíamos por quatro anos de experiência feita com Cristas, Passos, Portas e Maria Albuquerque: não qualquer arremedo de afirmação patriótica ou defesa do interesse nacional mas tão só saudades da atitude rastejante de quem a partir do governo fez tudo para tentar submeter Portugal.