Acampamento pela Paz realizou-se
no fim-de-semana em Silves

Juventude pela Paz<br>pela Constituição,<br>por Abril

Miguel Moura

Silves acolheu, no passado fim-de-semana, a 6.ª edição do Acampamento pela Paz, organizado pela Plataforma 40x25, sob o mote dos 40 anos da Constituição da República Portuguesa (CRP).

A paz está relacionada com a educação, a cultura, o desporto

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Os autocarros chegaram na sexta-feira vindos de todo o País com mais de 300 jovens que fizeram do Sítio Encantado um espaço de lazer, de aprendizagem e de união em defesa das conquistas da Revolução de Abril.

Uma sessão de curtas-metragens, no salão de jogos, deu início às actividades do Acampamento. «Eu, Favela», de Ana Luíza Mello e Viviane Giaquinta, «Por Longos Dias», de Mario Giuntini e com texto de José Saramago, e «Nuvem Negra», de Basil da Cunha, mostraram que o racismo e a xenofobia põem em causa o direito à educação, ao trabalho com direitos e à vida digna e que esta é uma realidade frequente. Henrique Costa, da Frente Anti-Racista, afirmou que «em Portugal, apesar de a CRP garantir que ninguém pode ser discriminado em função da sua origem, raça ou etnia, o racismo e a xenofobia ainda estão muito presentes», concluindo de seguida que «não é possível haver paz enquanto houver discriminação». A noite terminou com o DJ Daniel K a pôr os jovens a dançar num relvado com vista para as serras de Silves.

Luta pela paz, desporto e cultura

O torneio de voleibol arrancou um sábado repleto de actividades. Ao mesmo tempo decorria uma demonstração de ginástica, proporcionada pelos jovens da Casa do Povo de São Bartolomeu de Messines, que contou com uma vasta plateia nas esplanadas e dentro da piscina. Durante a tarde, houve tempo para um workshop de Jogo do Pau, a única arte marcial portuguesa e de origem popular, e um outro de televisão, no qual foram simuladas entrevistas e telejornais e houve ainda tempo para uma visita guiada à cidade de Silves.

Após jantarem na Escola Secundária de Silves, centenas de jovens saíram em desfile contra os ataques à paz e aos direitos. «Paz sim! Nato Não!», «Educação/Trabalho sim! Nato não!», «Com a Nato andamos para trás!» e «Temos solução! Cumprir a Constituição!» foram algumas das palavras de ordem mais ouvidas.

Chegados à Fissul, os Twenty Fourteen iniciaram o concerto, seguindo-se Tiago Pinheiro e Domi. Dezman aproveitou a ocasião para apresentar o seu projecto «Shaolin Caixaguense» e a noite terminou com Zeca e os Pelintras a animarem o recinto com covers pop/rock de bandas conhecidas.

Pelo meio, foi pintado um mural em defesa dos valores da Paz. Na sua realização participou a presidente da Câmara Municipal de Silves, Rosa Palma. Durante o concerto, a plataforma 40x25 entregou também a placa de «Cidade da Paz» e «Freguesias da Paz» aos eleitos autárquicos de Silves e Messines, numa demonstração de reconhecimento do apoio dado pelas autarquias à realização do Acampamento pela Paz.

No domingo, houve tempo para participar no torneio de futebol e no workshop de fornos solares, que permitem cozinhar refeições utilizando apenas a energia do sol. Da parte da tarde a piscina e as esplanadas encheram-se, antes de os autocarros voltarem para os respectivos pontos de partida.

Uma Constituição com futuro

O debate sobre a Constituição da República Portuguesa, realizado no sábado, foi um dos momentos altos do Acampamento pela Paz. Mário Cunha, advogado convidado, abriu o debate afirmando que «as medidas de apoio à NATO são inconstitucionais», e que aquela organização «não tem outro papel que não o da agressão sob a falsa égide da libertação» e que é a «principal origem da crise dos refugiados e do surgimento de grupos extremistas», como é o caso do autoproclamado «Estado Islâmico».

Helena Casqueiro, da JCP, acrescentou que a CRP é o «produto de um processo de luta desencadeado por pessoas como nós que saíram à rua», no qual a «juventude deu, na época, um contributo decisivo para este processo».

Da parte da Interjovem/CGTP-IN, Diogo Correia afirmou que a CRP é «constantemente violada nos locais de trabalho». A precariedade, os horários desregulados, os baixos salários e a repressão dentro das empresas foram alguns exemplos referidos.

Por sua vez, Francisco Pereira, do CPPC, declarou que «os nossos governos têm estado do lado dos que fazem a guerra e atacam os direitos humanos, como é o caso do apoio à NATO ou a Israel, à Ucrânia ou ao golpe antidemocrático no Brasil», rematando de seguida que «a CRP tem lá definido qual deve ser a posição do nosso Estado».

«Que vida é que cada um de nós teria se a CRP fosse cumprida?», questionou Helena Casqueiro na intervenção inicial. E do debate resultou uma certeza: apesar dos seus 40 anos, esta CRP é o garante de um futuro mais digno, sendo necessário continuar a luta pela efectivação dos direitos nela consagrados. 


Festival Mundial da Juventude
e dos Estudantes

As organizações que compõem a Plataforma 40x25 realizaram uma reunião no Acampamento pela Paz para discutir as questões relacionadas com o Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, a realizar em Sotchi, na Rússia, em 2017. Foram aí dados os primeiros passos para a constituição do Comité Nacional Preparatório que tratará das questões referentes à participação da juventude portuguesa nesse Festival. Nessa reunião estiveram presentes representantes da JCP, da Associação Pioneiros de Portugal, da Ecolojovem «Os Verdes», da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, da Frente Anti Racista, da Associação de Amizade Portugal-Cuba, da Associação Portuguesa de Amizade e Cooperação Iuri Gagarine, da Interjovem/CGTP-IN, da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Santa Maria (Sintra) e do Conselho Português para a Paz e a Cooperação.