Compositores

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Ge­orge Bizet (1838-1875)
Suite L’ Ar­lé­si­enne nº. 2

Com­posta como mú­sica de cena para a peça L’ Ar­lé­si­enne (de Alphonse Daudet), por oca­sião da es­treia desta em Ou­tubro de 1872, esta fa­mosa obra do grande com­po­sitor francês di­vidia-se em mais de 20 nú­meros mu­si­cais de maior ou menor du­ração, que in­ter­vi­nham como co­men­tário ou pon­tu­ação às in­ci­dên­cias e ao de­sen­rolar da in­triga.
Dizem as cró­nicas que a peça te­a­tral em questão não sus­citou par­ti­cular êxito nem de­morou muito tempo em cena;  mas o facto é que a mú­sica, como tal, iso­la­da­mente con­si­de­rada, so­bre­viveu com par­ti­cular apreço por parte do pú­blico, como obra si­mul­ta­ne­a­mente de grande fô­lego
e de­li­ca­deza.
Ge­ral­mente di­vi­dida, en­quanto mú­sica pura, em duas suites, por vezes to­cadas em se­pa­rado, aquela que ou­vi­remos a abrir o con­certo de hoje é pre­ci­sa­mente a nú­mero dois. E o ar­ranjo or­ques­tral que ficou co­nhe­cido desta parte, re­a­li­zado por Er­nest Gui­raud a partir dos temas ori­gi­nais de Bizet, foi pu­bli­cado já em 1879, por­tanto após a morte do com­po­sitor, mas man­tendo-se fiel e con­ser­vando o ha­bi­tual fas­cínio e mu­si­ca­li­dade do mestre.
Di­vi­dida em quatro an­da­mentos — I – Pas­toral; II – In­ter­mezzo; III – Mi­nueto; e IV – Fa­rân­dola –, este úl­timo in­clui a fa­mosa Marcha dos Reis, que era ou­vida no início da peça.

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Giu­seppe Verdi (1813-1901)
Va pen­siero (Coro) da Ópera Na­bucco

Giu­seppe Verdi foi um dos mai­ores com­po­si­tores ita­li­anos de todos os tempos, em par­ti­cular no do­mínio da Ópera, no qual su­cedeu, em termos de im­por­tância e gran­di­o­si­dade, a ou­tros grandes com­pa­tri­otas seus como Bel­lini, Do­ni­zetti ou Ros­sini.
Quantos me­ló­manos não con­ti­nuam a nu­trir uma per­ma­nente paixão pela au­dição de obras-primas imor­tais da sua lavra, como Mac­beth, Ri­go­letto, Os Tro­va­dores, Um Baile de Más­caras, A Força do Des­tino, Don Carlos, Aida, Otello, para apenas men­ci­onar al­gumas das mais co­nhe­cidas.
Sendo que, por um lado, a sua vo­lu­mosa pro­dução mu­sical o trans­formou numa das per­so­na­li­dades mais sin­gu­lares e dis­tintas do mo­vi­mento ope­rá­tico ita­liano, o ci­dadão Verdi sempre se dis­tin­guiu, por outro lado, no plano cí­vico e po­lí­tico, o que se tra­duziu, por exemplo, na sua adesão ao mo­vi­mento do Ris­sor­gi­mento que sempre pugnou e se bateu pela reu­ni­fi­cação da Pá­tria.
Não por acaso, vá­rios tre­chos co­rais das suas óperas re­flec­tiram em par­ti­cular e da me­lhor ma­neira este po­si­ci­o­na­mento e estas ideias, como se diz ser o caso da­quele que  te­remos o gosto de ouvir neste con­certo: o muito cé­lebre Va Pen­siero, da ópera Na­bucco (es­treada em 9 de Março de 1842 no Te­atro alla Scala, de Milão).
Também co­nhe­cido como Coro dos Es­cravos He­breus, este trecho po­de­roso e pleno de sig­ni­fi­cado situa-se no ter­ceiro acto da ópera, tendo al­guns es­tu­di­osos ita­li­anos adi­an­tado que a sua com­po­sição e in­tro­dução na ópera terá sido pen­sada, pelo com­po­sitor, como um hino que unisse todos os pa­tri­otas ita­li­anos.
E o facto é que, até aos dias de hoje, este sen­ti­mento se tem man­tido, tendo fi­cado cé­lebre, du­rante uma ré­cita do Na­bucco, re­a­li­zada em 2011 no Te­atro de Ópera de Roma, uma in­ter­venção po­lí­tica do ma­estro Ric­cardo Mutti pe­rante o pró­prio Ber­lus­coni, em pro­testo contra os cortes or­ça­men­tais e pela so­be­rania da Itália, se­guida da exe­cução de Va Pen­siero, pelo coro e por toda a as­sis­tência pre­sente.

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Mikhail Glinka (1813-1901)
Ruslan e Lud­milla (Aber­tura)

Eis de novo mais mú­sica de cena a ilus­trar este con­certo. Desta vez, trata-se da co­nhe­cida Aber­tura para a ópera Ruslan e Lud­milla, uma obra de clara ins­pi­ração russa, de grande in­si­nu­ação me­ló­dica e har­mó­nica e poder so­noro e or­ques­tral, que o com­po­sitor russo Mikhail Glinka compôs ao longo de seis anos, entre 1837 e 1842.
Esta ópera, com li­breto de Va­le­rian Shirkov, Nestor Ku­kolnik e N.A. Mar­ke­vich, teve como ponto de par­tida e ins­pi­ração o poema ho­mó­nimo de Ale­xander Pushkin, da­tado de iní­cios dos anos 20 do sé­culo xix, e, para além da sua es­treia pouco en­tu­siás­tica em S. Pe­ters­burgo, em 1842, dada então a su­pre­macia e a moda da ópera ao «es­tilo ita­liano», foi muito bem re­ce­bida nas suas es­treias de Lon­dres (1931) e Nova Iorque (1942), esta numa versão de con­certo.
Do muito que se po­deria dizer desta obra, re­fira-se, a tí­tulo de cu­ri­o­si­dade, que a Aber­tura, que ou­vi­remos, é tra­di­ci­o­nal­mente con­si­de­rada um ver­da­deiro «pe­sa­delo» para o naipe de con­tra­baixos, dadas as di­fi­cí­limas pas­sa­gens que estão a seu cargo. No geral, para além da uti­li­zação de me­lo­dias do fol­clore russo, Ruslan e Lud­milla, é muito apre­ciada ainda entre os com­po­si­tores, pelo o uso (pouco ha­bi­tual à época) de modos ori­en­tais e da es­cala de tons in­teiros.

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Éti­enne Ni­colas Méhul
«Chant du Dé­part»
Poema de Marie-Jo­seph Ché­nier

Nas­cido em 22 de Junho de 1763 e fa­le­cido em 18 de Ou­tubro de 1817, Éti­enne Ni­cholas Méhul é con­si­de­rado o com­po­sitor clás­sico mais im­por­tante do pe­ríodo da Re­vo­lução Fran­cesa. Além de nu­me­rosos con­certos e óperas (entre as quais se des­taca «Eu­fro­sina»), compôs vá­rias peças de ín­dole pa­trió­tica para serem apre­sen­tadas em es­pec­tá­culos e ce­le­bra­ções do pe­ríodo re­vo­lu­ci­o­nário.
Entre estas, a mais co­nhe­cida é «Le Chant du Dé­part», com letra de Marie-Jo­seph Ché­nier, irmão de André Ché­nier. O tema ce­le­brou a der­rota das tropas es­tran­geiras que ame­a­çavam a re­vo­lução, re­fe­rindo igual­mente as lutas tra­vadas na Ven­deia entre os exér­citos re­pu­bli­canos e os mo­nar­quistas chouans.
Al­ta­mente apre­ciada quando da sua es­treia (no­me­a­da­mente por Ro­bes­pi­erre) o «Chant du Dé­part» foi con­si­de­rado hino ofi­cial mi­litar e mi­lhares de pautas foram dis­tri­buídas pelos re­gi­mentos, o que levou os sol­dados a bap­ti­zarem-no «A Irmã da Mar­se­lhesa».
De­sen­vol­vendo-se em vá­rios qua­dros, o mais po­pular re­fere os fu­zi­la­mentos pelos mo­nar­quistas dos jo­vens tam­bores re­pu­bli­canos Jo­seph Bara (com 12 anos, feito pri­si­o­neiro, re­cusou gritar «Vive le roi», res­pon­dendo «Vive la Ré­pu­blique) e Jo­seph Agri­cole Viala, com 13 anos, aba­tido quando ten­tava der­rubar uma ponte de forma a im­pedir o avanço ad­ver­sário.

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Free at Last
Es­pi­ri­tual negro, rec. J.W Work

O es­pi­ri­tual Free at Last, in­cluído em­bora no re­por­tório de vá­rios grupos co­rais e so­listas (Joan Baez, Al Gre, Mal Wal­dron) ga­nhou par­ti­cular di­mensão cul­tural e po­lí­tica em 1963, quando da Marcha sobre Washington na qual Martin Luther King en­cer­raria o fa­moso dis­curso I Have a Dream com uma avas­sa­la­dora de­cla­mação dos úl­timos versos do tema: And when this hap­pens, when we allow fre­edom to ring, when we let it ring from every vil­lage and hamlet, from every state and every city, we will be able to speed up that day when all of God’s chil­dren, black men and white men, Jews and Gen­tiles, Pro­tes­tants and Catho­lics, will be able to join hands and sing in the words of the old Negro spi­ri­tual, «Free at last! Free at last! Thank God al­mighty, we’re free at last!».
É pos­sível en­con­trar o clip  do dis­curso em https://​www.you­tube.com/​watch?v=gevdV4L­vipQ

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Fer­nando Lopes-Graça (1906-1994)
– José Gomes Fer­reira (1900-1985)

Can­ções he­róicas

Num con­certo tão es­pe­cial como este, não po­deria faltar a pre­sença de um com­po­sitor por­tu­guês e, de entre todos eles, Fer­nando Lopes-Graça seria a es­colha mais na­tural.
Con­si­de­rando-se, a si pró­prio, nem um «com­po­sitor po­lí­tico» nem um «po­lí­tico com­po­sitor» — mas sim «um ar­tista (...) in­se­pa­rável dos com­pro­missos que, como ci­dadão, tinha com a “Ci­dade” e com a “Grei”» (ci­tação livre de um es­tudo de Te­resa Cas­cudo) — Lopes-Graça foi na­tural e ine­qui­vo­ca­mente, du­rante a sua vida, um exemplo de trato fácil e humor franco, con­ta­gi­ante ci­da­dania e fina ironia, in­te­gri­dade ética, ta­lento ar­tís­tico e em­pe­nha­mento po­lí­tico, mul­ti­fa­ce­tado e in­subs­ti­tuível no seu pen­sa­mento teó­rico e na pró­pria praxis mu­sical e abor­dando um es­pectro com­po­si­ci­onal ex­tre­ma­mente di­ver­si­fi­cado, que podia ir da obra or­ques­tral da mais trans­cen­dente mo­der­ni­dade até à mais «sim­ples» (mas ja­mais «fácil» e «óbvia») har­mo­ni­zação de uma canção re­gi­onal ou de um canto de in­ter­venção po­lí­tica.
É esta fa­ceta do grande Mestre de que hoje te­remos dois exem­plos, saídos do con­junto das Can­ções He­róicas, com­postas por Lopes-Graça para po­emas de grandes es­cri­tores e po­etas por­tu­gueses: Acordai e Jor­nada, ambas com po­emas de José Gomes Fer­reira.

 

Acordai
(Canção He­róica)


Acordai
acordai
ho­mens que dormis
a em­balar a dor
dos si­lên­cios vis
vinde no clamor
das almas viris
ar­rancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tu­fões
que dormis no ar
e nas mul­ti­dões
vinde in­cen­diar
de as­tros e can­ções
as pe­dras do mar
o mundo e os co­ra­ções

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de fa­róis
e acordai de­pois
das lutas fi­nais
os nossos he­róis
que dormem nos co­vais
Acordai!


Mais co­nhe­cidas na in­ter­pre­tação do Coro da Aca­demia de Ama­dores de Mú­sica — para o qual foram es­critas — com Olga Prats (piano), as Can­ções He­róicas datam de me­ados dos anos 40, quando Lopes-Graça adere ao MUD e, pouco de­pois, ao PCP. Ini­ci­al­mente, foram par­ti­cu­lar­mente edi­tadas em vo­lumes di­fe­ren­te­mente in­ti­tu­lados e des­ti­navam-se a ser can­tadas pelos re­sis­tentes po­lí­ticos an­ti­fas­cistas, em reu­niões clan­des­tinas de tra­balho e con­fra­ter­ni­zação po­lí­tica, ma­ni­fes­ta­ções e con­certos pú­blicos e até can­tadas nas pri­sões e no exílio pelos re­sis­tentes à di­ta­dura. Jor­nada, também com poema de José Gomes Fer­reira, foi uma das Can­ções He­róicas mais sig­ni­fi­cantes e mo­bi­li­za­doras.

 

Jor­nada  (Canção He­róica)

Não fi­ques para trás oh com­pa­nheiro
É de aço esta fúria que nos leva
Para não te per­deres no ne­vo­eiro
Segue os nossos co­ra­ções na treva.

Vozes ao alto, vozes ao alto
Unidos como os dedos da mão
Ha­vemos de chegar ao fim da es­trada
Ao sol desta canção.

Aqueles que se percam no ca­minho
Que im­porta? Che­garão no nosso brado
Porque ne­nhum de nós anda só­zinho
E até mortos vão a nosso lado.

Vozes ao alto, vozes ao alto
Unidos como os dedos da mão
Ha­vemos de chegar ao fim da es­trada
Ao sol desta canção.

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Dmitri Shos­ta­ko­vich(1906-1975)
Sin­fonia nº. 10 em Mi menor, op. 93
Al­legro (2º. An­da­mento)

Mais um exemplo da grande mú­sica russa/ /so­vié­tica, agora pelo traço sempre ins­pi­ra­dís­simo e sin­gular de um dos seus mai­ores com­po­si­tores — Dmitri Shos­ta­ko­vitch, Entre as suas 15 Sin­fo­nias, a Sin­fonia nº. 10, em Mi menor, op. 93, foi es­treada pela Or­questra Fi­lar­mó­nica de Le­ni­ne­grado, sob a di­recção de Yev­geny Mra­vinsky, em De­zembro de 1953, ou seja, nove meses após a morte de Jo­seph Stalin, em­bora não seja claro em que pe­ríodo da­quele ano o com­po­sitor lhe de­dicou maior tra­balho e em­penho com­po­si­ci­onal.
Trata-se de um dos mais bri­lhantes exem­plos da mul­ti­pli­ci­dade de in­fluên­cias e di­rec­ções es­té­ticas que ocu­pavam, pre­o­cu­pavam e ins­pi­ravam a trans­bor­dante ima­gi­nação do com­po­sitor, desde a grande tra­dição sin­fó­nica, até à evo­cação da mú­sica po­pular russa, sempre tem­pe­rada por uma ori­gi­na­lís­sima von­tade de mo­der­ni­dade.
Neste con­certo, a nossa atenção con­cen­trar-se-á na di­fi­cí­lima exe­cução do 2º. An­da­mento, Al­legro, um scherzo curto e im­pe­tuoso, tec­ni­ca­mente exi­gente pelo ob­ses­sivo uso das pas­sa­gens em semi-col­cheias e pela di­nâ­mica po­lir­ritmia e sin­co­pado da per­cussão.

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«Katyusha»
Mikhail Isa­kowsky/​Matwec Blanter

Um pouco por todo o Mundo, faz parte do ima­gi­nário poé­tico a fi­gura fe­mi­nina de noiva ou na­mo­rada que, es­pe­ran­çosa, aguarda o re­gresso do seu apai­xo­nado mo­bi­li­zado para a guerra em pe­ríodos de con­flitos mi­li­tares. No­me­a­da­mente na li­te­ra­tura e mú­sica po­pu­lares são inú­meras as fi­guras tra­di­ci­o­nais de jo­vens em torno dos quais se de­sen­volve uma vasta li­te­ra­tura de amor, afectos e des­gostos, fi­guras
e lendas.
Do can­ci­o­neiro so­vié­tico li­gado à II Guerra Mun­dial, duas can­ções deste pa­tri­mónio ga­nharam pro­jecção uni­versal – «Ka­linka» e «Katyusha», em grande me­dida graças à di­vul­gação pelos Coros do Exér­cito Ver­melho cri­ados por Boris Ale­xan­drov.
Ambos  di­mi­nu­tivos  afec­tu­osos de nomes fe­mi­ninos,«Katyusha» ga­nharia ainda outro sig­ni­fi­cado, fruto do apreço que a in­fan­taria so­vié­tica criou pela vi­a­tura equi­pada com múl­ti­plos lança-fo­guetes, ca­rac­te­rís­tica dos campos da ba­talha de 41-45.
Os ar­ti­lheiros do exér­cito ver­melho não nu­triam grande en­tu­si­asmo pelas «Katyushas», que ti­nham por pouco cer­teiras e mo­rosas no re­car­re­ga­mento, mas em com­pen­sação os  sol­dados russos e ale­mães con­si­de­ravam-nas de grande efi­cácia como apoio de ofen­sivas ter­res­tres e blin­dadas.

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«Ain’ That Good News»
Es­pi­ri­tual Negro (trad.)

De cri­ação anó­nima po­pular como a es­ma­ga­dora mai­oria dos temas es­pi­ri­tuais afro-ame­ri­canos, Ain’ That Good News existe em di­versas co­lec­tâ­neas com­pi­ladas ao longo no­me­a­da­mente do séc. xix, com vá­rias ver­sões quer na letra, quer na har­mo­ni­zação, cor­res­pon­dendo em geral aos es­tilos ca­rac­te­rís­ticos das re­giões do Sul dos EUA onde foram re­co­lhidas, man­tendo-se na­tu­ral­mente em todos o cunho re­li­gioso que en­cobre a la­men­tação e o pro­testo pela si­tu­ação es­cla­va­gista e de se­gre­gação ra­cial.
À se­me­lhança de ou­tros es­pi­ri­tuais que se tor­naram stan­dards de jazz e de rhythm & blues nas vozes de in­tér­pretes como Ella Fit­ge­rald, Paul Ro­beson, Aretha Fran­klin e muitos ou­tros, Ain’That Good News ga­nhou es­pe­cial po­pu­la­ri­dade a partir da gra­vação re­a­li­zada em 1964 pelo cantor Sam Cooke de que re­sul­ta­riam nu­me­rosos co­vers.
Adap­tado por Cooke numa si­tu­ação pes­soal par­ti­cu­lar­mente dra­má­tica (morte por afo­ga­mento do seu filho, então com 18 anos), o in­vulgar ar­ranjo in­cluindo não apenas o tra­di­ci­onal coro, mas também um vasto e com­plexo ar­ranjo ins­tru­mental que viria a in­flu­en­ciar o som ca­rac­te­rís­tico do R&B dos anos 60/​70, man­tendo até hoje enorme po­pu­la­ri­dade, quer na versão coral mais tra­di­ci­onal, quer nos mais di­versos acom­pa­nha­mentos  ins­tru­men­tais, desde o sin­gelo trio piano-baixo-ba­teria até a or­ques­tras mais ela­bo­radas como a da co­nhe­cida versão de Wynton Mar­salis para a or­questra do Lin­coln Center.

 

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Sergio Or­tega
«El Pu­eblo Unido Jamás Será Ven­cido»

Ambas da au­toria de Sérgio Or­tega Al­va­rado (1938-2003), fun­dador do grupo da Nueva Trova chi­lena Inti-Il­li­mani, as can­ções «El Pu­eblo Unido» e  «Ven­ce­remos» são se­gu­ra­mente os mais co­nhe­cidos temas do vasto can­ci­o­neiro criado du­rante o go­verno de Uni­dade Po­pular de Sal­vador Al­lende.
A frase que cons­titui o re­frão de «El Pu­eblo Unido», pra­ti­ca­mente re­ci­tado, muito con­tri­buiu para a ex­pressão da canção com ver­sões to­tais ou par­ciais em de­zenas de lín­guas. A pri­meira gra­vação re­a­lizou-se du­rante uma gi­gan­tesca acção de massas em San­tiago do Chile, es­cassos três meses antes do golpe de Pi­no­chet. Na data do golpe, Or­tega e o seu grupo en­con­travam-se em Paris, par­ti­ci­pando na Festa do L’Hu­ma­nité, vi­vendo no exílio até à sua morte, não apenas em França, mas em nu­me­rosos países (in­cluindo Por­tugal) onde par­ti­ci­param em inú­meras ini­ci­a­tivas de so­li­da­ri­e­dade com o Chile.

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Ludwig van Be­ethoven (1770-1827)
Co­ri­o­lano, op. 62, em Dó menor
(Aber­tura)

A aber­tura Co­ri­o­lano foi com­posta em 1807 por Ludwig van Be­ethoven para a tra­gédia te­a­tral do mesmo tí­tulo es­crita por Hein­rich Jo­seph von Collin (não con­fundir, por­tanto, com uma outra peça Co­ri­o­lanus, bem mais co­nhe­cida, de Wil­liam Sha­kes­peare, na qual Collin se ins­pirou).
Esta obra que, na sua cons­trução e evo­lução te­má­tica, segue a par e passo o de­sen­rolar da trama, foi es­treada em Março de 1807 num con­certo pri­vado no pa­lácio do Prin­cípe Franz Jo­seph von Lob­kowitz, e tem na­tu­ral­mente um único an­da­mento: Al­legro com brio. E brio é o que não falta, na­tu­ral­mente, na in­venção dos temas e no seu de­sen­vol­vi­mento e en­ca­de­a­mento, en­ri­que­cidos pela ma­es­tria das di­nâ­micas e da or­ques­tração, que não traem o génio do com­po­sitor.


Ludwig van Be­ethoven (1770-1827)
Fan­tasia Coral, op. 80, em Dó menor

É esta, sem dú­vida, a peça mais trans­cen­dente e ful­gu­rante de todo este con­certo de aber­tura.
Não apenas pela ge­ni­a­li­dade da mú­sica do grande Mestre de Bona mas porque es­tarão em acção, na sua ple­ni­tude e cer­ta­mente dando o má­ximo de si, numa obra de con­si­de­rável du­ração, a or­questra e o coro sin­fó­nicos, 4 so­listas vo­cais e ainda um so­lista de piano.
Fre­quen­te­mente as­so­ciada à 9ª. Sin­fonia de Be­ethoven, essa as­so­ci­ação não é apenas de­vida à si­mi­li­tude (ex­cluindo na­tu­ral­mente o piano-solo) dos exi­gentes dis­po­si­tivos ins­tru­men­tais e vo­cais que o com­po­sitor es­co­lheu para esta obra mas também a uma as­so­ci­ação ou pa­ren­tesco entre o tema prin­cipal da Fan­tasia e o do pró­prio Hino à Ale­gria com que ter­mina o 4º. e úl­timo an­da­mento da­quela sin­fonia.
A Fan­tasia Coral op. 80, foi com­posta em 1808 para um con­certo es­pe­cial de be­ne­fi­cência re­a­li­zado em 22 de De­zembro do mesmo ano na Aka­demie, no qual foram também es­tre­adas a 5.ª e a 6.ª sin­fo­nias, o 4.º Con­certo para Piano e Or­questra, assim como ex­certos da Missa em Dó Maior (!!!). Coisa pouca, por­tanto!  Nestas con­di­ções, Be­ethoven, com a apre­sen­tação de um tal re­per­tório e a pos­si­bi­li­dade de uti­li­zação de uma or­questra, um coro, quatro so­listas vo­cais e um pi­a­nista so­lista, tinha então à sua dis­po­sição o «ma­te­rial hu­mano» capaz de es­trear, ainda, esta Fan­tasia Coral, sendo di­fícil de ima­ginar o re­sul­tado final de um tal con­certo.
Para a exe­cução na Festa desta peça, con­vi­dámos os can­tores Ana Paula Russo, Cátia Mo­reso, Marco Alves dos Santos e José Cor­velo, bem como o pi­a­nista An­tónio Ro­sado, que es­tarão à frente da Or­questra Sin­fo­ni­etta de Lisboa e do Coro Sin­fó­nico «Lisboa Cantat», di­ri­gidos res­pec­ti­va­mente por Vasco Pe­arce de Aze­vedo e Jorge Car­valho Alves.


 


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Solistas

Ana Paula Russo (soprano)  Nasceu em Beja em 1959. Completou o Curso Superior de Canto do Conservatório Nacional e licenciou-se em Canto pela Escola Superior de Música de Lisboa. Estudou em Salzburg e Luzern com Elisabeth Grümmer e H. Diez. Trabalhou ainda com Gino...

Programa

Georges Bizet«L’Arlesiénne» n.º 2 – OrquestraGiusepppe Verdi«Va pensiero» da ópera «Nabucco»– Coro e OrquestraMikhail Glinka«Ruslan e Ludmilla», aberturaOrquestraÉtienne Nicolas MéhulPoema de Marie-Joseph...