«O povo vencerá»
O Partido Comunista Português condena a tentativa de derrubar a legítima presidente brasileira mas confia que, «com a solidariedade internacionalista», os brasileiros serão capazes de travar o golpe.
O PCP está solidário com as forças democráticas e progressistas
O Senado do Brasil aprovou, na quinta-feira, 12, por 55 votos a favor e 22 contra, o afastamento da presidente do Brasil. No mesmo dia, o PCP divulga um comunicado em que refere que nem a «degradante sessão da Câmara de Deputados de 17 de Abril» nem o posterior afastamento do presidente do Parlamento Eduardo Cunha pelo Supremo Tribunal Federal impediram o Senado brasileiro de «tomar uma decisão que, embora não encerrando o processo, implica a suspensão do mandato presidencial de Dilma Rousseff e a sua substituição pelo actual vice-presidente, uma personagem, essa sim formalmente acusada e reconhecidamente atolada em escândalos de corrupção, profundamente contestada pelo povo brasileiro e comprometida ao mais alto nível com a ofensiva golpista em curso».
«Perante uma tal situação, o PCP reitera a sua firme condenação das tentativas de sectores reaccionários e do imperialismo para, em revanche pela sua derrota nas eleições de 2014, derrubar a legítima presidente do Brasil e reverter a evolução num sentido favorável aos trabalhadores e às camadas mais frágeis da sociedade brasileira verificada nos últimos anos, com um processo de desestabilização e golpista, inseparável de projectos ditatoriais».
No texto, «o PCP reitera igualmente a sua solidariedade aos trabalhadores, ao povo e às forças democráticas e progressistas brasileiras que, numa situação particularmente difícil, enfrentando o poder do grande capital e a instrumentalização do aparelho de Estado e da comunicação social pelas forças golpistas, luta corajosamente em defesa da democracia e por políticas de progresso social e soberania».
Para o Partido, «a derrota dos objectivos dos sectores reaccionários e do imperialismo, sendo em primeiro lugar do interesse do povo brasileiro, é também do interesse de todos os povos, e em especial dos povos da América Latina e Caraíbas que se encontram confrontados com uma generalizada contra-ofensiva do imperialismo norte-americano para reconquistar as posições perdidas e tentar restaurar aquilo que insultuosamente chegou a designar por “pátio das traseiras dos EUA”».
«Saudando as poderosas manifestações populares contra o golpe e em defesa da democracia, o PCP exprime a sua confiança em que, contando com a solidariedade internacional, o povo brasileiro vencerá».
No Parlamento Europeu, o Grupo da Esquerda Unitária/Esquerda Verde Nórdica, que o PCP integra, considerou que «o procedimento para afastar Dilma Rousseff, presidente eleita do Brasil, é um passo decisivo imposto pela direita e a oligarquia brasileira para um golpe de Estado, com a interferência dos Estados Unidos».
Perigo
Após a votação que afasta por um máximo de 180 dias Dilma Rousseff, o seu vice-presidente, Michel Temer, assumiu a presidência do Brasil e constituiu um novo governo. A contestação não se fez esperar e depois dos protestos contra o golpe envolvendo milhares de pessoas, de entre os quais se destaca o realizado no dia da votação no Senado, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, outras manifestações e actos de repúdio ocorreram, dias 12 e 13, no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre ou Vitória. Domingo, 15, enquanto a Michel Temer era entrevistado pelo principal canal de televisão da Rede Globo, milhares de brasileiros fizeram soar panelas e tampas de tachos e gritaram «Fora Temer».
O executivo golpista iniciou funções dia 13. Cerca de metade dos ministros, para além do próprio presidente interino, são suspeitos ou estão acusados de corrupção e lavagem de dinheiro. No gabinete não existe qualquer mulher nem nenhum negro ou mestiço. Para encontrar um governo com semelhante perfil é preciso recuar a 1979, quando ainda vigorava no país a ditadura militar.
O titular das Finanças, embora sem adiantar detalhes, já confirmou a aplicação de várias medidas de «austeridade», designadamente em matéria fiscal, e o corte de direitos laborais e sociais.
O novo ministro dos Negócios Estrangeiros qualificou de manifestações esquerdistas as expressões de repúdio para com o golpe emitidas pelos governos de Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador, bem como pela Alba e a Unasul.
O novo responsável do Banco Central é um ex-funcionário do FMI, e o próprio Michel Temer está a ser denunciado pelo Wikileaks como homem de confiança e em permanente contacto com a CIA.