Março – mês da juventude, mês de luta!

Paulo Raimundo

Quis a his­tória que Março se cons­ti­tuísse no nosso País como um mo­mento maior da luta da ju­ven­tude, da afir­mação da sua his­tória, va­lores, ca­rac­te­rís­ticas e formas de or­ga­ni­zação pró­prias, sendo disso exemplo o Dia Na­ci­onal da Ju­ven­tude e o Dia do Es­tu­dante. A «ou­sadia» de acampar, pri­meiro, os pro­testos nas es­colas, de­pois, fi­zeram de Março um marco sim­bó­lico de uma luta de todos os dias.

Março é pela sua his­tória e acima de tudo pela sua prá­tica o mês da ju­ven­tude e da sua luta

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A 28 de Março de 1947 cen­tenas de jo­vens par­ti­cipam num acam­pa­mento em Bela Mandil, no Al­garve, or­ga­ni­zado pelo Mo­vi­mento de Uni­dade De­mo­crá­tica Ju­venil (MUD Ju­venil). Aquelas cen­tenas de jo­vens ti­veram a ou­sadia de se jun­tarem em plena noite fas­cista, num mo­mento de luta e si­mul­ta­ne­a­mente de con­vívio, para exi­girem li­ber­dade e de­mo­cracia para Por­tugal. Uma ou­sadia que foi forte e vi­o­len­ta­mente re­pri­mida pelas forças re­pres­sivas do re­gime fas­cista, ter­mi­nando com cen­tenas de de­ten­ções e pri­sões.

A partir desse dia, por ini­ci­a­tiva pró­pria e com as pró­prias ca­rac­te­rís­ticas da ju­ven­tude, a partir da sua ou­sadia e co­ragem, o mo­vi­mento ju­venil de­cretou o seu dia na­ci­onal. Nin­guém nem ne­nhuma ins­ti­tuição con­feriu aos jo­vens ou os pre­sen­teou com o dia na­ci­onal da ju­ven­tude: ele não surge por de­creto, nasce a partir da or­ga­ni­zação da ju­ven­tude, dos seus ob­jec­tivos po­lí­ticos, da sua luta e re­sis­tência.

De­vemos à co­ragem desses jo­vens a con­vo­cação do re­fe­rido acam­pa­mento e por esse meio a afir­mação e luta pela li­ber­dade e pela de­mo­cracia, mas acima de tudo de­vemos a todas as ge­ra­ções que se lhes se­guiram o as­si­nalar do dia na­ci­onal da ju­ven­tude, iden­ti­fi­cando em cada mo­mento os ob­jec­tivos de luta con­cretos a de­sen­volver.

Foi assim até à Re­vo­lução de Abril, foi assim em cada um dos mo­mentos que se lhes se­guiram, é assim nos dias de hoje. Num outro plano, o papel, ini­ci­a­tiva e in­cen­tivo das au­tar­quias CDU con­tri­buem para manter bem vivos e ac­tuais estes im­por­tantes mo­mentos.

Contra a pre­ca­ri­e­dade, sim à es­ta­bi­li­dade

Para o pró­ximo dia 31 de Março, a In­ter­jovem/​CGTP-IN con­vocou uma ma­ni­fes­tação da ju­ven­tude tra­ba­lha­dora a re­a­lizar em Lisboa. Vi­sando as­si­nalar o dia na­ci­onal da ju­ven­tude, a sua his­tória e con­teúdo, esta acção, à se­me­lhança de anos an­te­ri­ores, pro­cu­rará tra­duzir as exi­gên­cias, rei­vin­di­ca­ções e de­sa­fios que se co­locam no ac­tual mo­mento à ju­ven­tude.

A luta contra o de­sem­prego ju­venil, os baixos sa­lá­rios e a dis­cri­mi­nação de que os jo­vens são alvo, a des­re­gu­lação dos ho­rá­rios e da vida e o com­bate às inú­meras ex­pres­sões da pre­ca­ri­e­dade são ele­mentos que es­tarão pre­sentes na jor­nada de luta.

Esta acção as­sume par­ti­cular im­por­tância no ac­tual mo­mento po­lí­tico, no se­gui­mento do su­cesso do 13.º Con­gresso da CGTP-IN. Nos úl­timos quatro anos o mo­vi­mento sin­dical uni­tário sin­di­ca­lizou cerca de de­zas­seis mil jo­vens tra­ba­lha­dores e elegeu cen­tenas de jo­vens de­le­gados sin­di­cais. São nú­meros que tra­duzem o pres­tígio e a vi­ta­li­dade do pro­jecto sin­dical da CGTP-IN, nú­meros que na­tu­ral­mente tendo di­fe­renças de sector para sector em função das suas pró­prias ca­rac­te­rís­ticas, quase sempre tra­duzem uma re­a­li­dade ob­jec­tiva: onde há in­cen­tivo, aposta, ca­pa­ci­dade de in­ter­venção, acção e di­nâ­micas pró­prias dos jo­vens ac­ti­vistas sin­di­cais, me­lhores são os re­sul­tados no que diz res­peito à sin­di­ca­li­zação.

No pró­ximo dia 31 de Março es­tará pre­sente nas ruas de Lisboa o tes­te­munho da luta de­ci­siva que se trava em cen­tenas de em­presas, das vi­tó­rias al­can­çadas e a cer­teza de que a luta é para con­ti­nuar nas em­presas, lo­cais de tra­balho, nas ruas e também, sem ficar à es­pera, para forçar que no plano ins­ti­tu­ci­onal se con­cre­tizem novos avanços.

No pró­ximo ano, as­si­nala-se 70 anos do 28 de Março, dia Na­ci­onal da Ju­ven­tude. A data re­donda não é por isso mais im­por­tante do que os anos se­guintes ou o ano que em curso, mas cons­ti­tuirá cer­ta­mente uma opor­tu­ni­dade pri­vi­le­giada para dar a co­nhecer a mais jo­vens uma com­po­nente im­por­tante da sua his­tória e será, acima de tudo, um mo­mento ímpar para que o mo­vi­mento ju­venil as­suma mais uma vez nas suas mãos as suas rei­vin­di­ca­ções e exi­gên­cias pró­prias e a de­fi­nição dos ca­mi­nhos da luta a levar por di­ante.

Pela es­cola a que temos di­reito

Mais fi­nan­ci­a­mento; obras nas es­colas e fim das aulas em con­ten­tores; mais pro­fes­sores e fun­ci­o­ná­rios; re­po­sição do passe es­colar; contra as turmas su­per­lo­tadas; pri­va­ti­zação das can­tinas, bares e pa­pe­la­rias; não aos ele­vados custos de frequência do en­sino e ma­nuais es­co­lares – estas as rei­vin­di­ca­ções, entre ou­tras, que mo­bi­li­zaram os es­tu­dantes dos en­sinos Bá­sico e Se­cun­dário em mais uma acção na­ci­onal de luta re­a­li­zada no pas­sado dia 10 de Março.

Num pro­fundo mo­vi­mento de cons­trução a partir das ca­rac­te­rís­ticas pró­prias dos es­tu­dantes, das suas re­a­li­dades as­so­ci­a­tivas e dos inú­meros atro­pelos de­mo­crá­ticos nas es­colas, o mo­vi­mento es­tu­dantil levou por di­ante ini­ci­a­tivas pre­pa­ra­tó­rias em cerca de 95 es­colas com ac­ções muito di­versas, com des­taque para a re­a­li­zação de reu­niões ge­rais de alunos, o que por si não seria no­tícia, não fosse a brutal pressão, ten­ta­tiva de boi­cote e im­pe­di­mento da re­a­li­zação das reu­niões de alunos a partir de al­gumas di­rec­ções e di­rec­tores es­co­lares.

Ati­tudes an­ti­de­mo­crá­ticas que tal como em jor­nadas de luta an­te­ri­ores ti­veram no dia 10 de Março epi­só­dios pre­o­cu­pantes com di­rec­tores a ar­ran­carem faixas das mãos de es­tu­dantes, a co­lo­carem fun­ci­o­ná­rios ou se­gu­ranças a in­ti­midar quem pro­tes­tava ou até a chamar a po­licia à es­cola com o ob­jec­tivo de iden­ti­ficar os «pe­ri­gosos» alunos que fa­ziam a «pe­ri­gosa» exi­gência de me­lhores con­di­ções hu­manas e ma­te­riais nas suas es­colas.

Apesar de todos estes acon­te­ci­mentos, em cerca de 35 es­colas em vá­rios dis­tritos do País os es­tu­dantes não dei­xaram de se ma­ni­festar, en­con­trando em cada caso a forma de luta con­creta, afir­mando de forma clara a es­cola a que têm di­reito.

Foi uma luta que valeu pela sua pre­pa­ração, pelo dia em si, pelas vi­tó­rias al­can­çadas e acima de tudo pelas con­di­ções de criou para a sua con­ti­nu­ação. Uma luta que para além dos seus ob­jec­tivos con­cretos se in­seriu nas co­me­mo­ra­ções do dia do Es­tu­dante ao qual também se as­so­ci­aram os es­tu­dantes do En­sino Su­pe­rior.

Após uma in­tensa acção em di­versas ins­ti­tui­ções do En­sino Su­pe­rior, onde num curto es­paço de tempo se re­co­lheram mais de 7000 as­si­na­turas a exigir mais acção so­cial es­colar, no pas­sado dia 15 de Março os es­tu­dantes vol­taram à rua numa acção em Lisboa por mais fi­nan­ci­a­mento, contra as pro­pinas e o seu au­mento, pela re­po­sição do passe es­colar, por um novo re­gu­la­mento de atri­buição de bolsas e re­forço da acção so­cial es­colar, entre ou­tras rei­vin­di­ca­ções.

Luta de todos os dias

Na­tu­ral­mente que com ca­rac­te­rís­ticas e em cir­cuns­tân­cias di­fe­rentes, o mo­vi­mento es­tu­dantil, en­fren­tando hoje uma ofen­siva de grandes di­men­sões que está longe de ser co­nhe­cida pelas am­plas massas, não deixa ainda assim de trans­portar e le­vantar bem alto o le­gado de su­ces­sivas ge­ra­ções de jo­vens que es­ti­veram na frente de com­bate. Numa luta in­tensa e pro­lon­gada que pro­curou nos di­fe­rentes mo­mentos, a par da luta pela li­ber­dade, a uni­dade es­tu­dantil e a de­fesa das suas es­tru­turas nas mãos dos pró­prios es­tu­dantes, foi pos­sível em 1962 criar as con­di­ções para que nas ins­ti­tui­ções de En­sino Su­pe­rior e nas ruas se con­sa­grasse o dia 24 de Março como o dia do Es­tu­dante, contra a von­tade e ordem ex­pressa do go­verno fas­cista, que res­pondeu com uma brutal re­pressão sobre os es­tu­dantes.

As ac­ções de­sen­vol­vidas já este ano, os ob­jec­tivos que co­lo­caram e os es­paços que abriram para o fu­turo pró­ximo per­mitem deixar an­tever que as co­me­mo­ra­ções do dia do Es­tu­dante no pró­ximo ano – quando se as­si­nala o 55.º ani­ver­sário da data em­ble­má­tica – cons­ti­tuirão mais um im­por­tante mo­mento de luta do mo­vi­mento es­tu­dantil, que a partir das suas di­fi­cul­dades mas também das ca­pa­ci­dades que re­velam cer­ta­mente en­con­trarão as formas de as­si­nalar o seu dia, um dia para lem­brar a his­tória mas acima de tudo para, tal como no pas­sado, impor pela luta o pre­sente.

Março é pela sua his­tória e acima de tudo pela sua prá­tica o mês da ju­ven­tude e da sua luta. A ju­ven­tude é um dos alvos pri­vi­le­gi­ados da ofen­siva so­cial, eco­nó­mica e acima de tudo ide­o­ló­gica e são grandes os de­sa­fios que estão co­lo­cados aos jo­vens e às suas or­ga­ni­za­ções. A luta pelo acesso à edu­cação pú­blica, gra­tuita e de qua­li­dade; contra a pre­ca­ri­e­dade e pelo em­prego com di­reitos e pelo di­reito a viver e tra­ba­lhar no seu pró­prio país, cons­ti­tuem ta­refas que em grande me­dida estão nas mãos da ju­ven­tude. Essa luta que tendo um mo­mento alto em Março, mas é uma luta de todos os meses e de todos os dias.

 



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