Futuro e passado gloriosos
Os 95 anos do PCP foram comemorados sob o lema «Sempre com os trabalhadores e o povo – Pela democracia e o Socialismo», domingo, 6, num comício que encheu o anfiteatro da Reitoria da Universidade de Lisboa.
Uma demonstração de confiança na actualidade do ideal comunista
Durante o passado fim-de-semana, dezenas de acções assinalaram, em vários pontos do País, os 95 anos do Partido que é o da classe operária e de todos os trabalhadores e tem como objectivo a superação revolucionária do capitalismo.
Na iniciativa realizada ao início da tarde de domingo, em Lisboa, participaram o Secretário-Geral do Partido, Jerónimo de Sousa, e os membros dos organismos executivos do Comité Central Francisco Lopes, Jorge Cordeiro, José Capucho, Margarida Botelho e Armindo Miranda. Membros das direcções das organizações regionais de Lisboa (DORL) e Setúbal (DORS) do PCP, que acolheram o comício, também integraram a mesa. Dois deles – Luís Barata e Ana Gusmão – intervieram (ver caixa) antes do discurso de encerramento, no qual Jerónimo de Sousa frisou que este Partido «aqui está, ancorado na convicção da valia e actualidade de um Projecto que persegue o nobre ideal da emancipação e libertação da exploração dos trabalhadores e dos povos» (ver discurso na íntegra nas páginas seguintes).
Aniversário que o é, tem de ter espaço para a festa. Uma festa estribada na consciência das razões pelas quais o PCP chegou aos 95 anos. E para mais tendo assimilado como aqui chegou. Foi por isso uma festa onde sobressaíram orgulho, convicção e alegria.
Assim se percebe por que é que as canções populares e de intervenção interpretadas pela Banda do Andarilho, os primeiros a subirem ao palco, foram escutadas e cantadas como que a sublinharem a memória da luta e o projecto dos comunistas portugueses. Em particular o «Soneto do Trabalho», de José Carlos Ary dos Santos – «Das prensas dos martelos das bigornas / das foices dos arados das charruas (…)».
Aplausos – muitos; bandeiras rubras ao alto, depois, quando Luísa Ortigoso e Fernanda Lapa, apresentadas pelo também actor Fernando Tavares Marques, declamaram poemas de Jorge Feliciano, José Vultos Sequeira, Bertolt Brecht, Pablo Neruda. «Ao encontro do encontro», um poema de homenagem a Álvaro Cunhal da autoria de Manuel Gusmão, foi especialmente saudado.
Grande colectivo
Digno de realce, igualmente, o facto de a Aula Magna ter enchido por completo. E mais que isso, com militantes e amigos do PCP de pé nos corredores à falta de lugares sentados. O anfiteatro tem capacidade para mais de 1600 lugares e estava completo, totalmente lotado, insista-se, para que não fique sem contraditório testemunhal a versão dos que reportaram «umas centenas» de presentes. Contabilidade veiculada pela comunicação social que é propriedade da classe dominante, visando apoucar os comunistas, tem acusado o PCP.
E o facto de estarem mais de 1600 pessoas, numa sala em soalheiro dia de Inverno, a assinalar o 95.º aniversário do PCP, é um dado tanto mais importante de realçar quanto tal ocorre no contexto de uma intensa campanha de descredibilização da política e dos «políticos», fazendo pagar o justo pelos pecadores.
A mobilização do PCP é outra coisa, concedem até. É verdade. Mas isso não justifica que se apague e menorize uma materialização concreta dessa diferença, a qual, é exacto e rigoroso destacar, decorre do facto de, na forma, no conteúdo e objectivos, o PCP se distinguir no panorama político-partidário, suscitando ímpar capacidade de atracção. Ou mobilização militante, se se preferir, como aquela que esteve na Aula Magna, em número de fazer inveja e numa demonstração inequívoca de confiança na actualidade do ideal comunista e na justeza dos seus propósitos.
Luta – hoje como ontem
Luís Barata, da DORS, apresentou o comício, cabendo-lhe chamar os intervenientes. Começou, no entanto, por lembrar Álvaro Cunhal e «o contributo insubstituível que deu para a construção do Partido». Um Partido que não seria o que é sem aquele e outros destacados militantes e dirigentes comunistas, e cujo percurso e intervenção são expressão dos vínculos de sempre com trabalhadores e o povo, pela democracia e o socialismo, como, a propósito, se podia ler nas laterais do palco do comício.
Os militantes comunistas têm legítimo orgulho na história do Partido que é «indispensável, insubstituível e inseparável da luta», salientou, por seu lado Ana Gusmão, cuja intervenção antecedeu a do Secretário-geral do PCP.
«Hoje como sempre, os comunistas ocupam o lugar que foi o seu ao longo de 95 anos: a primeira linha nas pequenas e nas grandes lutas», prosseguiu a dirigente comunista do distrito de Lisboa, que aproveitou a ocasião para dali «saudar os milhares de trabalhadores que nos mais diversos sectores têm conquistado importantes vitórias».
Ana Gusmão sublinhou as movimentações das populações, realizadas ou em curso, em defesa dos serviços públicos e das funções sociais do Estado, e recordou as jornadas de reivindicação, protesto e comemoração agendadas. Iniciativas que não dispensam, antes pelo contrário, o empenhamento do grande colectivo partidário.
Mas «para que estejamos à altura da nossa responsabilidade histórica, sejam quais forem as circunstâncias, precisamos de cuidar da organização», advertiu Ana Gusmão, detalhando, em seguida, as múltiplas tarefas e desafios que convergem no necessário reforço do PCP.
Reforço do Partido em vários domínios que não é para ser nem para estar, mas para afirmar a intervenção, propostas e desígnio dos comunistas portugueses na actual etapa histórica: assegurar a concretização de «uma política alternativa, patriótica e de esquerda» que «abra as portas a uma Democracia Avançada, ao fim da exploração do homem pelo homem, a uma sociedade nova, justa e fraterna: o socialismo e o comunismo», concluiu.
O Partido da juventude
Numa intervenção pautada pelo conhecimento da realidade e pela determinação em transformá-la – do empenho na ligação às massas juvenis às medidas concretas tendentes a reforçar a organização e acção dos jovens comunistas portugueses, coube a André Martelo falar em nome da JCP.
O membro da comissão política da JCP lembrou que a actual situação da juventude resulta de «39 anos de política de direita de PS, PSD e CDS», partidos que «atacaram direitos vários dos jovens portugueses: do trabalho à escola, da cultura à saúde, do desporto ao associativismo. Enfim, para onde se vira um jovem, lá encontra uma dificuldade imposta pela política dos que optaram por servir os poderosos e o grande capital».
O tempo é, nesse contexto, hoje como ontem, de luta. Luta que tem como exemplo a desenvolvida pelo Partido «que foi, desde 1921, sempre o da juventude». O Partido «que nem o fascismo impediu de resistir» e que, «por muito que alguns queiram, não vai vergar». Nesse sentido, garantiu André Martelo, «a luta não parou, não pára e não vai parar». Com a força da juventude.