Responder a expectativas e problemas para uma vida melhor
A revisão da base de cálculo das contribuições para a Segurança Social pagas pelos trabalhadores independentes, no sentido de as mesmas serem calculadas em função dos rendimentos reais desses trabalhadores, constitui uma das propostas do PCP de alteração ao OE para 2016, cujo debate na especialidade tem hoje início na AR com desfecho, em votação final global, para o dia 16.
A resposta aos anseios das pessoas está presente nas propostas do PCP
Actualmente essas contribuições são calculadas a partir do rendimento auferido no ano anterior, ou seja, ficcionando um rendimento que pode já não existir. Daí a proposta do PCP para que ainda este ano o Governo tome as medidas necessárias à revisão dessa base de cálculo, de forma a que as contribuições dos chamados «recibos-verde» sejam calculadas em função dos rendimentos efectivamente auferidos.
Esta foi uma entre as cerca de três dezenas de propostas que o Grupo Parlamentar do PCP formalizou ao longo da passada semana, encontrando-se em todas elas subjacente a preocupação de responder a problemas imediatos e às expectativas dos trabalhadores e do povo português.
Isso mesmo foi sublinhado pelo presidente da formação comunista, João Oliveira, nas três conferências de imprensa para dar a conhecer as linhas gerais das principais propostas com a assinatura de deputados da sua bancada.
É o caso da proposta relacionada com a isenção de taxas moderadoras para doentes crónicos. Sem deixar de registar como positivas as medidas que nesta matéria constam já do OE, entende o PCP que os doentes crónicos devem ser considerados como tal para efeitos de isenção das taxas moderadoras e que essa isenção da taxa não esteja dependente da identificação da doença ou do acto médico em concreto. Recuperada é assim uma regra que fora revista pelo governo PSD/CDS.
Apoio aos desempregados
Entre as propostas na área das funções sociais do Estado para apreciação no debate em especialidade está também a criação de uma prestação extraordinária de apoio a desempregados que tenham terminado há um ano o acesso a prestações de desemprego.
Grande alcance tem também a proposta que pretende dar início ao processo de progressiva gratuitidade dos manuais escolares, assegurando esta gratuitidade já no próximo ano lectivo a todas as crianças que entrem para o primeiro ano do 1.º Ciclo, com a perspectiva de definição de um modelo de extensão progressiva a todos os ciclos da escolaridade obrigatória.
Melhorar pensões
Realce ainda para a proposta de aumento de 10 euros das pensões, proposta que será acompanhada de um projecto de lei que prevê ao longo da legislatura uma reposição progressiva do poder de compra perdido até 2015. Em paralelo, será apresentada outra iniciativa legislativa relacionada com o financiamento da Segurança Social.
Conter propinas
Travar o aumento das propinas no ano lectivo de 2016/17 é outro objectivo que o PCP pretende ver consagrado no OE para 2016.
Sendo conhecida a sua posição em defesa da eliminação das propinas, o que esta proposta visa é que no próximo ano lectivo seja introduzido um mecanismo que impeça o aumento das propinas, suspendendo a aplicação do regime de actualização automática que estabelece as balizas de valores dentro das quais as instituições do Ensino Superior podem fixar as propinas. Simultaneamente, pretende-se que o valor máximo da propina a aplicar em 2016/17 seja aquele que está em vigor no presente ano lectivo.
Artes e património
O reforço das verbas do orçamento no capítulo da Cultura, em particular no que se refere às artes e ao património, é outra proposta de grande significado, tendo em conta o quadro de asfixia financeira a que estas áreas foram sujeitas nos últimos anos. A proposta realoca dinheiro do Fundo de Fomento Cultural para a Direcção Geral das Artes (reforço de 1500 milhões de euros) e desafecta dois milhões de euros da dotação provisional (ao nível do Ministério das Finanças) do Ministério da Cultura para assegurar as verbas necessárias à contrapartida nacional de projectos de conservação e manutenção do património com financiamento comunitário.
Amas familiares
Em cima da mesa está também a proposta que defende a prorrogação por mais um ano da actividade das amas familiares da Segurança Social. Trata-se de trabalhadoras que se encontram numa situação de «grande precariedade, sujeitas ao regime de recibos verdes, sem qualquer perspectiva de estabilidade relativamente ao seu vínculo ou até de protecção numa situação de desemprego e que prestam uma actividade fundamental para a Segurança Social», assinalou João Oliveira, que receia que em resultado de uma decisão do anterior governo estas trabalhadoras sejam empurradas para o desemprego a partir de Agosto próximo. Por isso a proposta do PCP para que esse período de um ano que estava estabelecido entre 2015 e 2016 seja prorrogado por mais doze meses até que seja revisto integralmente o regime jurídico que enquadra a actividade destas trabalhadoras.
Em defesa das PME
A redução da taxa máxima do IMI de 0,5 por cento para 0,45 por cento é outra das propostas do Grupo comunista, que, por outro lado, em relação ao Plano Especial por Conta (PEC), propõe a redução do limite mínimo que é suportado pelas pequenas e médias empresas de 1000 para 850 euros. Essa perda de receita nas contas do Estado será compensada com o alargamento do limite máximo do PEC de 70 para 150 mil euros, informou o líder parlamentar comunista.
Integração de bolseiros
A integração na carreira científica dos bolseiros de investigação que satisfazem necessidades permanentes das instituições é outro objectivo que o PCP gostaria de ver plasmado no OE. Trata-se de definir desde já um plano para a integração gradual destes bolseiros de investigação científica no quadro do suprimento de necessidades actuais das instituições onde trabalham. O que se assiste hoje é a um panorama caracterizado pela existência de instituições que não tendo o pessoal necessário para a actividade de investigação científica acabam por recorrer a bolseiros para suprir essas necessidades de pessoal. «Com as dificuldades que isso coloca não só às próprias instituições, que acabam por nunca saber o pessoal com que contam para garantir o desenvolvimento da sua actividade, como também aos próprios bolseiros que não têm qualquer perspectiva de estabilidade do seu vínculo laboral e se vêem empurrados para uma situação de desprotecção social», observou a propósito João Oliveira num dos encontros com os jornalistas no Parlamento.
Subsistemas de saúde
Na mira do PCP está igualmente a diminuição em 0,5 por cento das contribuições dos trabalhadores para os subsistemas de saúde da ADSE, SAD e ADM, ou seja dos actuais 3,5 por cento para três por cento. Esta proposta de redução dos descontos feitos pelos trabalhadores da administração pública e pelos elementos das forças armadas e de segurança resulta da necessidade de reverter os aumentos brutais impostos pelo anterior governo do PSD/CDS. Aumentos, no caso da ADSE, que geraram excedentes que vão muito além das necessidades de financiamento do subsistema, como aliás reconheceu o próprio Tribunal de Contas. Quanto aos militares das forças armadas e agentes das forças de segurança da PSP e da GNR, os deputados comunistas lembram na nota justificativa da sua proposta de alteração que a inscrição nos subsistema das ADM e SAD é «obrigatória, uma vez que se trata de saúde operacional». Pelo que o acesso a estes subsistemas «não é um privilégio ou sequer uma faculdade», mas sim «um aspecto fundamental para garantir a operacionalidade destas diferentes forças». Daí o PCP entender que os militares e os agentes das forças de segurança não devem ser penalizados pelo facto de terem que ter um «subsistema de saúde que garanta rapidez e agilidade para não comprometer a componente operacional destas forças».
Agricultura familiar e pesca artesanal
Relevo especial merece a proposta que tem no incremento dos apoios à agricultura familiar e à pesca artesanal e costeira o seu principal desígnio. O que o PCP propõe é que haja uma alteração na provisão que já consta no OE relativamente à consignação da receita do imposto sobre os produtos petrolíferos (gasóleos específicos) para cofinanciar projectos com apoios comunitários nas áreas da agricultura familiar e da pesca artesanal. Ou seja, sendo certo que o OE já prevê que uma parte da receita do imposto sobre os combustíveis reverta para essa contrapartida nacional daqueles programas de financiamento comunitário dirigidos à agricultura e pescas, o que a bancada comunista preconiza é que essa consignação seja feita para projectos dirigidos à agricultura familiar e à pequena pesca, na medida em que são sobretudo estes os que mais sentem os impactos do aumento dos preços dos combustíveis.
Por mais justiça fiscal
Do lado da receita há também propostas do PCP que terão efeito na arrecadação de verbas nos cofres do Estado ou na diminuição da despesa, anunciou João Oliveira. É o caso, em concreto, do aumento da derrama estadual aplicada às empresas que têm lucros superiores a cinco milhões de euros, da criação de um imposto extraordinário sobre o património mobiliário superior a um milhão de euros, do alargamento da contribuição sobre o sector energético, bem como da proposta destinada a assegurar a reversão das PPP com o objectivo de reduzir a despesa do Estado com esses contratos ruinosos.