Liberdade, democracia e socialismo

Um combate sem idade

No 95.º aniversário do PCP, fomos conhecer dois militantes comunistas separados por 64 anos mas unidos num mesmo combate pela emancipação social e humana.

Américo Leal tem 94 anos e mais de sete décadas de dedicada militância comunista. Nídia Sousa tem 30 e aderiu ao PCP há cinco. Ele enfrentou a dureza da vida clandestina, conheceu as prisões do fascismo e foi protagonista da Revolução de Abril, esse luminoso período da história nacional. Ela é dirigente sindical e bate-se todos os dias em defesa dos anseios e aspirações dos trabalhadores do Parque Industrial da Autoeuropa, onde é operária. À primeira vista, percursos muito distintos.

Natural de Sines, Américo Leal, como tantos outros jovens do seu tempo, começou cedo a trabalhar como operário corticeiro e a sentir na pele a exploração capitalista e a opressão fascista. A consciência precocemente adquirida na dureza da vida e as tradições revolucionárias da família levam-no ao Partido, ao qual aderiu no Verão de 1943, pela mão do destacado dirigente comunista Militão Bessa Ribeiro. Estava, então, preso no Aljube, para onde fora enviado após ter sido capturado à saída da embaixada britânica em Lisboa, na qual tentou – sem sucesso – alistar-se nas forças aliadas que combatiam o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial. Uma vez em liberdade e após cumprir o serviço militar, foi organizar a luta dos corticeiros e pescadores de Sines, que há muito se encontrava sem ligação ao Partido na sequência da prisão de alguns dos militantes mais responsáveis. Em 1947, juntamente com a companheira, mergulha na clandestinidade, cortando com a terra, amigos e restante família.

A história de Nídia é naturalmente diferente, embora, tal como Américo Leal, também ela tenha tido um pai comunista cujos valores, reconhece, a influenciaram desde criança. Assim que pôde votar, fê-lo, e sempre na CDU e nos candidatos apoiados pelo Partido. A entrada para a fábrica, em 2006, e a posterior sindicalização foram fundamentais no percurso de Nídia Sousa até se tornar militante comunista. Depois das reuniões e plenários sindicais, do contacto com os trabalhadores e da participação em acções de protesto e luta reivindicativa, a presença em iniciativas do Partido surgiu como algo natural: «tomei consciência dos valores do Partido e da defesa que fazia dos direitos dos trabalhadores.» Inscreveu-se junto de um dirigente sindical comunista, o mesmo que vira nela um importante reforço do trabalho sindical.

Um mesmo combate

Ao longo dos 27 anos de vida clandestina, Américo Leal desempenhou um vasto conjunto de tarefas – na distribuição da imprensa do Partido, nas organizações regionais do Algarve, do Alentejo, do Norte, das Beiras, de Lisboa e da Margem Sul e no aparelho de documentação e passagem de fronteiras – e enfrentou múltiplos contratempos e contrariedades: o paludismo, a prisão da companheira (com o filho bebé) e de vários camaradas e os diversos períodos em que esteve sem ligação partidária foram apenas alguns dos mais marcantes, que recorda com emoção.

A seguir ao 25 de Abril (e depois de alguns dias em que, por orientação do Partido, se manteve na clandestinidade à espera que a situação política se clarificasse), teve breves passagens por Sines e pelo Porto, onde colaborou no processo de construção do PCP na legalidade, até se fixar na Margem Sul, onde era «mais conhecido dos trabalhadores». Em Maio de 1974, passou a integrar a Direcção da Organização Regional de Setúbal do Partido, onde esteve durante mais de 30 anos: teve um papel destacado no desenvolvimento da Reforma Agrária no distrito, foi deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República, participou no movimento de utentes e todos os anos vai às escolas contar às crianças e jovens da região como era o fascismo e o que foi a revolução.

O percurso militante da jovem operária da Inapal Plásticos tem sido sobretudo centrado no seu local de trabalho e na sua actividade enquanto dirigente sindical: é lá, na fábrica, junto dos seus colegas e dos restantes trabalhadores, que cumpre o seu papel de sindicalista... e de comunista.

Profundamente conhecedora da precariedade, dos baixos salários e das más condições de trabalho que reinam nas empresas do Parque Industrial da Autoeuropa, Nídia Sousa confia nos trabalhadores e na sua capacidade de, juntos e unidos em torno dos sindicatos, travarem a exploração e melhorarem as suas condições de vida. Foi isso mesmo, conta, que fizeram os operários de uma das empresas do parque, que conquistaram aumentos salariais significativos no momento em que se mostraram determinados em ir para a greve, ou os mais de 400 trabalhadores que nos últimos anos passaram a ter contratos efectivos.

A actividade da célula, o contacto com os militantes e a afirmação do Partido junto dos trabalhadores do Parque Industrial da Autoeuropa fazem também parte do dia-a-dia de Nídia Sousa.

Unidos por um ideal e um projecto

Uma diferença de idades de 64 anos constitui sempre um fosso considerável entre duas pessoas. Américo Leal e Nídia Sousa não constituem a este respeito uma excepção. A experiência de vida, as condições sociais, as referências culturais, tudo parece separá-los.

Porém, não é menor aquilo que os une: ambos dedicaram e dedicam o melhor das suas energias e capacidades à defesa dos interesses e aspirações dos trabalhadores e partilham um mesmo projecto de libertação e emancipação social e humana. Um e outro, na sua actividade militante, conheceram derrotas e vitórias e sentiram angústias e alegrias. Os dois vêem no Partido Comunista Português uma força jovem, capaz de responder aos desafios do presente e, sobretudo, com um radioso futuro à sua frente.

O primeiro a referir-se ao futuro foi Américo Leal, que deixou a «receita» para que este seja, como será, carregado de êxitos: basta que todos os militantes dêem ao Partido aquilo que podem, e a cada dia um pouco mais.




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