E as TV venderam sabonetes...

Mais de três meses depois da despedida de Marcelo da TVI é tempo de balanço. Se a TVI perdeu um dos seus ganha pão dominical, não parece haver azedume em Queluz de Baixo com o ex-comentador Marcelo. A campanha eleitoral que terminou no último domingo resultou num grande tributo mediático ao agora Presidente eleito.

Os últimos dias de campanha foram marcados por uma clara percepção de queda da dinâmica de vitória de Marcelo. A máquina bem oleada de manipulação foi preciosa, resumindo esses dias à «surpresa» da entrada da filha na campanha, seguindo na manhã eleitoral com nova visita «surpresa» do filho.

Foi uma campanha que durou até domingo. Ainda estavam portugueses a votar e já a TVI fazia uma perseguição ao automóvel de Marcelo, mostrando a imagem das traseiras do veículo, como se de um presidente eleito se tratasse. Não houve pudor nem respeito pelos votos ainda não contados e, particularmente, pelos açorianos que ainda não tinham feito a cruz no seu boletim de voto.

Mas a manipulação da opinião pública tem raízes muito mais profundas, começando nos 15 anos de comentário sobre tudo e sobre todos, particularmente na TVI. A mesma televisão que vende sabonetes, dietas e bengalas foi capaz, com um avultado investimento, de vender um candidato à Presidência. E por isso não foi ingrata na hora de ajudar a superar as pedras no caminho do candidato, promovendo-o e promovendo aqueles que na corrida eleitoral mais contribuíram para a sua eleição, preocupando-se com o seu quinhão de votos, com o ataque aos que faziam frente de forma consequente ao candidato da direita, e apagando e denegrindo a candidatura que pôs na campanha o cumprimento da Constituição com tudo o que ela consagra, afirmando os valores de Abril: a candidatura de Edgar Silva.

Usemos, por isso, a TVI como exemplo. A dia 15 diziam-nos que precisavam de dicionário para entender Edgar porque utilizava termos como canga ou paladino. O discurso do candidato de Abril não se entende, diziam-nos. Talvez a densidade da campanha de Marcelo, assente numa sucessão de idas a pastelarias, a degustação de pastéis e enchidos, em engraxar sapatos faça mais o género da TVI, de exigência de TV do Big Brother.

Talvez por esta pretensa ignorância, a dia 19 diziam-nos que Edgar tinha muitas palavras para quem encontrava na rua mas poucas sobre matéria de governação. Talvez não fossem as palavras que a TVI esperava, mas esta foi simultaneamente uma campanha de massas, como nenhuma outra, e uma campanha que se dirigiu aos problemas dos trabalhadores, às questões que mais afectam a vida dos portugueses.

O ataque à candidatura vinculada aos valores de Abril e à Constituição teve o seu momento alto em Faro, mais uma vez pela mão da TVI. Era a campanha mais cara, diziam-nos, com insinuações de recolha de fundos ilegal, «debaixo do casaco» e a «fugir das câmaras». Não resistiram mesmo ao ataque desbragado ao PCP, o «partido do envelope», e aos seus militantes e amigos que contribuíram para esta campanha.

Foi uma campanha desigual, talvez mais do que outras por que já passamos. Já ressurgem ecos do discurso do fim do PCP, tão velho como o Partido. Mas é com a confiança de que é justa a causa por que lutamos que estivemos, estamos e continuaremos a estar nos combates a que formos chamados.




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