Agressão saudita ao Iémen

Crimes sucessivos

As Na­ções Unidas con­denam o bom­bar­de­a­mento de um hos­pital da Mé­dicos Sem Fron­teiras (MSF) no Norte do Iémen. O ataque ocorre quando a Arábia Sau­dita está a ser acu­sada de usar bombas de frag­men­tação na cam­panha mi­litar no país.

Arábia Sau­dita é sus­peita do uso de bombas de frag­men­tação

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Em co­mu­ni­cado di­vul­gado se­gunda-feira, 11, o se­cre­tário-geral da ONU, Ban Ki-moon, la­mentou a morte de quatro pes­soas e o fe­ri­mento de ou­tras dez no ataque ocor­rido na ci­dade de Saada, lem­brou que os hos­pi­tais e o pes­soal mé­dico gozam de pro­tecção ex­plí­cita no acervo legal in­ter­na­ci­onal, e in­sistiu na ne­ces­si­dade de pôr fim a uma guerra que tem de­vas­tado o ter­ri­tório ie­me­nita. Cerca de 80 por cento da po­pu­lação do país está numa si­tu­ação de de­pen­dência de ajuda hu­ma­ni­tária, e a agressão sau­dita já terá pro­vo­cado cerca de seis mil ví­timas mor­tais, me­tade das quais civis, de acordo com dados apu­rados pela or­ga­ni­zação. 
O má­ximo ti­tular das Na­ções Unidas não atribui o bom­bar­de­a­mento à co­li­gação li­de­rada pela Arábia Sau­dita, mas o facto é que, o ano pas­sado, in­ci­dentes se­me­lhantes en­vol­vendo ins­ta­la­ções de saúde da MSF (em De­zembro em Taez e em Ou­tubro também em Saada), foram da res­pon­sa­bi­li­dade das petro-mo­nar­quias que desde Março de 2015 in­tervêm ile­gal­mente no Iémen.
Do­mingo, 10, a MSF também não era capaz de de­ta­lhar se o míssil que atingiu o centro mé­dico tinha sido lan­çado pela avi­ação de Riade, mas su­bli­nhou que a uni­dade clí­nica se en­contra numa zona con­tro­lada pelos grupos que com­batem a cam­panha mi­litar en­ca­be­çada pela Arábia Sau­dita.

Armas proi­bidas

O bom­bar­de­a­mento de um dos oito hos­pi­tais que a or­ga­ni­zação hu­ma­ni­tária fran­cesa gere no Iémen su­cede quando a Arábia Sau­dita é sus­peita do uso de bombas de frag­men­tação no ter­ri­tório. No do­mingo, 10, um alto co­mando sau­dita veio a pú­blico negar a acu­sação. Antes, o se­cre­tário-geral das Na­ções Unidas lem­brou que, a con­firmar-se o uso de bombas de frag­men­tação, «pode cons­ti­tuir um crime de guerra». Ban Ki-moon ma­ni­festou-se também muito pre­o­cu­pado pelos re­latos que in­dicam uma vaga mas­siva de bom­bar­de­a­mentos in­dis­cri­mi­nados na ca­pital ie­me­nita, Sanaa.
O res­pon­sável da ONU co­locou uma nu­ance ao res­salvar que seria crime o uso da da­queles pro­jéc­teis proi­bidos «em zonas po­vo­adas». A ver­dade é que um tra­tado in­ter­na­ci­onal da­tado de 2008 veta o uso da­quelas mu­ni­ções em ab­so­luto.
Sem nu­ances, a Human Rights Watch res­pon­sa­bi­liza a Arábia Sau­dita pelos bom­bar­de­a­mentos em Sanaa a 6 de Ja­neiro úl­timo, e ga­rante pos­suir provas do uso de bombas de frag­men­tação. Num re­la­tório re­cente, o Alto-Co­mis­sa­riado da ONU para os Di­reitos Hu­manos de­nun­ciou a co­li­gação árabe pelos mesmos mo­tivos e as­se­gurou que pre­serva des­pojos das re­fe­ridas bombas.

Im­pe­ri­a­lismo apoia es­ca­lada

Face às de­nún­cias do uso de ar­ma­mento proi­bido no Iémen e às exe­cu­ções de pri­si­o­neiros con­de­nados na Arábia Sau­dita (já vai em 51 desde o início do ano, e de uma só vez foram exe­cu­tados 47 acu­sados de «ter­ro­rismo»), o go­verno ca­na­diano está a ser pres­si­o­nado a der­rogar um con­trato de venda de armas a Riade, no valor de cerca de 13 mil mi­lhões de dó­lares. O exe­cu­tivo de Otawa res­ponde que se esse fosse o cri­tério dei­xa­riam de ne­go­ciar com muitos par­ceiros, «al­guns bem pró­ximos».
A re­fe­rência aos EUA foi clara. A ad­mi­nis­tração norte-ame­ri­cana, por seu lado, também não se livra de res­pon­sa­bi­li­dades nos crimes su­ces­sivos co­me­tidos no Iémen. Não apenas porque con­firmou, no final de 2014, um ne­gócio mi­li­o­nário de mu­ni­ções com a Arábia Sau­dita, mas ainda porque no re­la­tório da HRW se de­talha que pe­daços de bombas de frag­men­tação fa­bri­cadas nos EUA foram en­con­trados após os bom­bar­de­a­mentos de 6 de Ja­neiro em Sanaa.
Chegou a ser dado como um facto que nos ata­ques contra a ca­pital ie­me­nita a em­bai­xada do Irão tinha sido atin­gida. Tal não foi ca­bal­mente con­fir­mado. No en­tanto, as re­la­ções entre os dois países com in­te­resses con­tra­di­tó­rios no Iémen per­ma­necem con­fli­tu­osas, de­pois de a Arábia Sau­dita ter exe­cu­tado um clé­rigo xiita.
As duas po­tên­cias re­gi­o­nais en­con­tram-se de laços di­plo­má­ticos cor­tados. Uma série de países árabes de mai­oria su­nita também reviu as re­la­ções com o Irão, país que su­blinha que tal con­duta só agrava a tensão no Médio Ori­ente.




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