Kiev viola trégua
A Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) confirmou que observadores seus foram alvejados em Donetsk e denuncia a violação do cessar-fogo acordado em Minsk.
Em Dezembro multiplicaram-se as violações do cessar-fogo
O incidente ocorreu em Kominternevo, na autodenominada República Popular de Donetsk (RPD), durante a manhã de domingo, dia 27. Em resultado da agressão, os membros da missão tiveram de ser evacuados da localidade, denunciou o gabinete de imprensa da OSCE. Já a Agência de Notícias de Donetsk adianta que junto dos funcionários da OSCE estava o número dois do Estado Maior da RPD, o qual terá sofrido ferimentos ligeiros.
Esta terá sido a terceira vez durante o fim-de-semana do Natal que ataques atribuídos às forças fieis ao regime de Kiev violam o acordado em Minsk em Fevereiro de 2015, quando representantes do governo da Ucrânia e das república populares de Donetsk e Lugansk decidiram suspender as hostilidades militares no Leste do país e avançar para uma solução política.
Também de acordo com a agência noticiosa de Donetsk, bombardeamentos de artilharia pesada foram efectuados, horas antes do ataque aos observadores da OSCE, contra as localidades de Zaitsev (dividida a meio entre as partes beligerantes) e Trudovaya. No primeiro caso, pelo menos dois civis terão morrido, segundo noticiou a Agência de Notícias de Donetsk. No segundo, o responsável administrativo da vila mineira, citado pela mesma fonte, garantiu não haver vítimas mortais a lamentar.
Durante o mês de Dezembro multiplicaram-se as denúncias da RPD e da República Popular de Lugansk sobre violações do cessar-fogo por parte do regime de Kiev. Atentados testemunhados e reportados por observadores do Centro de Coordenação e Monitorização Conjunto e da OSCE, sobretudo contra a localidade de Gorlovka, os quais as autoridades de Donetsk e Lugansk defendem que demonstram que o governo ucraniano não pretende implementar os acordos de Minsk-2.
Os acordos, para além de um cessar-fogo e da retirada do armamento pesado da linha da frente, preveem a troca de prisioneiros e a alteração da Constituição da Ucrânia de forma a acolher o estatuto especial exigido pelas proclamadas repúblicas populares do Donbass, algo que Kiev recusa terminantemente.
Contexto belicoso
As provocações contra as autoridades antigolpistas e antifascistas do Leste da Ucrânia ocorrem num contexto de fascização crescente da Ucrânia, de que serve de exemplo a ilegalização do Partido Comunista da Ucrânia. O regime neo-fascista, por outro lado, prevê o aumento do descontentamento popular não apenas face às consequências económicas e sociais da suspensão do acordo comercial preferencial com a Rússia (fruto da opção por implementar um outro com a UE), mas igualmente perante aquelas que decorram da entrada em vigor do Orçamento do Estado para 2016. Precisa, assim, de um «inimigo» e de uma guerra para justificar e distrair as massas da sua própria penúria.
O pressuposto, elaborado de acordo com a receita do FMI mas com vários deputados a reclamarem não terem tido acesso ao documento senão horas antes da votação, foi aprovado dia 25 de Dezembro no Parlamento de Kiev, contemplando aumentos mínimos nos salários e pensões em contraste com o aumento abrupto generalizado dos preços de bens e serviços essenciais. O Orçamento assenta, também, na chamada reforma tributária, aprovada antes das festividades natalícias, consubstanciando um forte alívio fiscal para o grande capital e um confisco para os trabalhadores e as camadas populares.
O orçamento é de tal forma castigador para os trabalhadores e o povo ucraniano, que a ex-primeira-ministra e uma das cabeças-de-turco do golpe de Fevereiro de 2014, Yulia Timoshenko, não hesitou em qualificá-lo como uma «sentença para o país».
Nazi-fascistas desfilam em Mariupol
Cerca de cinco mil membros do batalhão de voluntários Azov e militantes nazi-fascistas desfilaram, dia 22, no centro da cidade de Mariupol. A marcha terminou junto à estátua a Sviatoslav I, erguida por iniciativa da organização paramilitar ao arrepio das autoridades da cidade, e consistiu numa demonstração de força e numa recriação das marchas das hordas hitlerianas, com tochas e insígnias usadas por divisões das SS nazis.
«Se pretenderam demolir o monumento, então que tentem», desafiou Andrey Beletsky, deputado e líder do Batalhão Azov, na concentração que visou, segundo os nazi-fascistas, glorificar a época em que a Ucrânia [o principado de Kiev, mais propriamente] «era temida pelos seus inimigos», tendo levado a cabo campanhas militares esmagadoras a Leste. Não restam, por isso, margem para dúvidas sobre o carácter belicoso da acção, designadamente quanto ao seu conteúdo de incitação ao ódio e à retoma da ofensiva contra as populações e autoridades autoproclamadas do Donbass, que se opuseram ao golpe violento que instalou em Kiev o actual regime.
O Batalhão Azov foi fundado em 2014 como corpo autónomo da Guarda Nacional Ucraniana, fundada na mesma altura, com o objectivo de integrar aqueles que serviram como tropa de choque e terror na deposição do governo da Ucrânia, entre Novembro de 2013 e Fevereiro de 2014.
Em Dezembro de 2014, um alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos acusou o Batalhão Azov de numerosos e graves crimes contra a humanidade, entre os quais tortura e liquidação física de opositores. Em Julho deste ano, o Congresso dos EUA obrigou a Casa Branca a excluir da previsão orçamental da Defesa para 2016, o financiamento da organização que titulou como «abertamente neo-nazi» e fascista. Em Agosto, porém, grupos afectos ao Batalhão Azov levaram a cabo na Ucrânia campos de treino militar para crianças perante a passividade das autoridades ucranianas, apoiadas pelo governo norte-americano.