Direita em minoria
As eleições legislativas em Espanha, realizadas no domingo, 20, abriram a possibilidade de pôr fim à governação da direita e formar uma nova maioria alternativa.
Eleitorado põe fim ao bipartidarismo em Espanha
O veredicto das urnas alterou radicalmente a composição do Congresso dos Deputados (parlamento de Espanha). O Partido Popular (PP) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), os dois partidos que nas últimas quatro décadas se alternaram sucessivamente no poder, perderam a hegemonia com o ascenso de duas novas forças que surgiram à esquerda e à direita: Podemos e Ciudadanos.
Ao mesmo tempo, o eleitorado de Espanha não só pôs fim ao bipartidarismo como sobretudo retirou a maioria absoluta à direita que governou o país desde 2011.
Assim, aritmeticamente, a soma dos deputados do PSOE, Podemos, Esquerda Unida e outras forças nacionalistas e independentistas garante apoio suficiente à formação de um governo alternativo aos partidos da direita.
O Partido Popular, de Mariano Rajoy, sofreu o maior revés da sua história, passando de uma maioria absoluta de 185 deputados, em 2011, para os actuais 123, embora se mantenha como a força mais votada, com 28,72 por cento dos sufrágios.
Seguiu-se o PSOE, de Pedro Sánchez, com 90 deputados e 22,01 por cento dos votos. Não obstante ser o partido com maior representatividade à esquerda do parlamento, o PSOE registou o seu pior resultado de sempre, muito abaixo dos 110 deputados obtidos nas anteriores eleições, em que os socialistas já tinham averbado uma pesada derrota.
Por seu turno, o partido Podemos, liderado por Pablo Iglesias, conquistou 42 lugares, aos quais se juntam outros 27 deputados, eleitos em diversas coligações, nomeadamente na Catalunha. Aqui a lista Comú Podem elegeu 12 deputados, vencendo o escrutínio em número de votos e de deputados. Na comunidade Valenciana, a coligação Compromís-Podem-Es el moment elegeu nove deputados, enquanto a lista En Marea, na Galiza, conta agora com nove eleitos no Congresso.
No total, o Podemos e as coligações que integra elegeram 69 deputados, alcançado mais de 20 por cento dos votos.
O Ciudadanos, partido emergente na área da direita, elegeu 40 deputados, obtendo 13,93 por cento dos votos, resultado que terá ficado abaixo das expectativas do seu líder, Albert Rivera, bem como dos prognósticos da generalidade das sondagens, inviabilizando a formação de uma maioria com o PP.
Maioria alternativa
Por outro lado, a formação de uma plataforma parlamentar que sirva de base à formação de um governo alternativo à direita não dispensará o apoio de outras formações, como é o caso da lista Unidad Popular-IU (Esquerda Unida), encabeçada por Alberto Garzón, que recolheu mais de 923 mil votos (3,67%) e elegeu dois deputados.
Há ainda que contar com o deputado eleito pela Coalición Canaria, formação que já hoje governa nas Canárias com o PSOE, com o eventual apoio da Esquerda Republicana da Catalunha, que dispõe de nove deputados, da Democràcia i Llibertat (Catalunha), que elegeu oito deputados, do Partido Nacionalista Basco, com seis deputados e do Bildu (País Basco) com dois deputados.
Uma coisa parece clara: o eleitorado de Espanha votou pelo fim das políticas de direita, pela recuperação dos direitos sociais, do emprego e do poder de compra, fortemente atingidos pela receita de austeridade aplicada nos últimos anos. A concretização dessa vontade depende agora de complexas negociações, com resultado incerto. Mas algo já mudou na Espanha.