Tempo de mudança
Os ideais do Partido Comunista Português não estão em causa e os tempos de mudança que se vivem exigem muita convicção política, afirmou o Secretário-geral do Partido. Jerónimo de Sousa esteve no sábado, 7, em duas iniciativas no distrito de Beja, participando num almoço na Vidigueira e na sessão de reabertura do Centro de Trabalho do PCP em Beringel.
«Os ideais do Partido não estão em causa», realçou Jerónimo de Sousa
«O País vive um tempo de mudança e o PCP está pronto para colaborar nessa mudança», considerou Jerónimo de Sousa na Vidigueira. Acrescentou que «os ideais do Partido não estão em causa e os dias que se vivem exigem muita convicção política». E insistiu que o PCP «não perde a identidade, tem uma só cara e uma só palavra», os direitos dos trabalhadores «não são negociáveis e é por eles que o Partido vai continuar a bater-se».
O Secretário-geral comunista falava perante duas centenas de pessoas no final de um almoço, no Centro Multifacetado de Novas Tecnologias da vila alentejana. Estava ladeado por dirigentes partidários nacionais, como Luísa Araújo, do Secretariado do Comité Central, e Miguel Madeira, do Comité Central, responsáveis concelhios e autarcas locais como Maria Gante, Manuel Narra e José Soeiro, e o deputado João Ramos, eleito pelo distrito de Beja.
Jerónimo de Sousa explicou que o PCP não foi para a batalha dos encontros para a formação de um novo governo, com toda a complexidade que isso coloca, «à procura de lugares». «Para nós, o importante é saber que política é que esse governo deve fazer e desse lado estaremos subscrevendo tudo aquilo que é positivo para os trabalhadores e para o povo, resistindo àquilo que é negativo e não interessa ao povo português», assegurou.
Para o líder do PCP, a evolução da situação política nacional nas últimas semanas confirma três factos.
O primeiro é que PSD e CDS-PP em minoria não têm condições para formar governo e aprovar o seu programa.
O segundo é que há uma maioria de deputados, que constitui condição bastante para a formação de um governo de iniciativa do PS, que permita a apresentação de um programa, a entrada em funções para a adopção de uma política que assegure uma solução duradoura.
E o terceiro aspecto relevante é existirem condições para «dar resposta urgente a problemas e aspirações dos trabalhadores e de vastas camadas da população vítimas da política de exploração e de empobrecimento dos últimos anos».
Para Jerónimo de Sousa, PSD e CDS-PP não querem aceitar que não há outra saída que não seja a de respeitar a vontade da maioria que existe na Assembleia da República, que rejeita a continuação de um governo desses dois partidos da direita.
«Não querem aceitar que a única saída, conforme a Constituição, é aquela que for a vontade expressa da maioria dos deputados na Assembleia da República e que Cavaco Silva terá também de respeitar», disse, num recado enviado do Alentejo para o ainda ocupante do Palácio de Belém.
Centro de Trabalho
com paredes de vidro
Posteriormente, Jerónimo de Sousa juntou-se a cerca de 200 pessoas para a reinauguração do Centro de Trabalho do PCP em Beringel, concelho de Beja. Intervindo sobre a situação no País, sublinhou que a luta organizada encabeçada pelo Partido contribuiu para que a política de direita levada a cabo pelo Governo do PSD e PP «fosse derrotada e hoje estivéssemos a discutir outros caminhos, outras soluções governativas e uma política diferente em correspondência com os sentimentos dos trabalhadores e do povo português».
Antes, fazendo as honras da casa, discursou Vítor Pardal, membro da Comissão de Freguesia de Beringel e da Comissão Concelhia de Beja do PCP. Realçou o simbolismo de nesse 7 de Novembro se assinalarem os 98 anos da Revolução de Outubro. Recordou estar numa terra de destacados militantes comunistas, «com um papel relevante na luta antifascista e na reforma agrária». Lembrou, ainda, sobre o Centro de Trabalho agora restaurado, que tinha sido inaugurado em 1979 por Álvaro Cunhal. E terminou citando muito a propósito a obra O Partido com paredes de vidro, do então líder do PCP: «A maior alegria dos militantes comunistas resulta do êxito alcançado não para benefício próprio mas para benefício do povo».
Um magusto aberto à população marcou a reabertura do renovado centro de trabalho, que depois de dois anos encerrado agora estará disponível para os comunistas e ao serviço do povo beringelense.
O convívio foi acalentado por castanhas assadas, batata-doce e outras iguarias regadas com vinho, não faltando, claro, o cante alentejano, pelas vozes do Grupo Coral de Cantadores de Beringel.