Refinamento e boçalidade

A mediatização das campanhas eleitorais não é novidade, nem mesmo a cobertura desigual das várias candidaturas. Importa fazer um primeiro balanço das semanas que antecederam as eleições de 4 de Outubro, uma campanha em que o ataque à intervenção da CDU por parte dos media, não sendo tão ostensiva e declarada como no passado, teve particular expressão no comentário, na opinião e na fabricação de casos e polémicas – uma campanha mediática mais refinada e subtil.

Durante a campanha eleitoral, a CDU apresentou soluções para a vida dos trabalhadores e do povo e para romper com quatro anos de regressão económica e social imposta pelo Governo PSD/CDS. Desde iniciativas específicas sobre o sector do leite, pescas ou cultura, aos temas de cada dia – fosse a produção nacional, a segurança social, a precariedade ou as PME –, raramente foram tratados pelos media. Pelo contrário, foram criando e alimentando especulações, polémicas e preconceitos à volta da campanha da CDU, construindo, ao invés do simples apagamento, uma brutal vaga de desinformação.

«CDU bate com a porta na cara do PS» (Expresso, 26/09). Nessa edição lia-se: «Os socialistas são o inimigo número 1 desta campanha da CDU.» Nas televisões, particularmente na última semana, o PS era destaque. Pouco passava sobre as soluções que eram apresentadas para o País, tão pouco sobre a necessidade de consumar a derrota eleitoral de um governo que já estava politicamente derrotado. Procurou-se menorizar grandes iniciativas de rua, comícios preenchidos e grandes demonstrações de apoio à CDU atrás de polémicas virtuais com o PS.

«Campanha de um Homem só» (Expresso, 19/09). Uma semana antes resumia-se as muitas dezenas de iniciativas que diariamente e por todo o País a CDU realizava desta forma: «Jerónimo, Jerónimo, Jerónimo. A campanha da CDU não é feita de mais ninguém.» Sabemos bem que foram milhares os candidatos e activistas que construíram a campanha da CDU – como o Expresso soube mas não disse. E a conclusão surgiu de seguida: «Jerónimo tem 68 anos e há um mês que anda na estrada e o cansaço já pesa.» A verdade é que, até ao último dia de campanha, o Secretário-geral do PCP levava mais de 4700 km percorridos em campanha – mais 800 km que Costa, 900 km que Passos e 1400 km que Catarina.

«Nesta sala só há eleitores fiéis» (Primeiro Jornal, SIC, 24/09). O preconceito arreigado de que os candidatos, activistas, apoiantes e eleitores da CDU são uma massa estática e imutável surgiu, mais uma vez, nesta campanha. A imbecilidade atingiu os píncaros de novo nas páginas do Expresso, a dois dias das eleições, pela mão de Miguel Sousa Tavares: «Aquelas são assembleias de alheados da vida, de desistentes, gente totalmente desprovida de iniciativa ou vontade própria.» Foi com preconceitos como estes, uns mais boçais que outros, que procuraram esconder a realidade.

Realidade que veio ao de cima na noite de 4 de Outubro – com a derrota da política de direita e o alargamento do apoio à CDU: com mais votos, mais expressão eleitoral e mais deputados ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País.

 



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