«Aqui é quando entram os maus!», comentava um jovem para a sua parceira, ambos ouvintes atentos de um trecho da banda sonora de Guerra das Estrelas, composta por John Williams, que estava a ser (magnificamente) interpretado pela Orquestra Sinfonietta de Lisboa na abertura da Festa do Avante! 2015, na Quinta da Atalaia, Seixal.
Sebastião da Gama, poeta da Arrábida perto do lugar onde a Festa se faz, disse que «pelo sonho é que vamos». Na sexta-feira passada muitos terão dito «pelo filme é que vamos», partindo do(s) filme(s) em direcção à música sinfónica com o espanto de gostar de ouvi-la, vejam lá, afinal isto é porreiro, gostamos.
Entre os milhares de espectadores do concerto, de seu nome «A Festa Vai ao Cinema», ouvimos Domingos David, espectador sénior, a dizer-nos que estavamos perante «uma experiência muito rica e pedagógica», ora bem, estava tudo dito perante o facto de serem cativados para a grande música pessoas dela arredadas antes e a ficarem com outra ideia depois. E a acrescentar que «estes músicos devem sentir uma grande emoção quando vêem que têm aqui muito mais público do que nos outros concertos que fazem».
Pois sim senhor, é verdade. Richard, percussionista com oito presenças na Festa, cinco delas com a Sinfonietta, a dizer-nos «gosto muito. Adoro o ambiente»; André Santos, guitarrista da orquestra, à fala connosco: «é uma boa festa. Aqui o público está mais predisposto. É muito gratificante»; Vasco Pearce de Azevedo, maestro da Sinfonietta, repetindo que «é graticante» e acrescentando que «a Festa é magnífica!»
De outras músicas são Edmundo Silva, baixista de muitas bandas, desde os pré históricos «Conjunto Mistério» e os «Sheiks» e que ainda mexe e bem, e Inês Menezes, vocalista em concertos rock e punk. Ambos encantados com o concerto, na altura brilhava António Rosado no piano, o Edmundo, leninista, a dizer que «é também o povo a aprender. E o povo gosta de aprender. Sempre!», a Inês a classificar a orquestra («magnífica!») e a olhar em volta, «todas estas pessoas! É emocionante!».
Manuel Jorge Veloso, músico e crítico musical, escreveu neste jornal sobre o evento e antes dele: «música dos grandes mestres de todos os tempos, que o Cinema aproveitou para jogar com as estórias, as imagens, os bonecos, os ruídos ou mesmo outras músicas(...). Música que os grandes compositores de bandas sonoras inventaram». Foram essas músicas, de Richard Strauss, de Wagner, de Saint-Saens, de Maurice Jarre, de Prokofiev, de Berlioz, de Verdi, que os milhares de espectadores ouviram, numa noite fértil com músicos a tocar (e a vestir!) com rigor e a preceito, e uma vasta plateia a aplaudir com entusiasmo convicto.
«Este Wagner é genial», proclamava Cândido Mota depois de ouvir A Cavalgada das Valquírias, que Coppola usou em «Apocalypse Now», logo acrescentando «enquanto compositor, entenda-se!».
Do palco via-se um mar de gente. A música passeava-se por essa imensidão que ignorava a noite fria e se concentrava nas imagens sonoras que a memória filmava para guardar na letra C, de concerto, na pasta dos favoritos.
Quase a acabar, Elmer Bernstein e a sua banda sonora de Os Sete Magníficos. O número peca por defeito. Foram muito mais os «magníficos» da noite, dos intérpretes aos que, escutando, ouviram e, ouvindo, gostaram ou aprenderam a gostar. Muito.