- Nº 2171 (2015/07/9)

Oxi!

Opinião

No rescaldo do Referendo na Grécia – onde o «Não» teve uma vitória estrondosa – as televisões abarrotavam de comentadores. Um deles, Viriato Soromenho Marques, afirmava a dado momento que «a Europa fez autêntico bullying à Grécia», ao que a moderadora retorquiu «e vice-versa», coisa que Soromenho pulverizou dizendo, apenas, que «quem faz bullying é sempre o mais forte».

Este episódio revela o desnorte que se instalou nas televisões, conforme a «diminuta vitória» do início crescia a olhos vistos, instalando-se rapidamente nos 61 por cento do «Não» promovido pelo governo grego contra 39 por cento do «Sim», num universo de votantes que ultrapassou os 60 por cento.

O caso foi notório em José Gomes Ferreira e Luís Delgado na SIC Notícias, onde peroram com regularidade. Ora admitiam que «o governo grego obtivera uma maioria substancial» e «isso era um problema para as instituições europeias» (Delgado), ora se lançavam em cálculos furiosos de milhões sobre milhões de dívida «que tinha de ser paga, não há alternativa» (Gomes Ferreira), sem nenhum se aperceber que estavam a patinar em premissas que haviam acabado de ser liquidadas.

Em primeira linha, há que que assinalar a coragem e o espírito de luta do povo grego, que fez frente e derrotou em toda a linha o diktat arrogante de quem manda no euro, com enorme relevo para a Alemanha, que quis vergar até à rendição humilhante um povo que votara e escolhera democraticamente, primeiro, quem se comprometera a opor-se à política de desastre imposta há vários anos pela troika – e reduzindo à insignificância eleitoral os dois partidos do «centrão» que concretizaram essa política ruinosa; segundo, um Referendo, onde mais de 60 por cento votou «Não», contra a continuação da política de cortes generalizados.

Em segunda linha, ficou exposto o cariz totalitário da União Europeia e da Zona Euro.

Já foi pesadamente verdade que nunca perguntaram aos vários povos o que pensavam e se queriam as adesões sucessivas a vários Tratados que foram, entretanto, tirando paulatinamente autonomia aos países e aos povos membros, a favor do «governo da União».

Agora, através de um Referendo que os apanhou de surpresa – e os enraiveceu ao ponto de procurarem influenciar o «Sim» (a opção que aceitava as imposições da troika) por todos os meios, incluindo o brutal encerramento dos bancos gregos –, deixaram exposta a verdadeira face ditatorial.

A situação está fluída e pode mudar repentinamente. É certo que os EUA não querem a Grécia fora do euro por razões geo-estratégicas, mas os loucos não se extinguiram na Alemanha e correlativos e o capitalismo, efectivamente, só costuma ceder à força...


Henrique Custódio