Cerco imperialista à Rússia
A Federação Russa considera que o plano dos EUA para colocar milhares de soldados e material de guerra nas suas fronteiras representa «o mais agressivo passo do Pentágono e da NATO desde a Guerra Fria».
A NATO incrementou em 80 por cento as manobras militares na Europa Oriental
A concretizar-se o plano dos EUA, a Federação Russa não terá outro remédio senão reposicionar parte do seu aparato bélico ao longo dos limites ocidentais do território, disse, segunda-feira, 15, o general russo Yury Yakubov. O oficial sénior do Ministério da Defesa reagia assim às informações avançadas pelo New York Times (NYT), que no sábado, 13, informou que Washington prepara o estacionamento de pelo menos 5000 soldados, peças de artilharia e tanques na Europa de Leste, nomeadamente nas três repúblicas do Báltico (Estónia, Letónia e Lituânia), na Polónia, Roménia e Bulgária.
O projecto foi já confirmado pelo ministro da Defesa polaco. Em entrevista à agência de notícias nacional, no domingo, 14, Tomasz Siemoniak adiantou que o tema esteve entre os que discutiu com o secretário da Defesa norte-americano Ashton Carter, durante a sua visita a Washington, a 19 de Maio.
Siemoniak, citado pela Lusa, sublinhou ainda que o seu país tem «vindo a trabalhar a favor de uma presença militar norte-americana maximizada na Polónia e em todo flanco Leste da NATO», e que «os Estados Unidos estão a preparar um pacote com diversas medidas. Entre elas, a colocação de armamento pesado na Polónia e em outros países», acrescentou.
Também no domingo, o responsável lituano da Defesa atestou a prontidão de Vilnius para acolher parte do contingente dos EUA. De tal modo que os pressupostos infra-estruturais para a colocação de tropas e equipamento norte-americano estão quase cumpridos, disse Juozas Olekas à Reuters.
Decisão próxima
Nas declarações à estatal de notícias, governante polaco Tomasz Siemoniak realçou, igualmente, que Washington lhe garantiu que «uma decisão será tomada em breve». Com efeito, de acordo com o NYT, que cita fontes norte-americanas e «aliadas» sob reserva de anonimato, a proposta terá ainda de ser aprovada pelo Departamento de Defesa e pela Casa Branca, mas tal deverá suceder nos próximos dias, considerando a intenção de levá-la à reunião da Aliança Atlântica agendada para o final deste mês.
Apesar de vários países aliados dos EUA temerem a reacção da Rússia, segundo frisa o jornal nova-iorquino, os EUA pretendem concretizar, tão brevemente quanto possível, o compromisso de «reforçar a defesa colectiva na Europa», decorrente da cimeira que o bloco político-militar imperialista realizou em Setembro do ano passado no País de Gales.
A suceder, esta será a primeira vez que os EUA enviam armas pesadas e militares para as fronteiras da Rússia desde o fim da chamada Guerra Fria, e logo com um dispositivo semelhante ao imposto no Kuwait antes do início da primeira Guerra do Golfo, em 1990.
Washington nunca escondeu tal objectivo, sobretudo desde 2004, quando a Estónia, a Lituânia e a Letónia foram absorvidas pela NATO, mas um tratado com a Federação Russa estipulando que a organização atlântica não estacionaria contingentes militares significativos e em permanência nos novos países membros era um obstáculo.
A guerra na Ucrânia, desencadeada após a tomada do poder em Kiev por uma Junta Fascista, e as acusações de envolvimento da Rússia no apoio às forças antigolpistas no Donbass, atiçadas por Washington, criam um contexto alegadamente favorável para o projectado avanço militar.
Movimento insano
A crise ucraniana tem sido pretexto para diversas movimentações e operações agressivas do imperialismo, destacando-se a multiplicação de exercícios e jogos de guerra em clara afronta e ameaça a Moscovo. Serve de exemplo o simulacro que por estes dias decorreu no Mar Báltico envolvendo cerca de 50 vasos de guerra e 5600 militares de 17 países da NATO ou seus associados.
Num cálculo aproximado, só em 2014, a Aliança Atlântica incrementou em 80 por cento as manobras militares na Europa Oriental, detalhou, no passado mês de Abril, o general Andrey Kartapolov.
Mais recentemente, em entrevista ao diário italiano Corriere della Sera, o presidente Vladimir Putin reiterou que o Kremlin não só não é um agressor como não tem qualquer intenção de reforçar os seus mecanismos e presença defensivos fora das respectivas fronteiras. «Só uma pessoa insana pode imaginar que a Rússia atacaria a NATO. Penso que alguns países estão simplesmente a manipular sentimentos de medo das pessoas face à Rússia», concluiu Putin.