Fraude na «Transportes<br>de Lisboa»

Manuel Gouveia

Leio e não acredito: «O presidente da Transportes de Lisboa, empresa que consolida a Carris, o Metropolitano de Lisboa e a Transtejo/Soflusa». Como é possível mentir desta forma? Como é possível um jornal escrever uma mentira formal, um gestor público mentir descaradamente e um jornalista prestar-se a correia de transmissão deste tipo de desinformação?

Dir-me-ão vocês, e cheios de razão, que tinha eu obrigação de não ser surpreendido por este tipo de acontecimento, a comunicação social é hoje uma máquina de propaganda e não um instrumento de informação. Mas que querem, era o Diário Económico, e provavelmente influenciado pelas teorias do bom do Chomsky, eu ainda acreditava que havia nos jornais económicos um grau de rigor superior, pois os gestores do capital não poderiam cumprir a sua função com base nos produtos jornalísticos destinados a intoxicar as massas.

E qual é a mentira descarada? É que a Transportes de Lisboa juridicamente não existe. É uma simples marca. E como simples marca que é, não tem «Conselho de Administração», nem «consolida» nem foi «criada», nem sequer é uma «empresa». Dir-me-ão alguns: certo, mais uma mentira, são tantas, que importância tem esta?

Tem muita. Desde logo no que revela da falta de pudor e transparência que o Governo e seus «boys» estão a usar no processo em curso contra as empresas públicas de transportes. Mas principalmente porque esta mistificação é um elemento central de um conjunto de comportamentos ilegais, que vão desde a violação dos direitos das Comissões de Trabalhadores a sofisticadas técnicas de ataque à contratação colectiva existente.

A entrevista revela ainda uma outra fraude: a de que estão a preparar uma nova «operação financeira» para o metropolitano, desta vez não se chama «swap» mas sim «lease-back». E de que consta? Basicamente, em pegar no material circulante que é propriedade do Metro, oferecê-lo a uma multinacional e alugá-lo depois. E garantem-nos, com esse «lease-back» ainda se vai poupar mais milhões do que aqueles que outros prometeram poupar com as famosas «swaps».

Basta! O País não aguenta tanta fraude!




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