Faleceu anteontem Maria da Piedade Gomes, militante do Partido há 75 anos, boa parte dos quais como funcionária clandestina. Na nota emitida pelo Secretariado do Comité Central, destaca-se a «dedicada e corajosa militante comunista que desde muito jovem se entregou à luta em defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo português, contra a ditadura fascista, pela liberdade, o socialismo e comunismo».
Oriunda de uma família operária, Maria da Piedade Gomes nasceu a 10 de Dezembro de 1919 em Picassinos, no concelho da Marinha Grande. Bordadeira de profissão, cedo despertou para a realidade da exploração capitalista no ambiente operário da vila vidreira, onde, com apenas 15 anos, viveu de perto a insurreição de 18 de Janeiro de 1934. Pouco depois, casou com Joaquim Gomes, que se viria a tornar num destacado dirigente do Partido.
Em 1940, com 20 anos, aderiu ao PCP, assumindo tarefas de apoio à Direcção. Tornou-se funcionária em 1952, passando à clandestinidade com o seu companheiro Joaquim Gomes. Em 1958, a casa clandestina em que se encontravam, no Porto, foi assaltada pela PIDE e ambos foram presos. Maria da Piedade Gomes foi julgada em Março de 1961 e, sofrendo dois anos de condenação, acabou por passar seis anos na prisão de Caxias devido à aplicação sucessiva de «medidas de segurança».
Durante este período, não deixou de lutar contra as péssimas condições a que estavam sujeitas as presas políticas, sofrendo por isso castigos frequentes, incluindo o isolamento. Durante o cativeiro, a sua saúde degradou-se ao ponto de a sua vida correr perigo, o que motivou, em 1964, uma campanha nacional e internacional de solidariedade exigindo a sua libertação, que se concretizou através do pedido de habeas corpus.
Libertada em Setembro desse mesmo ano, Maria da Piedade Gomes regressou à clandestinidade 15 dias depois, permanecendo nessa condição até ao 25 de Abril. Depois da Revolução, destaca-se ainda na nota, prosseguiu «com grande dedicação a sua militância comunista», desempenhando tarefas de apoio ao Secretariado do Comité Central. A sua vida constitui, assim, uma «referência e um exemplo de mulher comunista que dedicou a vida à causa revolucionária do seu Partido de sempre».
O funeral de Maria da Piedade Gomes realizou-se ontem ao final da tarde, já depois do fecho desta edição.