culminou «Juventude em Marcha»
Geração com futuro na luta de todos os dias
A manifestação que assinalou o Dia Nacional da Juventude, no sábado, em Lisboa, foi o ponto alto de uma semana de intensa acção sindical de jovens e junto de jovens, a informar e mobilizar para a luta por trabalho com direitos, contra a precariedade e a exploração. Foi também uma afirmação de que muitos trabalhadores mais novos estão a tomar o seu lugar na luta de todos os dias, contra as injustiças de hoje e pela mudança de Governo e de política, para retomar os valores de Abril e assegurar melhores condições de trabalho e de vida.
Até nas ofertas de emprego do IEFP são desvalorizadas as qualificações
Para a Praça da Figueira, ponto de encontro para a etapa final da «Juventude em Marcha – Trabalho com Direitos! Contra a precariedade e a exploração!», jovens de todo o País trouxeram faixas, cartazes e palavras de ordem que, durante uma hora, estenderam em manifestação na baixa lisboeta, abraçando o Rossio e subindo pela Rua do Carmo até à Praça Luís de Camões. «Está na hora de o Governo se ir embora», «Queremos trabalhar, não queremos emigrar», «CGTP unidade sindical» ou «A luta continua, Governo para a rua» foram algumas das frases entoadas ao longo do desfile. Precariedade, discriminação, exploração, direitos, salários, futuro – foram das palavras mais carregadas nas faixas dos sectores e regiões.
De luta se tratou nas intervenções de Sérgio Sales e Arménio Carlos, no Camões.
O dirigente da Interjovem responsabilizou a «política trilhada pelo PS, pelo PSD e CDS» por obrigar a que o Dia Nacional da Juventude seja um dia de luta, «para dizermos a essa gente que estamos fartos de precariedade, de desemprego, de baixos salários, de horários desregulados, de repressão e chantagem», bem como de «POCs, formações, falsos recibos verdes e estágios não remunerados», «fartos de contratos-inserção, fartos de emigração». Lembrou que, abusando do trabalho temporário, «as empresas conseguem pagar cerca de 40 por cento a menos, em relação a um trabalhador efectivo, reprimem os trabalhadores para tentar impedi-los de usar os seus direitos e descartam-nos quando bem entendem». Dos dados do INE, que registam a destruição de mais de 240 mil postos de trabalho, desde 2011, Sérgio Sales destacou que «mais de 213 mil eram ocupados por jovens dos 15 aos 34 anos».
Depois de recordar resultados de lutas dos últimos meses e de trabalhadores que, como ele próprio, «organizados e por acção dos seus sindicatos de classe, viram os seus contratos a termo passarem a permanentes e hoje são trabalhadores efectivos», assinalou que «entram hoje estes trabalhadores nas suas empresas, de cabeça erguida, animando e demonstrando que é com a luta, nas suas várias formas, que os trabalhadores conquistam os seus direitos, e é exercendo-os que os defendem».
O Secretário-geral da CGTP-IN, por seu turno, começou por sublinhar a importância das acções realizadas durante a semana, para contactar milhares de jovens em empresas e serviços, esclarecê-los e ganhá-los para o combate pelos seus direitos e interesses, o que constitui «a melhor resposta ao Governo e ao patronato». Arménio Carlos observou que também a população expressou apoio à luta dos jovens.
Ao salientar o objectivo de erradicação da precariedade e do desemprego, alertou que a degradação da qualidade do emprego não é hoje apenas um problema dos mais novos, mas atinge todos os trabalhadores. A desvalorização das qualificações profissionais, que a CGTP-IN rejeita e combate, é notória até em ofertas de emprego divulgadas pelo IEFP, acusou Arménio Carlos, considerando que, só por si, isto já justifica a exigência de mudança de Governo e de política.
Notando que, em ano de eleições, os jovens sabem que promessas foram feitas e reconhecem as forças que traíram as expectativas de muitos, o Secretário-geral da Intersindical frisou que se vive um momento para intensificar a acção sindical e mobilizar ainda mais jovens para uma luta que é de todos os dias. Na dinâmica forte com que é preciso avançar, referiu as comemorações do 25 de Abril e apelou a uma grande participação da juventude no 1.º de Maio, 125 anos depois das primeiras manifestações do Dia Mundial do Trabalhador.
Solidariedade do PCP
em palavras e na acção
Para além da empenhada participação de muitos militantes e simpatizantes do PCP e da JCP nas iniciativas realizadas pela Interjovem e pela CGTP-IN nestes dias da «Juventude em Marcha», na manifestação em Lisboa esteve presente uma delegação da direcção do Partido, composta por Francisco Lopes (membro da Comissão Política e do Secretariado do Comité Central e deputado à Assembleia da República), Paulo Raimundo (da Comissão Política) e Rita Rato (deputada).
Solidário com a luta dos jovens e, em concreto, os objectivos desta jornada, o Grupo Parlamentar do PCP vai apresentar, nos próximos dias, um pacote de medidas de combate à precariedade, pelo emprego com direitos, anunciou Rita Rato. Em declarações aos jornalistas, adiantou que no Parlamento vão ser apresentadas propostas para que a um posto de trabalho permanente corresponda um vínculo efectivo, para a conversão dos falsos recibos verdes em contratos de trabalho, quando se trata de trabalho subordinado, e para um plano nacional de combate à precariedade, com levantamento de todas as situações e conversão de contratos precários em contratos efectivos.
Em marcha pelo País
A mobilização para a manifestação nacional intensificou-se na semana passada, com iniciativas em todos os distritos, dando realce a empresas e sectores com mais trabalhadores jovens e onde são mais sentidos problemas como os vínculos precários e os salários baixos, agravados pela persistência de elevados níveis de desemprego.
O arranque da «Juventude em Marcha», no dia 23, ocorreu em simultâneo nos distritos de Faro e Lisboa, como referimos no número anterior. O calendário da Interjovem incluiu, no dia 24, brigadas de distribuição de folhetos na Enercon, em Viana do Castelo; na Bosch e Delphi, na Amtrol Alfa e na Leonische, em Braga; nas câmaras municipais de Vila Real e da Régua e na Kathrein Automotive; na Faurecia, no Continente e no call center da PT, em Bragança; e no centro de atendimento da PT, em Beja.
Na quarta-feira, 25, foi dia de «roteiro da precariedade» em Viseu, contactos na Covilhã e Castelo Branco, distribuição de documentos em Elvas e na Hutchinson (Portalegre), plenário no call-center da EDP na Guarda e concentração no Hospital Sousa Martins. Em Évora, frente ao IEFP, numa concentração de manhã, chamou-se especial atenção para a exploração dos desempregados, através dos contratos CEI (emprego-inserção).
A 26 de Março, decorreram acções em São João da Madeira (centro comercial Oitava Avenida), Esmoriz (Cordex), Feira (concentração na Hubertricot, durante a greve de uma hora, por melhores salários) e Santa Maria de Lamas (contactos nas corticeiras Socori e Amorim & Irmãos); em Coimbra (no IEFP e no call-center da PT) e na Figueira da Foz (na Cofisa e em dois centros comerciais); em Leiria, na Key Plastics, e em Peniche, na conserveira ESIP; em Santarém (na EDP Distribuição e nas Carnes Continente) e Torres Novas (na base logística do Grupo DIA Mini Preço).
No dia 27, o «roteiro da precariedade» no Porto marcou o Arrábida Shopping e o Hospital da Arrábida, a Vodafone e o centro comercial Bom Sucesso, a PT na Boavista e a fábrica da Unicer.
Em Setúbal, esteve de manhã o Secretário-geral da CGTP-IN, com os trabalhadores da Lisnave e da Lisnave Yards que desfilaram da Praça do Quebedo até junto da Autoridade para as Condições do Trabalho, onde exigiram fiscalização efectiva para o pagamento do trabalho suplementar pelo valor devido; e com trabalhadores das autarquias locais e da Função Pública (Administração Central), que se reuniram na Praça do Brasil e foram em manifestação até ao IEFP, dando destaque à exigência de que seja posto termo ao emprego precário e à exploração dos desempregados, com concursos públicos para admissão de quem desempenha funções permanentes e está com contrato «emprego-inserção» (CEI). De tarde, decorreram acções na Autoeuropa, na Teleperformance e no centro comercial Alegro.