As armas ainda não se calaram na Ucrânia e a implementação das medidas acordadas no dia 12, em Minsk, pode estar comprometida, mas para já nenhuma das partes declarou o fracasso das negociações de paz.
Um ano depois do golpe de Estado das forças fascistas em Kiev, promovido e financiado pelos EUA e pela União Europeia – na sequência da recusa do governo legítimo da Ucrânia em assinar o acordo de associação com a UE, em Novembro de 2013 –, os confrontos entre golpistas e independentistas deixaram no terreno um rasto de morte e destruição que não será fácil de apagar. As profundas diferenças entre os que aceitam submeter-se aos ditames das potências imperialistas e os que não aceitam a submissão está de resto patente nas declarações e medidas que se seguiram às negociações de Minsk. Por parte de Kiev, é notória a tentativa de omitir das medidas a implementar as que contemplam as reivindicações das autoridades das Repúblicas de Donetsk e Lugansk, designadamente o seu estatuto, facto tanto mais preocupante quando se sabe que algumas dessas medidas têm de passar pela Suprema Rada (Parlamento) onde contam com a oposição já assumida das forças da extrema-direita. Já a UE, com a hipocrisia habitual, nem esperou pela entrada em vigor do cessar-fogo, à meia-noite de domingo, para implementar o novo pacote de sanções contra entidades russas e de Donetsk e Lugansk.
Nos EUA, por seu turno, Obama mantém em cima da mesa «todas as opções», enquanto o G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos), acolitado pelos presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, fez saber no dia 13 que aprova o «pacote de medidas para a realização dos acordos de Minsk», acrescentando de seguida que «está pronto para aplicar medidas oportunas» contra os que o violarem, em «especial contra aqueles que não observarem o total cessar-fogo e a retirada de armamentos pesados». Curiosamente, esta declaração surge um dia depois de o canal de TV alemão ZDF, citando «o porta-voz do exército ucraniano Andrei Lysenko, em Kiev», ter divulgado uma «notícia» sobre o alegado movimento de tanques e sistemas de mísseis russos para o Leste da Ucrânia, e mostrado uma imagem com a legenda «veículos blindados russos dirigem-se através de Isvarino, na região de Lugansk, 12 de Fevereiro de 2015». Sucede que, segundo informa o Deutsche Wirtschafts Nachrichten, a imagem é da Ossétia do Sul e foi tirada em 2009, como prontamente denunciou a Comissão Permanente Aberta de Monitorização dos Media, que apresentou uma queixa contra o ZDF por divulgação de informações falsas sobre a situação no Leste da Ucrânia.
Num contexto tão armadilhado como este, não é de estranhar que as autoridades das Repúblicas de Donetsk e Lugansk tenham declarado esta segunda-feira, 16, através de um comunicado conjunto dos seus representantes em Minsk, Denis Pushilin e Vladislav Deinego, que «qualquer movimento de Kiev em direção à NATO ou de qualquer outra aliança militar anti-russa é inaceitável para nós. Nesse caso romperemos imediatamente a colaboração com Kiev e consideraremos os acordos de Minsk como nulos».