Regresso da Guerra Fria

A Câ­mara dos Re­pre­sen­tantes do Con­gresso dos EUA aprovou na pas­sada quinta-feira, 4, uma re­so­lução contra a Rússia em que se exige o re­forço das san­ções a Mos­covo e se con­dena a «po­lí­tica agres­siva da Rússia contra as an­tigas re­pú­blicas so­vié­ticas da Ucrânia, Geórgia e Mol­dávia».

O do­cu­mento, apre­sen­tado pelo con­gres­sista Adam Kin­zinger em 18 de No­vembro, foi apro­vado logo a se­guir à men­sagem de Vla­dimir Putin à As­sem­bleia Fe­deral da Fe­de­ração da Rússia.

A re­so­lução, apro­vada por es­ma­ga­dora mai­oria, está re­di­gida ao me­lhor es­tilo da Guerra Fria, com re­fe­rên­cias à «agressão po­lí­tica, eco­nó­mica e mi­litar» da Rússia e exi­gên­cias de re­ta­li­ação, como o apoio ao exér­cito ucra­niano com meios de de­fesa e de vi­gi­lância, o fim das re­la­ções da NATO e dos seus ali­ados com a Rússia, e o au­mento da pressão sobre ou­tros países para que se juntem à «co­li­gação de san­ções» contra a Rússia. O texto – que es­can­cara a porta a nova cor­rida aos ar­ma­mentos – propõe ainda que os EUA exerçam uma «pressão agres­siva» sobre o pre­si­dente russo de forma a obrigá-lo a «com­portar-se de outra ma­neira».

De acordo com o pe­rito mi­litar Boris Po­do­pri­gora, ci­tado pela Voz da Rússia, Washington de­sen­terrou o ma­chado da Guerra Fria e tem vindo a ma­no­brar no seio da NATO de forma a si­len­ciar as vozes mais fa­vo­rá­veis a um en­ten­di­mento com Mos­covo. E se al­gumas per­sistem, con­si­dera o pe­rito, são pro­va­vel­mente para manter a imagem.

«Ne­nhuma das dis­cus­sões entre os ali­ados da NATO irão im­pedir os Es­tados Unidos, como prin­cipal país da Ali­ança, de to­marem em nome da Ali­ança Atlân­tica as de­ci­sões que eles pró­prios con­si­deram cor­rectas. Dessa forma, eu não diria que há qual­quer di­visão no seio da NATO. Re­al­mente, no con­texto de um pre­tenso con­senso, os Es­tados Unidos es­ti­mulam mesmo al­gumas de­cla­ra­ções de ca­rácter du­vi­doso, con­si­de­remo-lo assim. Mas isso está li­gado, mais uma vez, a uma de­ter­mi­nada linha po­lí­tico-in­for­ma­tiva e não à sua es­sência. Por­tanto, de­vemos se­parar a parte pro­pa­gan­dís­tica da parte que é pro­pri­a­mente de tra­balho.»

Se­gundo ou­tros ana­listas, as con­tra­di­ções no seio da Ali­ança não podem no en­tanto ser ig­no­radas. Ainda na re­cente reu­nião dos mi­nis­tros dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros dos países da NATO, o chefe da di­plo­macia alemã Frank-Walter Stein­meier ma­ni­festou a sua pre­o­cu­pação pela «au­sência, em con­di­ções de uma crise po­lí­tica, de me­ca­nismos de in­te­racção com Mos­covo».

Stein­meier apelou a que se «ul­tra­passe o es­tado ac­tual e se pro­cure so­lu­ções para o res­ta­be­le­ci­mento dos con­tactos com a Rússia». Esta po­sição não será alheia aos in­te­resses eco­nó­micos em jogo, já que as san­ções a Mos­covo têm um efeito de bo­o­me­rang na eco­nomia eu­ro­peia.




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